Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Matéria feita em parceria com @showcarsthe
A linhagem do Fiat Cinquecento (500, em italiano) é uma das mais longevas da fabricante de automóveis de Turim, na Itália. O primeiro pequenino com este batismo surgiu no ano de 1936 e ganhou o apelido "Topolino", como é conhecido na Itália o Michey Mouse. Este modelo, que tinha 3,21 metros de comprimento, foi produzido até 1955. Depois veio a segunda geração, que durou de 1957 até 1975 e é comumente chamada de "Nuova Cinquecento". Foi o menor 500 já fabricado, com apenas 2,97 m de comprimento. A Fiat aproveitou o nome Cinquecento em um compacto de formas mais quadradas e com 3,23 m de comprimento, feito de 1991 até 1998, que em seguida foi substituído pelo Seicento, com linhas mais arredondadas. Em 2007, chegou o 500 inspirado no modelo lançado exatamente há 50 anos, e que continua em produção na Polônia, com comprimento de 3,55 metros. Por fim, desde 2020 existe o Fiat 500 elétrico, que começou a ser comercializado no Brasil a partir do ano seguinte e é um pouco maior, com 3,63 metros de comprimento. Nesta matéria, contamos mais detalhes sobre o 500 Cult 2013.
O Cinquecento fabricado nos anos 90 (e sua evolução natural, o Seicento, que foi produzido até 2010) até eram automóveis simpáticos e pequenos, mas não tinham as feições arredondadas dos modelos clássicos. Até que, em 2004, a Fiat mostrou o carro-conceito Trepiùno no Salão de Genebra (Suíça). Muitas das linhas deste show-car acabaram sendo aproveitadas no modelo de produção em série, que estreou na Itália em julho de 2007. Aqui no Brasil, a montadora decidiu pela importação do modelo diretamente da Polônia a partir de outubro de 2009, com motor 1.4 16 válvulas, logo depois da chegada de outros compactos ao mercado nacional, como o MINI Cooper e o smart fortwo. Com preço nas alturas, o 500 inicialmente foi um carro para poucas pessoas.
A situação mudou a partir de agosto de 2011, quando o Cinquecento passou a ser trazido do México. O modelo passou a ter a opção de motor 1.4 8 válvulas Fire Evo para a nova versão de entrada Cult (que poderia ser equipado com câmbio manual ou automatizado Dualogic, ambos de 5 marchas) e o motor 1.4 16v MultiAir para as versões Sport e Lounge (a alternativa de visual esportivo poderia vir com câmbio manual ou automático com conversor de torque e 6 marchas, enquanto o Lounge sempre vinha com câmbio automático). Para completar, o momento do lançamento foi celebrado com a série limitada Prima Edizione. Os valores mais competitivos e a gama estendida de versões fizeram com que as vendas do subcompacto da Fiat saltassem de 1.284 unidades em 2010 para 15.925 exemplares em 2012.
Por fora, é inegável o charme do 500 desta geração, que carrega muitos elementos de estilo do modelo de 1957, como os faróis redondos, o logotipo da Fiat entre "bigodes" metálicos, o formato do capô, o vinco que percorre toda a lateral e as lanternas de formato vertical na parte traseira. O 500 Cult era a versão de entrada, e não tinha tantos cromados quanto na versão Lounge (que possuía frisos dos para-choques e capas dos retrovisores espelhados, além de faróis de neblina), mas o modelo básico mantinha o cromo nos filetes dianteiros, nas maçanetas externas e na régua da placa traseira. Além disso, as rodas de liga leve eram de 15 polegadas com estilo específico para esta versão, calçadas com pneus 185/55 (cuja pressão recomendada pela montadora é de 33 psi no eixo dianteiro e 30 psi atrás). No Cinquecento Sport, para-choques e rodas eram exclusivos.
O interior também é chique. A parte central do painel poderia vir na cor marfim ou vermelha. Havia duas opções de cor para os revestimentos dos bancos: em preto (neste caso, o volante e as alavancas de luzes e limpadores também eram pretos) ou em mescla de vermelho e marfim (com essa combinação, o volante e as alavancas da coluna de direção assumiam a cor marfim, como no carro desta matéria).
Revestido de couro com costuras aparentes, o volante de três raios conta com botões de atalho para som, telefone e comandos de voz no raio esquerdo, além dos comandos do cruise-control (controlador de velocidade de cruzeiro) à direita. Há também botões de ajuste de volume e faixa/estação "escondidos" na face interna dos raios do volante, assim como se tornou comum em outros modelos da Fiat. Uma haste do lado esquerdo permite o ajuste em altura.
O quadro de instrumentos é composto de círculos concêntricos. No aro mais externo ficam as luzes-espia; logo depois, o velocímetro analógico, que engloba o conta-giros. Este, por sua vez, incorpora uma tela redonda e monocromática com iluminação âmbar, que mostra nível de combustível, indicador da temperatura do líquido de arrefecimento do motor e as informações do computador de bordo, que podem ser alternadas através do botão Trip na ponta da haste dos limpadores. Incorpora as distâncias percorridas A e B, temperatura externa, data e hora, consumo de combustível instantâneo e médio A e B, tempo de viagem A e B, informações de som e autonomia estimada. Na parte direita da cúpula dos instrumentos há botões para ajustar internamente a altura do facho dos faróis entre os níveis 0 a 3 e acessar o menu com diversos ajustes.
O rádio/CD Player com MP3 e entrada auxiliar traz seis alto-falantes. Seu visor ao estilo "8-Bit" lembra como eram os sistemas de som automotivos antes da popularização das telas sensíveis ao toque dos sistemas multimídia.
Três teclas redondas ficam sob os comandos de som, para acionamento do modo Sport (que altera a assistência elétrica da direção, deixando-a mais firme, e uma resposta mais rápida ao acelerar; além disso, a luz indicadora de troca de marcha passa a atuar de forma menos frequente), pisca-alerta e desembaçador traseiro. Na versão Cult, o ar-condicionado tem operação manual, com quatro botões giratórios. Da esquerda para a direita, eles ajustam a temperatura, a intensidade da ventilação, a captação de ar externo ou recirculação de ar e o direcionamento do vento.
Logo abaixo dos comandos de ar estão a alavanca de câmbio (preta, com posições na cor branca) e os botões dos vidros elétricos, com função um-toque para baixo (para subir, é necessário apertar continuamente). No assoalho fica o console entre os bancos, que incorpora um grande círculo onde estão alojados variados porta-objetos (incluindo porta-copos dianteiros com laterais emborrachadas). Também estão nesta região a alavanca do freio de mão e mais dois porta-copos voltados para os ocupantes traseiros.
Os dois para-sóis contam com espelhos e tampas corrediças. No forro de teto, não há alças para os passageiros: somente pequenos ganchos na traseira. Entre as sombreiras ficam dois focos de iluminação. A parte esquerda do painel dispõe do botão "ESC Off" para desativação do controle de tração ASR (Anti-Slip Regulation), que integra o sistema de controle de estabilidade. Mais abaixo fica a alavanca vermelha para abertura do capô.
O acesso ao banco traseiro é feito por alavancas nas laterais dos bancos. Quando puxadas, elas permitem que o encosto recline ao máximo para a frente e, em seguida, o trilho do assento também seja deslocado para a frente - função descrita pela Fiat como "easy-entry". Mesmo com essa facilidade, a acomodação de adultos na parte de trás é quase impossível, pois os joelhos encostam nos bancos dianteiros. Já o espaço para cabeça até que é bom. Atrás, há dois bancos com encostos de cabeça e fixações Isofix para cadeirinhas infantis, além de um porta-revista atrás do banco do passageiro.
Em termos de acabamento interno, o Cinquecento não chega a transpirar tanta sofisticação nos materiais quanto no visual, já que existe uma abundância de plásticos rígidos no painel e nas portas, mas com variações de texturas. O material dos encostos de cabeça redondos, que lembra couro, tem boa qualidade. Há ainda tecido (bem fino, na cor vermelha) nos forros de porta dianteiros.
A lista de equipamentos de série também contempla direção elétrica, airbag duplo, freios ABS com EBD, controles de tração e estabilidade, Hill Holder (assistente de partida em ladeiras), banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro bipartido, retrovisores, vidros e travas elétricos, tomada 12 Volts no console central e porta-objetos sob o banco do passageiro, nas portas e no console entre os bancos. Dentro do porta-luvas, uma redinha de tecido e as entradas USB e auxiliar tornavam o habitáculo convidativo para encaixar o iPod ou o pen-drive sem chamar muita atenção. Outra redinha ficava no lado direito do início do console central, próximo do passageiro dianteiro.
A chave-canivete do 500 segue o estilo de outros Fiat, com o logo da marca incorporando o botão que permite guardar ou liberar a haste metálica. Há ainda botões para travar e destravar o veículo, bem como o comando para destravar a tampa do porta-malas.
Destravado por comando na chave ou por botão externo entre os focos de iluminação para a placa, o porta-malas tem a (diminuta) capacidade de 185 litros. O encosto do banco é bipartido, o que pode ajudar no transporte de cargas alongadas, e a parte interna da tampa vem com forração de carpete e tira de tecido para ajudar no fechamento. Seu tanque de combustível é igualmente pequeno: 40 litros. Na parte externa do assoalho fica o estepe com roda de 14 polegadas e pneu 135/80, mais fino do que os demais pneus e que deve receber 41 psi de pressão.
Com o motor 1.4 8 válvulas EVO Flex de 85 cavalos com gasolina e 88 cv com etanol, além do torque de 12,4 kgfm a gasolina e 12,5 kgfm a etanol a 3500 rpm, o 500 Cult não chegava exatamente a brilhar quando o assunto era desempenho. Segundo a Fiat, o modelo acelerava de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos (com etanol) e atingia a velocidade máxima de 172 km/h, resultados apenas razoáveis para um modelo com 1061 quilos em ordem de marcha. Um dos destaques do compacto da Fiat é a manobrabilidade: seu diâmetro de giro de apenas 9,1 metros é significativamente menor que o de um Mobi Trekking (10,0 metros), e olha que o 500 Cult é apenas 5 centímetros mais curto do que o hatch aventureiro da Fiat.
Ao longo do ano de 2016, o 500 se esgotou no mercado brasileiro. Ele ainda fez um "comeback" em agosto de 2017, mas retornou às lojas somente na versão Cult 1.4 8v manual, em um lote que também não durou muito tempo. Em setembro de 2019, a produção do modelo no México foi encerrada, mas esta geração ainda é fabricada na Polônia para abastecer os mercados europeus. Atualmente, a marca oferece o 500e, totalmente novo e puramente elétrico, em nosso Brasil.
Impressões ao dirigir
Apesar das dimensões de carroceria bastante enxutas, o Cinquecento nem parece ser um carro subcompacto para os ocupantes da frente. O volante tem aro até exageradamente grande, e o motorista guarda certa distância lateral do passageiro. Na parte de trás, aí sim o aperto para as pernas é indisfarçável. Nós do Auto REALIDADE já havíamos avaliado a versão nervosa Abarth em abril de 2016, mas esta foi a primeira vez em que dirigimos uma versão mais mansa do 500.
A direção é leve em manobras e traz a vantagem do curto diâmetro de giro. Além disso, o aro é bem ergonômico, com formato e textura agradáveis para as mãos. Seguindo a tradição dos carros da Fiat, o 500 consegue passar conforto em pisos irregulares, sem batidas secas.
Uma das maiores surpresas ao dirigir o 500 1.4 foi a boa entrega de desempenho na cidade desde baixas rotações do motor. Afinal, este motor nunca chegou a ser aclamado em outros modelos da Fiat, chegando a ser criticado em modelos como o Punto. Além disso, o Cinquecento pode até ser compacto, mas chega a ser cerca de 100 quilos mais pesado do que versões do Uno com motor 1.4. A resposta do pedal do acelerador é rápida, mesmo fora do modo Sport, e a desenvoltura para o uso urbano é bem perceptível. Nas estradas, os ânimos ficam mais contidos, e o subcompacto da Fiat mantém a velocidade de cruzeiro a cerca de 2500 rpm. Um recurso disponível nele para as pistas mais longas (e raro em carros com câmbio manual) é o piloto automático, operado por botões no raio direito do volante, que realiza automaticamente acelerações para manter o veículo na velocidade programada. O sistema atuou a contento mesmo em subidas.
A operação de câmbio do Cinquecento é tão boa que deveria ser adotada como padrão para os outros carros manuais da Fiat. O curso do pedal de embreagem não é tão longo e os engates são precisos, facilitados pelo fato de que a manopla de transmissão fica em posição bem elevada (instalada na parte inferior do painel, e não no console), o que contribui para a ergonomia. A partida pode ser feita sem o pé na embreagem (diferentemente da versão Abarth, que exige este ato) e a ré, atrás da quinta marcha, é engatada ao levantar uma arruela.
Para concluir...
O Fiat 500 é um daqueles produtos tão emblemáticos que é até difícil imaginar como seria a marca sem ele. É como o 911 para a Porsche, ou o Mustang para a Ford. Até hoje, é um carro que desperta simpatia e curiosidade nas pessoas, pelas suas dimensões enxutas e pelas linhas até hoje atraentes. O 500e dá continuidade a este legado - mas é um brinquedo para pouca gente.
Vem conferir a Galeria de Fotos do Fiat 500 Cult 1.4 8v 2013!
Comentários
Postar um comentário
Na seção de comentários do Auto REALIDADE você está livre para escrever o que você achou da matéria.
Caso você queira fazer perguntas maiores, incluir fotos ou tirar dúvidas, envie e-mail para blogautorealidade@hotmail.com
Sua opinião é muito importante para o Auto REALIDADE! Estamos a disposição no Facebook (http://www.facebook.com/AutoREALIDADE), no Instagram (http://www.instagram.com/autorealidade e no Twitter (@AutoREALIDADE).