Uma volta com a bruta Ford F-250 XLT 4.2 MWM Turbodiesel!



Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Matéria feita em parceria com @showcarsthe

No segmento de picapes grandes, Chevrolet e Ford enveredaram por caminhos distintos ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990. Enquanto a General Motors passou anos a fio comercializando as Séries 10 (A-10, C-10 e D-10) e 20 (A-20, C-20 e D-20), desenvolvidas especificamente para o mercado brasileiro, a Ford optou por oferecer aqui a F-100 e posteriormente a F-1000, razoavelmente alinhadas com as caminhonetes que estiveram disponíveis nos Estados Unidos, ainda que chegando ao nosso mercado com atrasos de alguns anos. Mas, na segunda metade dos anos 90, as duas montadoras acabaram recorrendo a projetos norte-americanos para oferecer novidades no segmento "full-size" de pick-ups.

A Chevrolet largou na frente, trazendo a Silverado para o mercado nacional a partir de 1997. Mas sua vida foi conturbada: ela chegou a ter as importações interrompidas para depois retornar, e acabou deixando de ser oferecida em 2001. Sua arquirrival, a Ford F-250, teve mais sorte e desfrutou de um ciclo de vida mais longo em território nacional.

Lançada em 1998 apenas alguns meses após estrear nos Estados Unidos, a F-250 chegou inicialmente nas versões SuperDuty, XL e XLT com o motor 4.2 V6 de 205 cavalos a gasolina ou o 3.9 Cummins 4 cilindros de 145 cv. Em 1999, passou a ter a opção do motor 4.2 MWM Sprint de 6 cilindros, turbodiesel, de 180 cavalos. A picape deu origem também aos caminhões F-350 e F-4000. Ambos tinham exatamente a mesma cabine da F-250, mas não havia caçamba, e a capacidade de carga era maior. O F-350 tinha "rodado simples", com duas rodas traseiras, enquanto o F-4000 vinha com "rodado duplo" ou dually (quatro rodas traseiras); além disso, o F-4000 tinha maior peso bruto total e capacidade de carga ampliada. A versão básica SuperDuty deixou de ser oferecida pouco tempo depois.

Em 2003 chegou a carroceria Cabine Dupla, até hoje a maior picape já fabricada no Brasil, com 6,25 metros de comprimento e 3,97 metros de distância entre-eixos, exigindo carteira do tipo C para condução. Curiosamente, ela já era produzida em nosso País dois anos antes, mas somente para exportação (para a Austrália).

Em 2006, a F-250 foi reestilizada, passando a ter nova grade, rodas redesenhadas, faróis totalmente translúcidos e, na parte interna, aparelho de som CD/MP3 Player MyConnection e instrumentos rearranjados com hodômetro digital. A maior novidade era a adoção do motor 3.9 MWM Maxpower, com injeção eletrônica common-rail e 203 cavalos. E, enfim, a picape passava a ter a opção da tração 4x4.

A F-250 resistiu no mercado sem maiores alterações até 2011, saindo de cena junto com o F-350 e o F-4000. Os dois caminhões fizeram um "bis" no mercado, ressuscitando em 2014, mas acabaram morrendo pela segunda vez em 2019 com o fim das operações da Ford na fábrica de São Bernardo do Campo. Após o fim da F-250, até o presente momento nunca mais se produziu uma picape grande no Brasil.

A F-250 XLT desta matéria é ano 2000 e modelo 2001, mas traz frente e emblemas dos modelos a partir de 2006, e dispõe do motor 4.2 MWM Turbodiesel. Na parte interna, foi adicionado um porta-copo próximo da tomada de força (de 12 Volts), e o rádio com CD Player foi substituído por uma central multimídia Pioneer AVH-A210BT, acompanhada de amplificador e caixas de som atrás dos bancos.

O visual da picape se destacava pelos cromados presentes ao redor da grade frontal e também nos para-choques dianteiros e traseiros. As rodas de liga leve de 16 polegadas eram sustentadas por oito parafusos e calçadas com pneus 265/75. A carroceria da F-250 cabine simples tinha 5,345 metros de comprimento (apenas 0,9 cm menor do que uma Ranger cabine dupla atual), 1,93 metro de altura e nada menos que 2,37 metros de largura, considerando os espelhos.

O interior da F-250 se destaca principalmente pela ampla área envidraçada do para-brisa (com mais de 3 metros quadrados) e das janelas dianteiras, com desníveis na parte frontal para melhor visualização dos graúdos retrovisores, com área de 387 cm³. E a picape é tão larga que há espaço para três adultos, sendo o banco do motorista individual e ajustável, e os outros dois assentos, inteiriços. Neste exemplar há ainda o revestimento de couro para os três bancos com costuras vermelhas, no lugar do tecido grafite "Michigan" de série.

Seu painel está a meio-caminho entre o de um carro e o de um caminhão. O volante de dois raios (com airbag disponível como opcional na versão XLT) foi estilizado para não atrapalhar a leitura do completo quadro de instrumentos da picape, que traz conta-giros com faixas vermelha e verde (esta última para indicar a rotação do motor de maior economia de combustível), velocímetro com hodômetros digital e total analógicos, além de indicadores de nível de combustível, temperatura do líquido do motor, pressão do óleo e indicador da tensão da bateria. Entre as luzes-espia havia a indicação de porta aberta.

Os comandos de faróis, incluindo o resostato das luzes internas, se concentram na parte esquerda do painel. Com isso, a Ford aproveitou para agrupar na haste esquerda da coluna de direção tanto os comandos de seta e farol alto como o acionamento dos limpadores de para-brisa (com posição de acionamento intermitente). A coluna de direção é regulável em altura através de uma haste no canto inferior esquerdo.

A chave de corpo fixo incorpora um chaveiro com botões para travamento/destravamento das portas e acionamento do alarme para localização do veículo. Já o tambor de ignição traz uma moldura plástica para melhor encaixe com a chave.

Como é comum em picapes e utilitários norte-americanos, não há freio de mão: para acionar o freio de estacionamento, há um quarto pedal no canto esquerdo para travar as rodas. Para liberar o freio de pé, há uma haste logo acima para ser puxada. A alavanca de câmbio, que parte do assoalho, é enorme para ficar mais próxima da mão direita do motorista, fator que, somado ao túnel da transmissão, acabam ocupando parte do espaço para as pernas de quem senta ao meio. À frente desta alavanca existem um porta-trecos aberto no painel (que acomoda bem um celular dos dias atuais) e o acendedor de cigarros com tampa de acesso ao cinzeiro.

As maçanetas internas das portas ficam "escondidas" junto aos seus puxadores. Os botões de vidros (com função um-toque para baixo na janela do motorista), das travas (L: locked; U: unlocked) e retrovisores elétricos também estão localizados no forro de porta (confeccionado em vinil e com refletores). Para facilitar o acesso do passageiro ao interior, existe uma alça fixa na coluna dianteira. O acabamento era simples e durável, sendo que a versão XLT trazia carpete no assoalho.

A lista de itens de série da versão XLT também incluía ar-condicionado manual (com modo de operação Max A/C, que utiliza o ar recirculado ao invés do externo), banco do motorista com regulagem manual de altura, para-sol do passageiro com espelho (para o motorista havia uma tira porta-documento), ajuste de altura dos cintos laterais, iluminação da caçamba, brake-light e tampa da caçamba removível. O pacote opcional D678 incluía airbag para o motorista, freios a disco nas quatro rodas com ABS no lugar dos tambores e antitravamento nas rodas traseiras e CD Player no lugar do toca-fitas com função de auto-rebobinamento do cassete. Protetor de caçamba e capota marítima eram acessórios disponíveis nas concessionárias Ford.

O motor 4.2 MWM Turbo Diesel de seis cilindros em linha, que atendia às normas Euro II e operava sob taxa de compressão de 17,8:1, tinha rendimento de 180 cavalos a 3400 rpm e 51 kgfm de torque a 1600 rpm, estando aliado ao câmbio manual de cinco marchas. O capô era sustentado por dois amortecedores. O tanque de combustível comportava 98 litros e o conjunto de suspensão dispunha de barra estabilizadora dianteira (junto com o esquema Twin-I-Beam) e eixo rígido traseiro antiderrapante com molas semi-elípticas.

Impressões ao dirigir

Na F-250, chamam a atenção, de cara, a altura da cabine em relação ao solo e a visão panorâmica transmitida pela ampla área envidraçada e pelos retrovisores - parece que estamos ao volante de um pequeno caminhão. Também impressiona a distância que o motorista fica do passageiro na extremidade direita. Na partida, a picape acorda emitindo um ronco rouco e com a grande vibração típica de veículos movidos a diesel. Depois de usar a mão para liberar a alavanca de freio de estacionamento e engatar a primeira marcha, você está pronto para partir... e também para engatar a segunda marcha.

A primeira velocidade da transmissão é usada basicamente para fazer a picape começar a se mover: ao mantê-la por mais tempo, chacoalhadas verticais acabam se manifestando. A picape aceita bem sair da imobilidade em segunda marcha. Os engates são até precisos, ainda que com grande movimentação da alavanca (ao menos ela fica próxima da mão direita), e a embreagem, com acionamento por disco simples e platô com mola diafragma, tem curso razoavelmente longo mas é fácil de ser manejada. A pouco mais de 50 km/h é possível engatar a quinta marcha (indicada na alavanca por um "D", de overdrive). O motor entrega bom vigor nas acelerações, mas é preciso ter cautela com suas dimensões e características, principalmente nas curvas e para se manter dentro da faixa de rodagem. 

A assistência da direção hidráulica é outra boa surpresa. Manobrar a F-250 é mais fácil do que parece: a leveza do volante, mesmo em baixas velocidades, é bem perceptível. O aro do volante é fino, mas seu material agrada ao tato; além disso, a folga na direção é considerável (um efeito da opção pelas esferas recirculantes). Também chamou a atenção a eficiência do funcionamento do ar-condicionado.

O conjunto de suspensão da F-250 é nitidamente voltado para o conforto e faz a picape "flutuar" sobre as irregularidades do piso, mas a traseira, com seu eixo rígido, costuma pular sobre as irregularidades. Os pneus de perfil alto colaboram com a filtragem de imperfeições do solo. 

Para concluir...

A Ford F-250 reúne atributos que a fizeram ser desejada entre os picapeiros até hoje. É uma utilitária de grandes dimensões (full-size), que talvez não caiba direito em qualquer vaga de estacionamento e exija paciência em retornos e curvas, mas que era dona de um estilo que marcou época e trazia mecânica robusta, capaz de resistir bem ao tempo mesmo com o passar dos anos (e dos quilômetros). Não é a toa que exemplares desta picape da Ford em bom estado de conservação estão atingindo valores mais elevados no mercado de usados.

Vem conferir a Galeria de Fotos da Ford F-250 XLT 4.2 MWM Turbodiesel!





Comentários