Texto e Fotos | Júlio Max, de Teresina (Piauí)
Completando treze anos em 2022, o Auto REALIDADE surgiu na internet praticamente ao mesmo tempo em que era revelada a primeira geração do Nissan Leaf, em 2009. No ano seguinte, a marca começou a expor o hatch elétrico também no Brasil, em eventos como o Inova Show: na época, nós chegamos a dar uma voltinha no modelo que representava o futuro do automóvel. Pois bem: tudo indica que o futuro daquela época já chegou. Afinal, o Leaf já é vendido regularmente no nosso País desde 2019 e, ao longo deste ano, nós do Auto REALIDADE já estivemos ao volante de quatro veículos elétricos. Ou melhor, cinco, pois agora é hora de dar uma volta com o Leaf 2023, que chega com novidades interessantes.
Nosso primeiro contato com o Leaf de segunda geração ocorreu há poucos meses, no final do mês de maio deste ano. Naquela época, a Nissan do Brasil convidou o Auto REALIDADE para fazer um percurso de aproximadamente 230 quilômetros pelas estradas de Pernambuco com o elétrico, que, três anos atrás, era vendido em apenas sete concessionárias no País inteiro. A partir de 2021, 44 autorizadas passaram a trabalhar com o hatch, e os planos de expansão continuam. Hoje, são cinquenta e uma concessionárias aptas a comercializar e prestar assistência técnica para o modelo.
Pouco tempo depois, em julho, a Nissan anunciou que o ano-modelo 2023 do Leaf estaria disponível em todo o Brasil. O hatch passou por uma reestilização leve, que dá um novo ar à carroceria estreada em 2017. Na dianteira, o cromado da grade superior em formato de V foi eliminado e o símbolo da Nissan foi atualizado (em nosso País, o elétrico é o primeiro modelo da marca a ter o novo logo). O fundo com estampas geométricas em azul deu lugar a uma superfície em cinza-escuro que revela paralelogramos e hexágonos por baixo da capa transparente. O para-choque dianteiro é o mesmo. No conjunto óptico, composto por luzes de LED nos fachos baixo, alto e para a iluminação de posição (mantendo lâmpadas halógenas para os piscas e para as luzes de neblina), a única novidade foi a adoção de máscaras escurecidas na região que circunda os projetores de luz.
Permanece idêntica a abertura dianteira com iluminação para conectar os carregadores, mas agora ela conta com a entrada do tipo 2 de sete pinos no padrão europeu (IEC 62196), mais comum nas estações de recarga pelo Brasil. Foi mantida simultaneamente a entrada do tipo 1 para carga (com tampa na cor preta).
Lateralmente, os logotipos "Zero Emission" na parte inferior das portas dianteiras foram suprimidos e o modelo 2023 estreia as novas (e polêmicas) rodas de liga leve de 17 polegadas, que mantiveram os pneus 215/50 Goodyear EfficientGrip Performance. Este ângulo evidencia o contraste de cores da carroceria: o Preto Premium, aplicado ao teto, colunas, aerofólio e capas dos retrovisores, convive com a tonalidade Cinza Shark (que estreou na Frontier PRO-4X).
Na traseira, as mudanças incluem a atualização do logo da Nissan, a supressão do emblema "Zero Emission" na tampa traseira e a eliminação do friso azul no para-choque - agora ele vem pintado na cor cinza. Há ainda alterações no formato dos defletores de vento nas caixas de roda e no difusor traseiro; o aerofólio da tampa do porta-malas também ficou ligeiramente diferente. As caixas de roda traseiras, aliás, são acarpetadas.
O sistema multimídia conta com tela sensível ao toque de 8 polegadas e espelhamento de tela de celular através do Android Auto e Apple CarPlay (sempre com cabo), além de rádio AM/FM, CD e MP3 Player. A interface do sistema é muito semelhante à presente nos demais modelos atuais da Nissan, com fundo azul e ícones na base da tela para acesso a menus. Além disso, o sistema operacional da central multimídia pode ser atualizado, desde que o carro esteja conectado a uma rede Wi-Fi de internet. Pela tela também é possível visualizar as imagens das câmeras que formam uma visão de 360 graus em torno do veículo. Esta visão "aérea", exibida no canto direito da tela, pode dar lugar à visão da câmera embutida no retrovisor direito, que facilita verificar o quão as rodas do lado direito estão próximas da calçada. A câmera em destaque pode ser a frontal ou a traseira, dependendo da posição de câmbio engatada, e exibe linhas de guia. O Leaf, assim como as versões mais completas de Kicks e Frontier, dispõe do detector de objetos em movimento, que destaca de qual direção está se aproximando uma pessoa ou um veículo.
Com zona única de temperatura e tela integrada, o ar-condicionado automático digital do Nissan Leaf regula a temperatura entre 16 e 30º C (de um em um grau Celsius). Tanto os bancos dianteiros quanto os bancos laterais traseiros são aquecíveis em dois níveis (Lo/Hi). Abaixo dos controles de ar, há um aviso luminoso que informa sobre a ativação (ou não) do airbag do passageiro dianteiro. Alternado pela lâmina da chave presencial, o switch on/off desta bolsa inflável fica dentro do porta-luvas (que é iluminado e dispõe de boa capacidade).
Hoje, o Leaf tem preço a partir de R$ 298.490, caso se opte pela carroceria na cor Preto Premium (sem custo adicional). Ao escolher o elétrico da Nissan nas outras cores disponíveis (Vermelho Magnético, Branco Diamond e o Cinza Shark do carro do nosso test-drive), o valor total passa para R$ 301.340. Qualquer que seja a cor escolhida, o teto, as colunas externas, as capas dos retrovisores e o aerofólio serão sempre pintados na cor Preto Premium. O Leaf tem garantia de 3 anos sem limite de quilometragem e 2 anos de assistência técnica 24 horas, enquanto o conjunto de baterias possui garantia de oito anos ou 160 mil quilômetros.
Impressões ao dirigir
Para dar a partida no Leaf, com o pé apertando o freio e a chave presencial dentro do carro, basta apertar o botão de partida e verificar se houve o acendimento da luz-espia verde com o ícone do carro com a seta de duas pontas (que indica que o elétrico da Nissan já pode ser conduzido). Depois, libera-se o pedal do freio de estacionamento com o pé esquerdo e move-se a alavanca de câmbio para a posição Drive. Quando a partida é feita, a sensação é de que o veículo continua somente com a ignição ligada. E é possível pensar que o pedal do freio de estacionamento vai atrapalhar o posicionamento do pé esquerdo do motorista, mas na verdade é possível repousar bem o pé no apoio à esquerda do assoalho. Com o tempo, acionar o freio "de pé" se torna quase tão natural quanto usar o freio de mão.
À princípio, o manejo da alavanca de transmissão pode parecer complicado; no entanto, com o uso, ela se revela bem prática. Operada de forma shift-by-wire, basta segurar a alavanca com dois dedos (e não com toda a mão, como é mais comum) para movê-la às direções desejadas até que a posição de câmbio seja alcançada. Em um carro elétrico, não se sente a necessidade das marchas de uma transmissão comum, porque o veículo vai sempre ganhando velocidade de forma linear quando o acelerador é pressionado, graças ao torque disponível instantaneamente.
Em baixa velocidade, o silêncio é tanto que às vezes é possível ouvir o barulho dos pneus. Mas, em condições de estrada, o barulho de vento, o ruído (baixo e agudo) do motor elétrico e o som do ar-condicionado em funcionamento fazem com que o nível de ruído do Leaf na cabine não fique tão distante assim de um carro a combustão em rotação baixa e com bom isolamento acústico.
Uma das grandes curiosidades estava na experimentação do retrovisor interno por câmera. Precavido, preferi de início usar somente o espelho tradicional (cujo ângulo de visão é ligeiramente maior do que um retrovisor tradicional). Mas o "espelho virtual" amplia um pouco mais a visão traseira para os lados, com a vantagem de não aparecerem os encostos de cabeça ou as colunas traseiras. A comutação do espelho virtual para o tradicional é fácil como alternar entre as posições dia/noite de um retrovisor comum.
Apesar de não dispor de ajustes elétricos, o banco do motorista dispõe de bons apoios para o corpo (especialmente lombares). O volante também se destaca pela ergonomia de seu formato, e a assistência da direção é bem agradável em todas as situações, com certo peso mesmo em baixa velocidade para não ficar imprecisa ("boba"). A posição do condutor só não é totalmente perfeita por conta da coluna de direção não ajustar em profundidade.
O conjunto de suspensão foi um dos aspectos que mais surpreendeu na condução do Leaf. Considerando que é um carro importado (vem de Sunderland, na Inglaterra), o nível de absorção de irregularidades do piso é muito bom e lembra bastante o de um veículo pensado para o Brasil, como o Kicks. Para se ter uma ideia, sua altura em relação ao solo, de 15,5 centímetros, é maior que a do Versa (14,3 cm). Nos buracos, em nenhum momento o Leaf chegou a "bater seco".
A estabilidade da carroceria em curvas é exuberante, mesmo em velocidades altas. Mérito do centro de gravidade baixo da carroceria (com o posicionamento das baterias no assoalho), dos cuidados para melhoria da aerodinâmica e dos pneus largos. Mesmo com o pé embaixo no acelerador, o Leaf faz curvas muito bem.
A posição de dirigir lembra a do Versa: o motorista fica em posição mais baixa do que nos SUVs. Em termos de visibilidade, o modelo agrada, principalmente pelo para-brisa amplo, pelas janelas fixadas às colunas dianteiras e pelos retrovisores bem-dimensionados. Os espelhos externos acendem luzes alaranjadas quando algum veículo é detectado na região de pontos cegos. Se mesmo assim o motorista der seta indicando que vai se deslocar para a mesma faixa do automóvel no ponto cego, o hatch emite um alerta sonoro para advertir que ainda não é a hora de mudar de faixa.
Em trechos onde os pneus passavam sobre as faixas da pista, o volante vibrou para alertar o condutor de que ele deve manter a atenção, de modo similar ao Kicks Exclusive. Diferentemente das versões mais completas da Frontier, que podem reduzir a velocidade de forma autônoma para mitigar a saída de pista, o elétrico não dispõe de um sistema mais complexo que realize correções na direção para evitar a invasão da outra faixa. De todo modo, é um alerta que pode ser plenamente percebido até pelos passageiros.
Em compensação, o Leaf traz um dispositivo muito útil que nenhum outro Nissan vendido no Brasil dispõe: o controlador automático de velocidade e distância do veículo à frente. Com ele, é possível estabelecer três níveis de distanciamento do automóvel adiante, e programar uma velocidade para o Leaf andar. Caso o veículo da frente esteja mais lento, automaticamente o Nissan elétrico vai diminuir o seu ritmo, a fim de evitar uma colisão. Até mesmo no nível mínimo de distância do veículo à frente, o Leaf mantém um afastamento adequado. Em nosso teste, o recurso funcionou admiravelmente bem, detectando até mesmo motos, e foi capaz de manter sua operação até pouco abaixo de 30 km/h, ocasião em que o piloto automático é automaticamente desativado e o controle da aceleração retorna totalmente para o motorista.
O recurso mais interessante é o e-Pedal, que promove uma desaceleração mais forte assim que o motorista libera o pedal do acelerador. Dependendo do poder de antecipação do motorista no trânsito, é possível "esquecer" do pedal do freio e dirigir apenas pisando no acelerador (é bom que se diga que o freio continua a poder ser acionado a qualquer momento). Em velocidades urbanas, o sistema é bem útil e permite uma parada completa do Leaf, além de ativar automaticamente o Stop Hold, que aciona o freio hidráulico e permite que o veículo permaneça freado mesmo com o câmbio em D ou B. Se o motorista desafivelar o cinto e abrir sua porta, o câmbio é automaticamente posto na posição Parking (antes, o quadro de instrumentos avisa ao motorista para fazer isso).
A desaceleração mais forte com o e-Pedal (principalmente com o câmbio em B), que pode chegar a 0,2 g, talvez assuste um pouco o motorista caso o pedal de acelerador for solto repentinamente. É preciso dirigir por algum período para se acostumar com o jeito que se tira o pé direito para desacelerar mais suavemente. Em compensação, mesmo com o Stop Hold ativado, o esforço do pé direito necessário para acelerar o carro é mínimo. Nas estradas, onde as desacelerações são menos constantes e é interessante que o veículo possa percorrer mais quilômetros de forma mais fluida, o e-Pedal se torna mais dispensável, mas pode continuar a ser usado para poupar o pedal do freio.
Mas a modulação do pedal do freio deveria ser revista: é preciso pisar com mais força ao que estamos acostumados na comparação com outros modelos para conter de verdade o Leaf. A característica já havia sido notada em nossa experiência com o Leaf em Pernambuco e volta a se manifestar neste test-drive, com um carro menos rodado. Vale dizer que, com o câmbio em B, o veículo continua a se deslocar para a frente a cerca de 8 km/h, como um carro automático tradicional em Drive.
O modo Eco, quando acionado pelo botão no console, instantaneamente faz a autonomia estimada aumentar em alguns quilômetros no quadro de instrumentos e reduz as respostas do acelerador e a eficiência do ar-condicionado. Mesmo assim, o ímpeto do Leaf é tamanho que, até mesmo neste modo, os pneus podem cantar nas acelerações (mesmo com os controles eletrônicos ativados).
Em nossos testes, o Leaf ficou um pouco distante do dado de fábrica para a aceleração de 0 a 100 km/h (7,9 segundos) - excepcionalmente, fizemos o teste com duas pessoas a bordo, mas mantivemos todos os outros parâmetros: ar desligado, pista sem veículos, controles eletrônicos ativados, posição de câmbio Drive sem e-Pedal e cronometragem automática pelo app GPS Acceleration:
Aceleração de 0 a 100 km/h: 8,7 segundos
Retomada de 40 a 80 km/h: 4,4 segundos
Retomada de 80 a 120 km/h: 6,6 segundos
Em nosso trajeto de 73,5 quilômetros, o nível de energia indicado pelo Leaf baixou de 100% para 67% - com a estimativa de que seria possível rodar mais 167 km sem o modo Eco acionado. O computador de bordo registrou a média de consumo de 17,1 kWh/100 km. No trajeto, feito quase totalmente sem uso do modo Eco, em algumas vezes o carro permaneceu ligado quando parado, para que o ar-condicionado permanecesse em funcionamento. O aparelho, aliás, foi fundamental para deixar o calor do B-R-Ó-Bró de Teresina do lado de fora da cabine - a temperatura externa chegou a 33º C no dia do test-drive.
Para concluir...
Como dissemos no começo desta matéria, o Nissan Leaf representa o futuro pensado há alguns anos. Afinal, hoje é possível adquirir (e recarregar) o carro elétrico em diversas partes do Brasil. Afastado dos futurismos exagerados dos carros-conceito, o Leaf está bem-integrado ao atual line-up de veículos da Nissan, conta com uma boa lista de equipamentos e seu desempenho é mais do que suficiente para o uso cotidiano. As mudanças da reestilização deram mais apelo ao modelo e não representaram custo adicional ao elétrico da Nissan. Porém, se você faz questão de um veículo com maior autonomia com uma carga, vale a pena experimentar o Chevrolet Bolt. Ele custa um pouco mais caro (R$ 329.000), mas gera ainda mais força e pode rodar 416 km pelo ciclo EPA.
Vem conferir a Galeria de Fotos do Nissan Leaf 2023!
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