Chevrolet Chevette SL 1990: uma volta com o sucesso da GM!

Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Matéria feita em parceria com @showcarsthe

Primeiro carro de porte compacto feito pela Chevrolet no Brasil e derivado do Opel Kadett C, o Chevette alcançou uma longevidade invejável e constituiu uma grande família em nossas terras. Lançado aqui no dia 24 de abril de 1973, ele chegou ao nosso País alguns meses antes de sua apresentação na Europa. Lá, esta geração (que aqui ficou conhecida como "Tubarão") passou por evoluções distintas das do modelo nacional e deu lugar à geração D em 1979, mas aqui no Brasil o modelo resistiu com reestilizações em 1978, 1983 e 1987 sobre a mesma carroceria. 

O Chevette existiu como sedã de duas portas (1973 - 1993) e quatro portas (1978 - 1987), além do modelo Hatch (1979 - 1987), da perua Marajó (1980 - 1989) e da picape Chevy 500 (1983 - 1995). Mas a carroceria mais popular e longeva do modelo no Brasil foi mesmo a de duas portas, até mesmo porque vários de seus principais rivais, como Fusca, Fiat 147 e Corcel II, só existiam com carroceria de 2 portas - fora o fato de que a popularização dos modelos de quatro portas no Brasil começou lentamente ao longo da década de 1980, iniciando pelos carros de porte médio, como Monza, Santana e Del Rey.

As alterações aplicadas em 1983 fizeram o Chevette ser informalmente apelidado de "Monzinha", por conta das modificações estéticas que o aproximavam do modelo médio da Chevrolet, lançado um ano antes. Estas mudanças, aliás, ajudaram o menor dos General Motors nacionais até então a alcançar o título de carro mais vendido do Brasil naquele ano, destronando o Volkswagen Fusca de seu posto tradicional. Em 1987, foi promovida a última reestilização do modelo: discreta, mas que deu um ar mais contemporâneo ao veterano. Capô, grade, entradas de ar, lanternas e para-choques foram redesenhados, e os retrovisores passavam a ficar mais integrados à carroceria. No interior, a principal modificação foi a substituição das cúpulas redondas pelas quadradas no quadro de instrumentos, que passava a ter iluminação indireta. Os bancos também foram redesenhados, abandonando o formato integrado entre o apoio para as costas e para a cabeça. Na época, era possível adicionar luxos como o ar-condicionado e a transmissão automática de 3 marchas.

Com o lançamento da geração E do Kadett no Brasil em 1989, o Chevette foi reposicionado mercadologicamente e acabou abrindo mão de vários equipamentos opcionais (como câmbio automático, ar-condicionado e as opções das cores marrom, cinza, preto ou azul para o interior), mantendo-se na posição de carro de entrada da Chevrolet. A Marajó deu lugar à então nova perua Ipanema, que chegou somente com carroceria de duas portas (a opção das quatro portas viria em 1993).

No ano-modelo 1990, o Chevette contava com as versões SL e SL/E. Este exemplar, um SL ano 90, está praticamente original, trazendo inclusive os vidros com a chancela GM e as lentes dos faróis Arteb. Recebeu rodas de 18 polegadas (com cinco parafusos e o desenho das peças do Vectra CD entre 2001 e 2002) com pneus Xbri Sport+2 185/35, frisos laterais da versão SL/E (mais encorpados) e molas esportivas RedCoil.

O interior do Chevette trazia a identificação da versão junto ao volante. A versão SL/E, mais completa, trazia relógio digital, hodômetro parcial e econômetro no quadro de instrumentos, além de cinzeiros na traseira e luzes de cortesia nas portas, no porta-luvas, no porta-malas e para o motor. Mas havia vários itens que poderiam ser adicionados como opcionais tanto no Chevette SL quanto no SL/E (entre eles, lavador elétrico do para-brisa sem a bomba acionada pelo pé, desembaçador traseiro, retrovisor direito, rádio, pintura metálica, embreagem eletromagnética do ventilador, alarme e rodas de alumínio). Havia também opcionais para a versão SL que eram itens de série no SL/E, como janelas laterais traseiras basculantes e encostos de cabeça dianteiros.

O volante trazia aro acolchoado e estilo de dois raios, com buzina ao centro. Os comandos de afogador e acendimento de luzes de posição e faróis estavam à esquerda da coluna de direção. A única haste, também do lado esquerdo, permitia acionar a seta, a luz alta e também o lavador e os limpadores dianteiros, em duas velocidades. Do lado direito da coluna ficavam o botão do pisca-alerta e o tambor de ignição.

A instrumentação do SL, cuja iluminação esverdeada pode ser ajustada por um botão giratório à direita da coluna de direção, trazia velocímetro no canto esquerdo (com a marcação do hodômetro total), relógio de horas "quartzo" ao centro (acompanhado, mais abaixo, das luzes-espia) e, à direita, as indicações do nível de combustível e da temperatura do líquido de arrefecimento do motor.


O painel trazia duas saídas de ventilação centrais - o ventilador, de duas velocidades, era item de série, assim como o acendedor de cigarros, que era acompanhado de um cinzeiro embutido no painel. Abaixo do botão da velocidade de ventilação estava o interruptor do desembaçador traseiro.


O exemplar das fotos traz o aparelho de som Pioneer MVH-88UB, com rádio e entradas USB-A e auxiliar, além de som com 4 alto-falantes: um em cada porta dianteira e mais dois sobre o tampão traseiro, da marca Bomber. Dentro do porta-malas está o aparelho "vintage" Pioneer DEH-P2050 "Super Tuner III", para ser instalado caso se queira escutar as músicas de CDs.


Para o passageiro dianteiro havia uma alça de teto fixa. Os quebra-ventos dianteiros só existiam na carroceria de duas portas. Os para-sois eram monoarticulados (não eram capazes de se deslocar para os lados) e sem qualquer item adicional (no SL/E, as peças eram biarticuladas e havia espelho para o passageiro). Entre as sombreiras estava a luz de teto, acionada assim que uma porta era aberta.


O porta-luvas podia ser trancado à chave. Em seu interior está o livreto fornecido pela antiga concessionária Colina Veículos, de Piracicaba (SP), cujo local atualmente abriga um hortifruti. Dentro do livreto está o manual do proprietário e os documentos deste exemplar.

Em termos de acabamento, o Chevette traz forro de teto, para-sóis, apoios e laterais das portas em curvim (material que também reveste as costas e laterais dos bancos, cujo revestimento predominante era de tecido). Já o painel e o console (com um porta-objetos aberto à frente da alavanca de câmbio) eram feitos de material rígido.

Os bancos dianteiros, com encostos de cabeça e cintos de três pontos retráteis, acomodavam bem o corpo. Para ter acesso ao banco traseiro, empurrava-se a alavanquinha de um dos bancos dianteiros. O acesso é razoável, assim como o espaço para pernas e cabeça. Os cintos traseiros eram subabdominais. Por conta do eixo cardã, o túnel central é um pouco elevado. Os vidros traseiros deste exemplar são basculantes.

A chave, de haste metálica fixa, era semelhante à de outros Chevrolet daquela época. O chaveiro dourado permitia ativar ou desativar o alarme com sirene eletrônica (opcional) quando ele era passado de cima para baixo no canto esquerdo superior do vidro dianteiro. Vale dizer que a chave é única para ignição, portas, porta-luvas e bocal do tanque de combustível.

O porta-malas tinha a capacidade de 323 litros, sendo que o estepe ficava "em pé" do lado direito, como era comum nos carros da época, junto com as ferramentas para troca do pneu. Esse arranjo minimizava a necessidade de se descarregar totalmente o porta-malas no caso de um pneu furado. Este exemplar ainda conserva o Pirelli P-400 (175/70 R 13) de época.

O motor 1.6/S OHC, movido a gasolina, foi introduzido em 1988. O peso de seus pistões e bielas foi reduzido, o coletor de admissão era novo e o carburador era de corpo duplo. No cofre, destacava-se o filtro de ar com recipiente vermelho. Tinha potência de 73 cavalos a 5200 rpm e torque de 12,2 kgfm a 3000 rpm. Tanto o 1.6 a gasolina quanto o movido a álcool tinham ignição eletrônica, porém morreram sem aderir à injeção eletrônica de combustível. O câmbio, manual de cinco marchas, se destaca pelos engates precisos em sua alavanca.

O Chevette foi um dos últimos carros compactos nacionais com tração traseira. Como o motor era dianteiro, sua força não era plenamente aproveitada por conta da energia dispendida pelo diferencial para mover as rodas de trás, e o túnel central alto tomava espaço de quem sentava no banco traseiro. Mas em termos de dirigibilidade, esse conjunto motriz acaba tornando a condução mais divertida, ainda mais em um carro de carroceria leve, com 866 quilos em ordem de marcha na versao SL 2 portas.

Outra característica mecânica do Chevette que evidenciava sua avançada idade nos anos 90 era o eixo rígido de sua suspensão traseira, que tornava o carro menos confortável numa época em que outros rivais tinham eixo de torção ou até braços independentes atrás; porém, o eixo do Chevette se mostrava mais robusto. Na dianteira, o conjunto era independente, com estabilizador lateral.

Para seu modelo 1991, o Chevette abriu mão das versões SL e SL/E em prol de uma única, a DL, mas ela se somaria ao modelo Junior 1.0 a partir de março de 1992. Com motor de apenas 50 cavalos e câmbio manual de 4 marchas (5 marchas era opcional), o Chevette concebido para ser o mais acessível da Chevrolet foi um verdadeiro fiasco, por ter sido simplificado demais, sofrer com a idade avançada do projeto e não rivalizar em igualdade de condições com o Fiat Uno Mille, que inaugurou o segmento dos populares 1.0. 

No ano de 1993, as versões Junior e DL foram eliminadas, e o Chevette passou a ter a opção única L 1.6, com algumas mudanças: ele tinha frisos laterais mais finos e alguns detalhes simplificados, eliminando a tampa vermelha do filtro de ar em favor de uma peça mais simples. Curiosamente, os instrumentos do L voltavam a ser circulares, sendo eliminados o relógio digital e a indicação de condução econômica. Nem mesmo o relógio analógico, existente nos modelos mais antigos, voltou no L.

O Chevette deixou de ser fabricado no Brasil no dia 12 de novembro de 1993, poucos meses antes do lançamento do Corsa. Ao todo, foram produzidas 1,6 milhão de unidades da linha em vinte anos. Ele ainda seria feito até 1996 no Equador e até 1998 na Colômbia.

Impressões ao dirigir

Para desabilitar o alarme do carro, basta passar o ímã da chave no canto superior (esquerdo ou direito) do para-brisa - e, depois, girar a chave no miolo da porta do motorista. Ao entrar no Chevette, o cheiro da cabine nos transporta diretamente para o passado. Chave no contato, pé na embreagem e partida. A direção, mecânica, parece ser uma hidráulica "ao contrário": nas manobras, ela é bem pesada, por conta das rodas grandes e dos pneus muito mais largos do que os originais. Mas basta ganhar um pouco de velocidade que é possível girar o volante com bem mais comodidade. Além disso, a tração traseira colaborava na redução do diâmetro de giro, que era de 9,81 metros (apenas como referência, um Renault Kwid precisa de 10 metros para dar meia-volta). Os ocupantes estão em um posicionamento muito mais baixo do que na maioria dos automóveis de hoje em dia.

Os engates de câmbio são um tanto quanto secos, justos e fáceis de serem acertados. Além disso, a embreagem é fácil de ser operada. A ré entra "direto", logo atrás da quinta marcha. O Chevette reage bem a marchas altas em velocidades baixas, aceitando uma quarta marcha a pouco menos de 40 km/h sem reclamação. Com os amortecedores de curso reduzido, o conjunto de suspensão transmite mais firmeza.

O motor 1.6/S original dá conta de acompanhar o fluxo do trânsito na cidade, mas este exemplar, que operava com somente um estágio da carburação, perdia o fôlego após passar de 90 km/h - mesmo assim, a sensação de velocidade a bordo de um Chevette é de que ele está correndo mais do que o velocímetro indica. Em compensação, seu consumo de gasolina é admiravelmente contido para um carro de mais de 30 anos. E os freios deste exemplar, a disco nas rodas dianteiras e a tambor atrás, têm boa atuação (não é raro ver exemplares do Chevette cuja atuação dos freios só surge ao afundar o pé).

Os bancos apoiam bem as costas, contando com apoios laterais bem destacados. Este exemplar possui a ventilação interna, mas, para se refrescar de verdade, a melhor indicação é abrir os quebra-ventos. Mesmo quando abertos, eles não atrapalham na visão pelos retrovisores, que é boa e facilitada pelas hastes para o ajuste interno.

Para concluir...

A trajetória do Chevette no Brasil foi marcante e, até hoje, é um carro muito buscado por quem quer se divertir e desenvolver projetos. Não são poucos os exemplares usados para fazer manobras e arrancadas. Seu ciclo de 20 anos foi marcado por diversas versões, reestilizações e carrocerias - e, até por ter feito parte da vida de muita gente ao longo deste tempo, também se trata de um carro com sua "colecionabilidade" consolidada.

Vem conferir a Galeria de Fotos do Chevrolet Chevette SL 1990!










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