Carro elétrico consegue pegar estrada? Viajamos com o Nissan Leaf para descobrir!


Texto e Fotos | Júlio Max, de Praia dos Carneiros (PE)
Viagem à convite da Nissan

A cada dia que passa, os carros elétricos deixam de ser sonhos distantes e estão cada vez mais integrados à realidade de nós, brasileiros. O Nissan Leaf é um dos modelos que ajudou a popularizar a eletrificação dos automóveis no mundo inteiro. Apresentado ao mundo em 2010, o Leaf sempre foi uma vitrine do futuro para a marca - inclusive no Brasil, onde o hatch elétrico foi apresentado em diversos eventos, como no Inova Show e em edições do Salão do Automóvel. Na época, a experiência de dirigir um carro sem motor a combustão em uma pista travada era inédita e divertida. Mas... e na vida real, seria possível utilizar um automóvel zero emissão para fazer uma viagem? Esta era a dúvida que nós, do Auto REALIDADE, tínhamos. Pelo menos até agora.

Com o propósito firme de desmistificar os automóveis elétricos, a Nissan iniciou a comercialização do Leaf no Brasil em julho de 2019, já em sua segunda geração, que recebeu uma extensa remodelação em comparação com seu antecessor. De início, apenas sete concessionárias no País inteiro estavam credenciadas a vender e prestar assistência técnica ao Leaf. A partir de 2021, 44 autorizadas passaram a trabalhar com o hatch, e os planos de expansão continuam. Afinal, o Leaf foi o elétrico mais vendido do Brasil, da Argentina e do Chile no ano passado. Agora, a marca anuncia mais uma expansão na quantidade de lojas preparadas para vender o modelo: serão 50 concessionárias entre as 189 unidades da Nissan pelo território nacional.

Durante a apresentação da Frontier 2023, no início de abril deste ano, nós da imprensa fomos consultados sobre quem já tinha feito o test-drive no Leaf. Entre as pessoas que não levantaram a mão, parte delas era da região Nordeste do Brasil. Mas a equipe da Nissan, sempre atenciosa com os jornalistas, organizou entre os dias 30 e 31 de maio um evento regional voltado para os profissionais da região. O roteiro consistia em uma viagem de Recife (capital de Pernambuco) até a Praia dos Carneiros. Mas os caminhos... Nada de pisos planos e asfalto impecável. Em nosso trajeto de dois dias, passamos por congestionamentos, lombadas mal-sinalizadas, buracos, curvas acentuadas, subidas, descidas, chuvas que exigiram o funcionamento dos limpadores na velocidade máxima, dia, tarde, noite...

Diferentemente do primeiro Leaf, que lembrava um Tiida com ar mais futurista e detalhes de estilo controversos (como as lanternas transparentes que se alongavam até o topo do vidro traseiro), o hatch atual possui design mais atraente, eliminando as ousadias de estilo que não eram unanimidade, mas mantendo os vincos fortes e os elementos ao estilo bumerangue do carro-conceito IDS, apresentado em 2015.

A frente é marcada pelos faróis afilados (com projetores e LEDs para a iluminação principal e as luzes de posição) e pela grade frontal V-Motion, que é fechada para contribuir com a aerodinâmica (o Cx do modelo é de 0,28) e foi mantida por uma questão de design. Em torno do friso cromado fica uma placa transparente por cima de uma trama tridimensional azulada. Logo acima, uma tampa da cor da carroceria esconde as duas entradas para recarga elétrica. 

A conexão da esquerda é compatível com carregadores rápidos (padrão CHAdeMO, de 50 kW) e com o recarregamento bidirecional (V-2-X, sigla para vehicle-to-everything), que transforma o Leaf em um gerador de energia, enquanto do lado direito fica a conexão para estações de recarga mais convencionais, inclusive residenciais. O hatch também dispõe de faróis de neblina dianteiros com molduras cromadas no para-choque dianteiro, com vincos bem pronunciados, assim como no capô.

As laterais do Leaf são marcadas pelo estilo da região envidraçada: há duas pequenas janelas fixas à frente das portas e apliques em preto que unem visualmente os vidros laterais com a tampa do porta-malas. As capas dos retrovisores trazem luzes de seta em LED e as maçanetas externas são cromadas. As rodas de 17 polegadas são bonitas, mesclando face diamantada e detalhes escurecidos, e possuem aberturas relativamente pequenas por questões de aerodinâmica. Já os pneus 215/50 Goodyear EfficientGrip Performance são específicos para automóveis elétricos.

A traseira do elétrico da Nissan possui lanternas de estilo marcante, com áreas côncavas e luzes de LED. A tampa do porta-malas incorpora áreas em preto na região do aerofólio e logo abaixo do vidro de trás, envolvendo os logotipos do modelo. A inscrição "Zero Emission" aparece aqui e na parte inferior das portas dianteiras. O para-choque traseiro traz defletor central, emoldurado por uma faixa azul, e também incorpora uma luz de neblina ao centro.

Com 4,48 metros de comprimento (sendo 2,70 metros de distância entre-eixos), 1,79 metro sem retrovisores e 1,565 m de altura, o Leaf manteve a distância entre os eixos da geração anterior e ficou ligeiramente mais longo, largo e alto do que seu antecessor. O Leaf é vendido no Brasil em versão única, Tekna. No exterior, trata-se da opção topo-de-linha entre os exemplares com bateria de 40 kWh, mas existem também versões com bateria de 59 kWh, que rendem o equivalente a 217 cavalos, aceleram de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos e possuem maior autonomia.

O interior do Leaf, assim como a parte externa, traz elementos de estilo modernos. Em termos de acabamento, o hatch elétrico dispõe de revestimentos em material sintético nos bancos e no volante. Este material também está presente em faixas dos forros de porta (dianteiros e traseiros) e da área central do painel. Costuras azuladas dão um toque diferenciado dos outros Nissan. Além disso, o modelo também possui forro de teto moldado em tecido.

O volante é revestido de material sintético com costuras azuis e possui estilo semelhante ao de Versa e Kicks em suas versões mais completas. Com coluna de direção ajustável manualmente em altura, este volante traz base achatada e comandos de operação do computador de bordo, atalhos de som, telefone e comandos de voz, além dos botões para utilizar o controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo, que permite selecionar entre três níveis de distância do automóvel à frente.

O quadro de instrumentos é composto pelo velocímetro analógico com escala até 180 km/h na parte direita e por uma tela colorida de 7 polegadas à esquerda, de forma similar às versões mais completas de Kicks e Versa. Ao ligar a ignição, o ponteiro do velocímetro gira até o fim e uma animação em três dimensões do Leaf é exibida. As palavras e frases mostradas nos instrumentos são em português, como nos outros modelos da Nissan (poucos meses depois da nossa avaliação do Versa, em que reclamamos do fato do computador de bordo só exibir informações em inglês, francês ou espanhol, a Nissan atualizou o software para se comunicar também em nossa língua). 

A tela do Leaf mostra, entre outras informações:

  • 1 - Indicador de energia: uma barra semicircular exibe o consumo de energia instantâneo do motor elétrico. A barra azul vai diminuindo quando a energia da bateria de Li-íon está sendo demandada, e seu tamanho aumenta quando há energia sendo fornecida para a bateria pelo sistema regenerativo de freios.
  • 2 - Tempo de recarga estimado: este menu exibe graficamente o nível atual de bateria e estima quanto tempo será necessário para chegar aos 100% de bateria.
  • 3 - Indicador de temperatura da bateria de Li-íon: assim como a maioria dos carros com motor a combustão dispõe da indicação de temperatura do líquido de arrefecimento do motor, o Leaf informa, numa escala entre frio/normal/quente, a temperatura da bateria de íons de lítio.
  • 4. Indicador de capacidade da bateria de Li-íon: exibe o nível de vida útil de bateria.
  • 5. Fonte de áudio - mostra e permite alternar a fonte de som (rádio, USB, Bluetooth...)
  • 6. Economia de energia - mostra a média de consumo de energia e a situa em uma escala de 0 a 45 kWh/100 km.
  • 7. Histórico de economia de energia - mostra gráficos de barras indicando quais foram as médias de consumo de energia (em kWh/100 km) nos últimos 15 minutos, permitindo ao motorista ter um histórico dos últimos 60 minutos.
  • 8. ProPILOT - exibe o gráfico do piloto automático adaptativo, permitindo verificar a distância do veículo à frente.
  • 9. Safety Shield - mostra se estão acionados ou inativos os alertas de colisão frontal, de saída da faixa de rodagem e do "ângulo morto" (monitoramento de pontos cegos).
  • 10. Status - mostra ao mesmo tempo a velocidade do veículo e as informações de áudio.
  • 11. Computador de bordo (1 e 2): apresentam as médias de consumo de energia, velocidade média, hodômetro parcial e tempo de viagem.

A tela também possui indicação individual de porta ou tampa traseira abertas. Na região do painel logo abaixo dos instrumentos, no canto esquerdo, há botões para ajustar o brilho dos instrumentos e resetar as informações do computador de bordo.

A haste dos faróis conta com as posições "Auto" (de acendimento automático das luzes), luzes de posição ligadas e faróis baixos ligados. O elétrico dispõe da comutação automática do farol alto: acima de 40 km/h, o Leaf é capaz de reduzir a luz do facho alto para o baixo caso sejam detectadas luzes em sentido oposto. Outro destaque é a regulagem automática da altura do facho dos faróis. O elétrico também dispõe da função Friendly Lighting, nome mais pomposo para a temporização do acionamento dos faróis (popularmente conhecido como follow me home). As luzes externas podem permanecer acesas entre 30 segundos e 2 minutos após o desligamento do veículo (com a haste na posição Auto), conforme a seleção feita pelo motorista ao puxar a alavanca de luzes em sua direção. Ao dar um leve toque, sem acionar a seta até o clique, as luzes indicadoras de direção piscam 3 vezes. Por esta haste também é possível acender os faróis e a lanterna de neblina.

Já a alavanca dos limpadores incorpora a posição Auto, de funcionamento automático. O sensor de chuva pode ter a intermitência de seu funcionamento ajustada.

O sistema multimídia conta com tela sensível ao toque de 8 polegadas e espelhamento de tela de celular através do Android Auto e Apple CarPlay (sempre com cabo), além de rádio AM/FM, CD e MP3 Player; o sistema de som conta com 6 alto-falantes. A interface do sistema é muito semelhante à presente nos demais modelos atuais da Nissan, com fundo azul e ícones na base da tela para acesso a menus. Além disso, o sistema operacional da central multimídia pode ser atualizado, desde que o carro esteja conectado a uma rede Wi-Fi de internet. Durante nosso teste, fizemos o uso do Android Auto para ter acesso aos mapas do Google e às músicas do Spotify.

Pela tela também é possível visualizar as imagens das câmeras que formam uma visão de 360 graus em torno do veículo. Esta visão "aérea", exibida no canto direito da tela, pode dar lugar à visão da câmera embutida no retrovisor direito, que facilita verificar o quão as rodas do lado direito estão próximas da calçada. A câmera em destaque pode ser a frontal ou a traseira, dependendo da posição de câmbio engatada, e exibe linhas de guia. O Leaf, assim como as versões mais completas de Kicks e Frontier, dispõe do detector de objetos em movimento, que destaca de qual direção está se aproximando uma pessoa ou um veículo.

Com zona única de temperatura, o ar-condicionado automático digital do Nissan Leaf regula a temperatura entre 16 e 30 graus. Tanto os bancos dianteiros quanto os bancos laterais traseiros são aquecíveis em dois níveis (Lo/Hi). Abaixo dos controles de ar, há um aviso luminoso que informa sobre a ativação (ou não) do airbag do passageiro dianteiro. Alternado pela lâmina da chave presencial, o switch on/off desta bolsa inflável fica dentro do porta-luvas (que é iluminado e dispõe de boa capacidade).

O console central integra o botão de partida, as entradas USB e auxiliar, os botões de aquecimento dos assentos dianteiros e uma tomada de 12 Volts. Mais abaixo há um porta-objetos aberto e bem inclinado, que pode receber o celular. A alavanca de câmbio lembra um joystick e dispõe das posições Parking (acionada por botão no pomo), Ré, Neutro, Drive e B - esta última prioriza o freio regenerativo. Sem a necessidade de uma alavanca de freio de mão, o Leaf traz um pequeno porta-objetos aberto (muito útil para acomodar a chave) e dois porta-copos. Mais atrás existe um apoio de braço de formato assimétrico (mais prolongado do lado do motorista), revestido de couro e com uma trava que revela um porta-objetos.

A parte esquerda do painel contém um agrupamento de botões, dos quais quatro deles estão preenchidos no Leaf vendido no Brasil. O comando da porção superior esquerda serve para destravar a portinhola dianteira de recarga. Outro botão, ao lado direito, permite acessar, pelo quadro de instrumentos, o temporizador de recarga, uma funcionalidade especialmente útil para ativar a corrente elétrica somente em horários em que a tarifa de eletricidade tiver valor mais baixo e que ajuda a destravar a estação de recarga para que ela possa ser utilizada por outro veículo eletrificado. Pelo timer também é possível programar um horário para ligar o ar-condicionado do veículo.

Há ainda o comando do som de alerta para pedestres (VSP, na sigla em inglês), bipe que alerta aos transeuntes sobre a presença do veículo em baixas velocidades, automaticamente desativado quando se conduz acima de 30 km/h, e o botão que permite verificar pela tela do computador de bordo as assistências de condução ativas.

A chave presencial do Leaf é praticamente idêntica à dos outros modelos da Nissan com funcionamento pela presença. A principal diferença é que, além dos usuais botões para travamento e destravamento das portas, há um terceiro comando que, ao ser pressionado por mais de um segundo, destrava a portinhola frontal para carregamento. Embutida na chave também há uma lâmina metálica para ser utilizada caso necessário.

Os para-sóis dispõem de espelhos com tampas, porta-documentos e iluminação. Há ainda quatro alças móveis de teto (inclusive para o motorista) e dois pontos de iluminação: dois focos para motorista e passageiro na dianteira, além de uma luz em posição central.

A porta do motorista concentra os botões que comandam os retrovisores elétricos (que dispõem de rebatimento elétrico e lentes aquecíveis, para desembaçamento) e os vidros elétricos das quatro portas (só a janela do condutor dispõe da função um-toque para baixo). Curiosamente, há botões das travas elétricas das portas tanto no forro do motorista quanto do carona dianteiro. 

Os bancos dianteiros "Zero Gravity" possuem ajustes totalmente manuais, com alavanca para o motorista ajustar a altura de seu assento. Os cintos dianteiros são ajustáveis em altura e possuem pré-tensionadores. Um detalhe pouco usual entre os automóveis disponíveis no Brasil é o fato do banco do passageiro dianteiro dispor de fixações Isofix e Top Tether para cadeirinhas infantis.

Na traseira, o encosto do banco é bipartido (na proporção 60/40), e pode ser rebatido para a frente ao se puxar dois pinos. Há pequenos ganchos que servem para guardar o cinto quando for necessário rebater um dos encostos do banco de trás, além de dois pontos de fixação Isofix e Top Tether para cadeirinhas. Atrás, as alças de teto incorporam pequenos ganchos fixos, capazes de suportar até um quilo. 

O espaço para cabeça e pernas é bom para dois adultos e há dois porta-revistas, mas uma pessoa que se sentar ao meio terá que conviver com o elevado ressalto do assoalho, com uma peça plástica escondendo o acesso às baterias.

O porta-malas conta com a boa capacidade de 435 litros e dispõe de iluminação. Nas laterais há espaços com redinhas para alojar a bolsa onde os cabos de carregamento ficam guardados. Há um cabo de recarga de emergência, um adaptador para plug do tipo 2, e o plug do Tipo 1, também chamado J-1772. O estepe temporário do Leaf fica do lado de fora do veículo sob o assoalho, com roda de 16 polegadas e pneu 125/90. O forro da tampa possui um recuo no canto direito para ajudar a fechá-la. Curiosamente, este acabamento plástico da porta traseira possui coloração bege, bem mais clara do que o restante da forração do porta-malas em preto.

O pacote de itens de assistência à condução abarca as principais tecnologias de proteção. O controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo reduz automaticamente a velocidade estabelecida caso seja detectado um veículo mais lento à frente, visando manter uma distância segura. Já a frenagem automática de emergência com alerta de colisão frontal atua quando é detectada uma situação de risco iminente de colisão à frente. O sistema inicialmente emite um alerta visual e sonoro ao motorista. Caso o condutor não reaja adequadamente, o Leaf pode frear de forma autônoma de maneira parcial ou até total, evitando ou mitigando as consequências de uma colisão. Há ainda o alerta de saída da faixa de rodagem, que vibra o volante caso o motorista ultrapasse a pista demarcada sem acionar a seta.

O alerta de veículos em pontos cegos informa ao motorista sobre a presença de veículos na região lateral-traseira, acendendo luzes nas lentes dos retrovisores externos, e emite um apito caso o motorista acione a seta na direção em que um veículo está próximo. Já o alerta de tráfego cruzado traseiro funciona em manobras de marcha-a-ré, indicando de forma sonora e visual sobre a passagem de veículos atrás do Leaf, de forma similar ao monitor de pontos cegos.

Por fim, há a tecnologia e-Pedal, que permite a condução somente com o pedal do acelerador na maior parte do tempo. Isto ocorre porque, quando este modo é ativado por um botão no console, a desaceleração do veículo se torna mais intensa para ajudar na regeneração de energia. Só é preciso pisar no freio em casos quando for necessário parar com mais urgência. Hoje, boa parte dos automóveis elétricos dispõem de algum modo de condução em que é possível conduzi-lo sem acionar o pedal do freio em praticamente todas as situações.

A autonomia do Leaf, que era de aproximadamente 160 quilômetros em sua primeira geração, passou a ser de 240 km nos primeiros exemplares da segunda geração vendidos no Brasil. A partir da linha 2021, o Leaf passou a ser capaz de rodar 272 km no ciclo do Inmetro e no norte-americano EPA (com 50% de condução na cidade e 50% de percurso na estrada) e até 389 km no ciclo europeu NEDC (com 70% de rodagem na cidade e 30% na estrada). 

Existem variadas alternativas para se carregar o Leaf. Em uma corrente de 220 Volts e 10 Ampères, oito horas são suficientes para recarregar aproximadamente 40% da bateria, representando uma autonomia de cerca de 108 quilômetros - ao passo que uma corrente de 127 Volts garantiria cerca de 62 km de autonomia neste mesmo período de recarga. Com a wallbox e uma corrente de 30 Ampères, nas mesmas 8 horas é possível recarregar 100% da bateria. Já nos carregadores CHAdeMO, disponíveis em algumas estações públicas, é possível recarregar 80% da bateria em 40 minutos.

É fato que recarregar o Leaf em casa também representa um custo pelo consumo de energia. Ainda assim, na ponta do lápis, o custo por quilômetro rodado em um elétrico é bem inferior se comparado a um veículo equivalente movido a gasolina. De acordo com levantamento da Nissan, até os 60 mil quilômetros rodados, quem possui o Leaf terá gasto aproximadamente R$ 6.000 de energia, enquanto um Versa V-Drive 1.0 dará uma despesa de R$ 30.000 nos postos de combustíveis, e um Kicks 1.6 terá um custo de cerca de R$ 35.000 somente com combustível, considerando que o custo por quilômetro rodado do elétrico é de aproximadamente R$ 0,10/km, enquanto no veículo 1.0 se gasta aproximadamente 50 centavos por quilômetro rodado, e, no utilitário 1.6, cerca de 58 centavos por km rodado. 

Fora isso, o Leaf não emite dióxido de carbono durante sua vida útil, enquanto um Versa movido a gasolina emite aproximadamente 5,8 toneladas de CO² na atmosfera até os 60 mil quilômetros, e o Kicks lança 6,5 toneladas de dióxido de carbono pelos ares rodando esta mesma quilometragem. Os custos de manutenção até os 60 mil quilômetros também são mais baixos no Leaf. As revisões do elétrico somam R$ 2.898, valor inferior ao das manutenções do Versa 1.0 (R$ 2.901) e do Kicks 1.6 (R$ 3.420).

O Leaf conta com carregador portátil de 6,6 kW para tomada em 127 ou 220 volts e com um adaptador T1-T2 para carregador wallbox, além de uma bolsa para guardar os cabos. O carro da Nissan também pode ser utilizado como um gerador de energia, realizando uma "recarga bidirecional" (V-2-X).

O motor elétrico possui rendimento de 110 kW (equivalentes a 149 cavalos) disponíveis entre 3283 e 9795 rpm, enquanto o torque de 32,6 kgfm está presente de 0 a 3283 rpm. Em relação à geração passada, o atual Leaf entrega 37% mais potência e 26% mais torque. A bateria de 40 kWh, de íon-lítio laminada, passou a ter maior capacidade de armazenamento em relação ao Leaf antigo, sem necessidade de ficar maior. A tração é dianteira e a direção é elétrica com assistência variável.

O Leaf possui suspensão dianteira independente (do tipo McPherson e com barra estabilizadora) e utiliza atrás o eixo de torção, também acompanhado de barra estabilizadora. Já os freios usam discos dianteiros e traseiros ventilados, algo raro entre os automóveis deste segmento.

No alto do painel, três luzes informam sobre o status de recarga do veículo (detalhe que já existia desde a primeira geração do Leaf), permitindo conferir se ainda falta muito para a carga total sem se aproximar tanto do carro. Quando o veículo está sendo recarregado e apenas uma luz está acesa, o nível de carga está entre 0% e 33%. Com duas luzes acesas, a bateria foi recarregada entre 33% e 66%. Por fim, com as três luzes acesas, a recarga está entre 66% e 100%.

Assim como grande parte dos automóveis com motores a combustão, o Leaf dispõe de bateria de 12 Volts, que fornece energia para a central multimídia, as luzes externas/internas, os limpadores do para-brisa, etc. Já a bateria de íons de lítio, com cerca de 400 Volts, fornece energia para o motor elétrico que impulsiona o veículo e ainda recarrega a bateria de 12 Volts.

Conforme cálculos da Nissan, em uma tomada convencional de 127 ou 220 Volts (que possui uma corrente de 8 a 10 Ampères), o tempo de recarga do Leaf varia entre 40 e 20 horas. Já nas Wallboxes, que trazem corrente de 32 Ampères com circuitos elétricos, a carga completa ocorre de 8 a 6 horas. Por fim, utilizando a conexão CHAdeMO nos carregadores rápidos (de corrente contínua e com 480 Volts), é possível carregar completamente o Leaf em 60 minutos.

Quando o Leaf está com bateria fraca, uma série de medidas é tomada automaticamente pelo veículo. O alerta de bateria fraca aparece quando a carga está em cerca de 9%. Se o nível de bateria estiver em cerca de 4%, a informação da autonomia do veículo deixa de ser exibida no quadro de instrumentos. Em seguida, entra em ação o modo de limitação de potência, representado por um ícone de tartaruga nos instrumentos, que reduz a velocidade alcançada pelo carro e visa fornecer uma autonomia adicional para que haja mais segurança em caso de eventual descarga total da bateria.

Em termos de segurança, o Leaf conta de série com seis airbags (frontais, laterais embutidos nos bancos dianteiros e de cortina), alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência. alerta de fadiga do motorista, monitoramento de veículos em pontos cegos, alerta de saída involuntária da faixa de rodagem, alerta de tráfego cruzado traseiro, cintos de segurança de três pontos para todos os passageiros, controles de tração e estabilidade, controle inteligente de freio-motor (Intelligent Engine Brake), controle inteligente em curvas (Intelligent Trace Control), estabilizador de carroceria (Intelligent Ride Control), freios ABS com distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD) e assistência em frenagens de pânico (Brake Assist), sinalização de frenagem de emergência, monitoramento da pressão dos pneus e assistente de partida em ladeiras.

O Leaf tem garantia de 3 anos sem limite de quilometragem e 2 anos de assistência técnica 24 horas, enquanto o conjunto de baterias possui garantia de oito anos ou 160 mil quilômetros. O modelo pode ser adquirido com a carroceria na cor Branco Diamond (perolizada), Prata Classic (metálica), Preto Premium (metálica) ou Branco Diamond com teto e colunas em preto.

A partir do início deste ano, proprietários do Leaf dispõem de um número de telefone e de um contato de WhatsApp para serviços de concierge, possibilitando tirar dúvidas e receber informações sobre o veículo, bem como solicitar auxílio em caso de pane, acionar um reboque para o caso de bateria sem carga e pedir um carro reserva pelo período de até 30 dias durante o período de cobertura da assistência técnica.

Enfim, hora de falar sobre o preço. Com valor a partir de R$ 293.790 (R$ 296.640 no caso da carroceria branca e teto preto), o Leaf custa no Brasil quase três vezes o preço de um Versa Sense. Em outros países, a situação é bem diferente: com os incentivos disponíveis nos Estados Unidos, por exemplo, o valor do hatch elétrico em sua versão de entrada pode cair de US$ 27.400 para US$ 19.900, ficando mais barato do que um Kicks básico. O carro zero emissão é uma realidade, mas precisa de mais incentivos para passar a fazer parte da vida de mais pessoas em nosso País.

A quantidade de lojas preparadas para vender o Leaf no Brasil cresceu de 7 para 44 autorizadas entre 2019 e 2021. Este ano, serão 50 concessionárias preparadas para vender o modelo, dentre as 189 lojas da Nissan em todo o País. Para vender o hatchback elétrico, cada autorizada precisa de treinamento específico de vendas e pós-vendas, além de dispor de uma vaga com carregador e oficina com área específica para as manutenções. Quando vai fazer serviços em um Leaf, o mecânico usa face-shield, óculos de proteção, luvas e botas. O seu ambiente de trabalho fica isolado dos demais veículos e há ferramentas específicas, para, por exemplo, transportar baterias.

Impressões ao dirigir

Dar a partida em um Leaf não é muito diferente de ligar outros veículos dos dias de hoje. Com o pé apertando o freio e a chave presencial dentro do carro, basta apertar o botão de partida no console e verificar se houve o acendimento da luz-espia "ready" (que indica que o elétrico da Nissan já pode ser conduzido), ao invés do tradicional barulho do motor de arranque. 

Depois, libera-se o pedal do freio de estacionamento com o pé esquerdo (quem já dirigiu o Corolla Cross vai achar familiar) e move-se a alavanca de câmbio para a posição desejada. Quando a partida é feita, a sensação é de que o veículo continua somente com a ignição ligada. E é possível pensar que o pedal do freio de estacionamento vai atrapalhar o posicionamento do pé esquerdo do motorista, mas na verdade é possível repousar bem o pé no apoio à esquerda do assoalho. 

À princípio, o manejo da alavanca de transmissão pode parecer complicado; no entanto, com o uso, ela se revela bem prática. Operada de forma shift-by-wire, bastam leves toques nas direções desejadas até que a posição de câmbio seja alcançada. Em um carro elétrico, não se sente a necessidade das marchas de uma transmissão comum, porque o veículo vai sempre ganhando velocidade de forma linear quando o acelerador é pressionado, graças ao torque disponível instantaneamente. 

Em baixa velocidade, o silêncio é tanto que às vezes é possível ouvir o barulho dos pneus. Não por acaso, o Nissan emite um apito externo quando está andando devagar para alertar pedestres de sua movimentação. Mas, em condições de estrada, o barulho de vento, o ruído (baixo e agudo) do motor elétrico e o som do ar-condicionado em funcionamento fazem com que o nível de ruído do Leaf na cabine não fique tão distante assim de um carro a combustão em rotação baixa e com bom isolamento acústico.

Apesar de não dispor de ajustes elétricos, o banco do motorista dispõe de bons apoios para o corpo (especialmente lombares), ajudando a diminuir a fadiga de uma viagem de quase três horas. O volante também se destaca pela ergonomia de seu formato, e a assistência da direção é bem agradável em todas as situações. O ar-condicionado gela tanto quanto em um automóvel com motor a combustão e o sistema de som tem qualidade satisfatória. Os limpadores de para-brisa e esguichos também funcionaram bem quando demandados. Além disso, o vidro traseiro fica bem resguardado dos pingos de água nas chuvas. 

O conjunto de suspensão foi um dos aspectos que mais surpreendeu na condução do Leaf. Considerando que é um carro importado (vem de Sunderland, na Inglaterra), o nível de absorção de irregularidades do piso é muito bom e lembra bastante o de um veículo pensado para o Brasil, como o Kicks. Para se ter uma ideia, sua altura em relação ao solo, de 15,5 centímetros, é maior que a do Versa (14,3 cm). O hatch encarou todas as lombadas sem raspar o assoalho e só chegou a fim de curso da suspensão uma vez durante todo o trajeto, em um buraco fundo no asfalto. Além disso, o elétrico da Nissan passou sem problemas pelos trechos enlameados da Pousada Praia dos Carneiros. Vale destacar que o posicionamento das baterias no assoalho colabora para que o Leaf se mantenha bastante estável nas curvas.

A posição de dirigir lembra a do Versa: o condutor fica em posição mais baixa do que nos SUVs. Em termos de visibilidade, o modelo agrada, principalmente pela área envidraçada â frente e pelos retrovisores bem-dimensionados. O espelho interno anti-ofuscante escurece assim que luzes fortes são refletidas, o que ajudou no trecho noturno do test-drive. Já os espelhos externos acendem luzes alaranjadas quando algum veículo é detectado na região de pontos cegos. Se mesmo assim o motorista der seta indicando que vai se deslocar para a mesma faixa do automóvel no ponto cego, o hatch emite um alerta sonoro.

Em trechos onde os pneus passavam sobre as faixas da pista, o volante vibrou para alertar o condutor de que ele deve manter a atenção, de modo similar ao Kicks Exclusive, e é capaz de emitir um aviso para o motorista colocar as mãos no volante. Diferentemente das versões mais completas da Frontier, que podem frear de forma autônoma para mitigar a saída de pista, o elétrico não dispõe de um sistema mais complexo que realize correções na direção para evitar a invasão da outra faixa. Em compensação, o Leaf traz um dispositivo muito útil que nenhum outro Nissan vendido no Brasil dispõe: o controlador automático de velocidade e distância do veículo à frente. Com ele, é possível estabelecer três níveis de distanciamento do automóvel adiante, e programar uma velocidade para o Leaf andar. Caso o veículo da frente esteja mais lento, automaticamente o Nissan elétrico vai diminuir o seu ritmo, a fim de evitar uma colisão. Até mesmo no nível mínimo de distância do veículo à frente, o Leaf mantém um afastamento adequado.

Durante o primeiro dia de test-drive, foi possível utilizar diversos recursos de tecnologia do Leaf. De longe, o recurso mais interessante é o e-Pedal, que promove uma desaceleração mais forte assim que o motorista libera o pedal do acelerador. Dependendo do poder de antecipação do motorista no trânsito, é possível "esquecer" do pedal do freio e dirigir apenas pisando no acelerador (é bom que se diga que o freio continua a poder ser acionado a qualquer momento). Em velocidades urbanas, o sistema é bem útil e permite uma parada completa do Leaf, além de ativar automaticamente o Stop Hold, que aciona o freio hidráulico e permite que o veículo permaneça freado mesmo com o câmbio em D ou B. O sistema é capaz até mesmo de manter o carro freado e em P quando o motorista sai do veículo e abre sua porta.

Mas a desaceleração mais forte (principalmente com o câmbio em B), que pode chegar a 0,2 g, é capaz de assustar um pouco o motorista caso o pedal de acelerador for solto repentinamente. É preciso dirigir por algum período para se acostumar com o jeito que se tira o pé direito para desacelerar mais suavemente. Em compensação, mesmo com o Stop Hold ativado, o esforço para acelerar o carro é mínimo. Nas estradas, onde as desacelerações são menos constantes e é interessante que o veículo possa percorrer mais quilômetros de forma mais fluida, o e-Pedal se torna mais dispensável, mas pode continuar a ser usado para poupar o pedal do freio. 

O modo Eco, quando acionado pelo botão no console, instantaneamente faz a autonomia estimada aumentar no quadro de instrumentos e reduz as respostas do acelerador e a eficiência do ar-condicionado. Não por acaso, ele ficou acionado por todo o tempo durante o primeiro dia de test-drive (que tinha o objetivo de alcançar a maior autonomia possível). Além disso, ao invés da posição Drive do câmbio, optamos pela utilização do modo B em todo o percurso no primeiro dia. 

O trajeto do test-drive se iniciou na tarde do dia 30 de maio, tendo como ponto de partida a concessionária Eurovia do bairro Caxangá. Foram cerca de 115 quilômetros percorridos na ida até a Pousada Praia dos Carneiros, onde os jornalistas pernoitaram. Mas antes, houve uma parada na Praia do Paiva, onde houve a troca de motoristas. Na volta, ocorrida no dia 31 de maio, o percurso foi quase idêntico, exceto pelo final, onde seguimos por um trajeto à beira-mar nas proximidades da Praia de Boa Viagem até chegar ao Nau Restaurante. 

Foto: Marco Antonio Teixeira - Divulgação/Nissan
Foto: Marco Antonio Teixeira - Divulgação/Nissan

Com a média de 12,8 kWh de energia por 100 quilômetros rodados no primeiro dia de testes, eu e o jornalista Marcondes Viana, do Ceará, fomos os vice-lideres de economia no desafio promovido pela Nissan, dirigindo 100% do tempo com o ar ligado. Os vencedores, Duda Godinho e Roberto Nunes, ambos da Bahia, registraram a média de 12,7 kWh/100 km. O teste pelas ruas e estradas de Pernambuco teve variáveis que não poderiam ser controladas pelo motorista (principalmente o trânsito, que atrapalhou um pouco na cidade, nas situações de congestionamentos e veículos lentos, e na estrada, com alguns motoristas apressados "empurrando" os Leafs). A vice-liderança neste ranking tem um gosto especial para mim, que nunca antes havia dirigido um veículo elétrico. Outro detalhe: eu e Marcondes fomos os primeiros jornalistas a chegar à Pousada Praia dos Carneiros (local do final do test-drive no primeiro dia), ajudados pelas instruções do GPS e por termos feito uma rota errada somente uma vez.

Já no segundo dia, dirigimos o Leaf com a transmissão em D. Sem a obrigação de alcançar uma condução mais econômica, foi possível acelerar mais e se dar conta de que o torque do Leaf é entregue instantaneamente (em apenas 0,1 segundo), facilitando bastante as retomadas de velocidade. De acordo com a Nissan, o hatchback acelera de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos e alcança 144 km/h de velocidade máxima. 

No trajeto de 213,7 quilômetros e rodando a uma velocidade média de 39 km/h, alcançamos a marca de 13,6 kWh/100 km - resultado melhor que o consumo energético combinado pelo padrão do Inmetro, que é de 15,98 kWh por 100 km. Hoje, é possível fazer tranquilamente uma viagem no Brasil com um automóvel elétrico, mas vai depender da quilometragem do trajeto e de como é a infraestrutura de recarregamento na região a ser percorrida.

Para concluir...

A iniciativa da Nissan em ampliar mais uma vez a rede de concessionárias no Brasil aptas a vender o Leaf coloca a marca japonesa à frente de outras montadoras na corrida pela mobilidade elétrica no País. Com mais lojas preparadas para vender e dar assistência técnica ao hatch, mais pessoas passam a conhecer o modelo e considerar a ideia de ter um automóvel elétrico. Não é à toa que a Nissan apresentou um exemplar do Ariya para o evento realizado em abril deste ano para falar sobre planos futuros da marca: enquanto estamos falando hoje sobre o Leaf, a marca certamente está se preparando para a futura ofensiva de SUVs elétricos, que incluirá modelos como Volkswagen ID.4 e Renault Mégane E-Tech.

Vem conferir a Galeria de Fotos do Nissan Leaf Tekna 2022!







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