Texto e fotos | Júlio Max, de Teresina - PI
Matéria feita em parceria com @showcarsthe
Ele chega ao mercado como o lançamento mais importante da Peugeot para o mercado brasileiro neste ano. Esse carro pretende ser tão revolucionário no segmento quanto foi o 206 no finalzinho da década de 1990 e começo dos anos 2000. O Auto REALIDADE teve a oportunidade de passar dois dias com a nova geração do Peugeot 208, poucos dias antes do lançamento nacional.
Apesar da camuflagem lembrar muito a de um carro de testes, é importante ressaltar que esses QR Cars na verdade são carros de produção em série, e portanto não são as mesmas unidades utilizadas para o aperfeiçoamento e testagem de componentes do veículo, pois a camuflagem destes carros é diferente (traz uma padronagem que torna mais difícil reconhecer as formas e os volumes). Tanto é que "nosso" 208 foi cedido com apenas 85 quilômetros rodados e tinha sido emplacado um dia antes de ser emprestado.
Mesmo com a carroceria ainda disfarçada, é possível notar elementos de estilo bastante marcantes do novo Peugeot 208. A frente conta com duas barras em LED que cortam os para-choques e lembram os dentes de um tigre-de-sabre - uma das inspirações felinas para o estilo do modelo. A intensidade desta iluminação diminui quando lanternas e faróis são ligados (nesta versão, os faróis baixo e alto são halógenos). Outro destaque é a grade em preto-brilhante com dezenas de frisos cromados que valorizam a tridimensionalidade do conjunto. Logo abaixo há outra grade, bem mais fina, no para-choque dianteiro.
Na lateral, as rodas da versão Active Pack são de 16 polegadas, prateadas e com os raios levemente rotacionados, dando impressão de movimento, mesmo parado. As versões Allure e Griffe utilizam esse mesmo estilo de roda com a parte interna escurecida. Os pneus são os Bridgestone Ecopia 195/55. Apenas o estilo arredondado das janelas traseiras chega a lembrar o 208 antigo.
No para-lamas traseiro esquerdo, chama a atenção o tamanho da portinhola do tanque de combustível (de 47 litros) - vale lembrar que a marca também pensou que este local pudesse ser usado para, no 208 elétrico, ser inserida a tomada para recarga, mais grossa.
E na parte traseira vemos novamente uma inspiração felina, agora nas lanternas, com três lentes inspiradas nas garras de um leão, elemento de estilo também presente nos SUVs 3008 e 5008. O para-choque de trás possui uma moldura preta simplificada, diferente do modelo europeu, por ser uma peça em plástico rugoso sem refletores ou luz traseira de neblina.
Aliás, passando agora para o interior, é possível contatar que o estilo do ambiente também passa a lembrar bastante o desses SUVs. Note que painel e forros de porta parecem integrar um conjunto só, com a continuidade de texturas e frisos.
A Peugeot manteve o esquema i-Cockpit, que consiste no quadro de instrumentos posicionado acima do volante, possibilitando ao motorista enxergar as informações com menos distrações. A novidade é que o volante passa a ter estilo mais futurista, de dois raios e com base e topo retos.
No raio esquerdo, o volante traz botões de comandos de voz, regulagem do volume e alternância das informações do computador de bordo. Já o raio direito possui o controle de chamada telefônica, controle da faixa de rádio/música, botão para visualizar lista (útil para ver playlists, por exemplo) e source (para alternar a fonte da música). Nessa versão, o volante é de plástico, mas a textura é boa e a coluna ajusta em altura e distância.
O quadro de instrumentos digital e com efeito tridimensional é exclusivo das versões Allure e Griffe. Nesta versão Active Pack, conta-giros e velocímetro são analógicos, e os ponteiros correm em sentidos contrapostos. Na hora de dar a partida, eles giram até o final.
Ao centro fica a tela monocromática do computador de bordo, que exibe o velocímetro digital, informação do cruise-control, posição do câmbio, hodômetro e, no canto direito, informações que podem ser alternadas (autonomia, consumo médio, distância percorrida e velocidade média).
À esquerda estão as hastes para acender os faróis (na posição apagada, os LEDs do para-choque ficam acesos) e também do controlador e limitador de velocidade. Ainda à esquerda, mais abaixo, está o comando-satélite do piloto automático, meio escondido. À direita, o limpador de para-brisa conta com ajuste intermitente variável.
O porta-luvas tem bom espaço e nicho na tampa para pequenos objetos, porém não é iluminado e a maçaneta foi posicionada na vertical e não na horizontal como é mais comum, o que requer adaptação.
O sistema multimídia Connect Radio com tela sensível ao toque de 7 polegadas tem posicionamento "flutuante", como é tendência no mercado. A tela inicial exibe seis menus: Rádio, Navegação, Climatização, Telefone, Aplicações e Veículo. No menu "Aplicações" é possível usar Android Auto e Apple CarPlay (com fio), além de abrir o computador de bordo, com informações instantâneas e de trajeto (1 e 2).
No menu "Veículo" é possível desligar/ligar o controle de tração, desativar/ativar o acionamento do limpador traseiro ao engatar a ré e realizar o diagnóstico do veículo, que exibe alertas em caso de mal-funcionamentos. Vale lembrar que o carro não tem GPS nativo, então o menu "Navegação" exibe o app espelhado (como Waze ou Maps). Caso uma das portas esteja aberta, ela é mostrada individualmente no monitor, como no C4 Cactus. No canto direito da tela há o botão para desligar/ligar a central e a única entrada USB do carro para transmissão de dados (a USB inferior, com borda iluminada, é apenas para carregamento).
A versão Active Pack conta com câmera de ré com linhas de guia fixas, porém a funcionalidade Visio Park 180º, que alterna os ângulos de visão, é exclusiva das versões mais caras. Bola fora foi a falta dos sensores de estacionamento traseiros, presentes só no topo-de-linha Griffe.
A tela da central multimídia também exibe informações do ar-condicionado digital de zona única com modo automático, com regulagem de 1 em 1 grau. Uma funcionalidade interessante: quando o aparelho é ligado, primeiro ele joga ar frio para a região dos pés, para em seguida direcionar o vento pelos difusores do painel. Logo abaixo das saídas de ar centrais há uma fileira de botões, que a Peugeot chama de "Toggle Switches" e servem como atalho para funções importantes do carro, como travamento de portas, recirculação de ar, pisca-alerta, desembaçador e operação do ar-condicionado com intensidade máxima.
Porém, a opção de reunir os comandos de ar-condicionado na tela do sistema multimídia é pouco prática, especialmente por demandar que você saia do menu de música ou GPS para ajustar o ar. Outro ponto que devia ser revisto é a forma de fechar as aletas das saída de ar, que é empurrando o difusor mais para a direita possível: isso faz com que o motorista tenha certa limitação no direcionamento do ar.
À frente da alavanca de câmbio existe um compartimento excelente para acomodar um celular, que traz uma entrada USB no canto direito, exclusiva para carregamento. Já o console entre os bancos é diferente do modelo europeu, trazendo o tradicional freio de mão, além de dois porta-copos (curiosamente, o da frente é maior que o de trás) e uma tomada 12 Volts. Como o Active Pack não possui o apoio de braço integrado das versões mais caras, o fim do console conta com mais um porta-objeto.
O acabamento é condizente com o segmento, predominantemente com plásticos rígidos bem montados, com texturas em alto-relevo na parte central do painel (se estendendo para parte dos forros de porta da frente) e insertos em tecido para os apoios das portas dianteiras.
Nesta versão, os bancos são de tecido, com estampagem cinza e costuras brancas aparentes, também presentes na coifa da alavanca de câmbio. Os bancos da frente trazem bom apoio para o corpo, mas atrás o espaço é o calcanhar-de-Aquiles do carro, principalmente para as pernas, mesmo considerando que os bancos dianteiros possuem recuos atrás (sem porta-revistas) para acomodar um pouco melhor os joelhos. Os cintos dianteiros só ajustam em inclinação.
O 208 Active Pack conta ainda com o teto panorâmico fixo, que se estende até os passageiros de trás. A cortina é operada manualmente. Curiosamente, no exemplar cedido, o teto também estava camuflado. A iluminação de teto lembra a do modelo anterior, com luz única dianteira que acende em "fade".
Os para-sóis contam com espelhos e tampa para motorista e passageiro. E, algo que está se tornando raro em outros modelos do segmento, as alças de teto se mantém no 208 para os passageiros da frente e de trás, com retorno suave.
Na porta do motorista ficam localizados os comandos dos retrovisores e vidros elétricos, sendo que estes possuem acionamento por um toque na subida e descida para os quatro vidros. Há ainda o botão de bloqueio das janelas traseiras.
Na versão Active Pack, a chave do tipo canivete é muito semelhante à do 208 já existente. Ela conta com botões de travamento e destravamento das portas, bem como do destravamento da tampa do porta-malas. Quando o botão de travamento é mantido pressionado, os vidros fecham.
O novo Peugeot 208 traz o já consagrado motor 1.6 16 válvulas Flex, com comando de válvulas variável na admissão, pré-aquecimento do combustível (dispensando o reservatório de partida a frio) e coxim lateral hidráulico que reduz em até 70% as vibrações transmitidas à cabine. O rendimento é de 115 cavalos com gasolina e 118 cavalos com etanol, com torque de 16,1 kgfm com qualquer um dos combustíveis.
Neste primeiro momento, todas as versões do 208 terão o câmbio automático de 6 marchas, com modo sequencial de trocas de marcha (melhor dizendo semi-sequencial, pois ele faz algumas intervenções sem depender da decisão do motorista) e botões Eco e Sport (que ficam no canto inferior esquerdo do painel), para quem quiser uma tocada mais ágil ou preferir poupar um pouco mais de combustível. Ele mantém o trilho sinuoso (podendo ser deslocado com o carro desligado), mas agora esse trilho é coberto com uma coifa, assim como no C4 Cactus.
O volume do porta-malas é de 265 litros. Ao levantar o forro, é possível notar que sobrou um bom espaço entre o estepe de uso temporário (125/80 com roda de ferro de 15 polegadas) e o fundo do porta-malas. O habitáculo possui iluminação na parte esquerda. No forro da tampa há recuos para as mãos tanto do lado esquerdo como no direito para ajudar a fechá-la. Para ampliar o espaço é possível rebater o encosto do banco traseiro, que é inteiriço.
Em termos de segurança, o 208 Active Pack traz airbags frontais e laterais nos bancos dianteiros, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em ladeiras, barras de proteção nas portas (vale lembrar que o antigo 208 nacional não contava com esta proteção), além de cintos de três pontos para todos, apoios de cabeça ajustáveis e fixações para cadeirinhas infantis. Curiosamente, os ganchos ISOFIX são cobertos com zíperes.
Há ainda o alerta do não-uso dos cintos dianteiros, sendo que aparecem ícones diferentes no quadro de instrumentos para cinto do motorista ou do passageiro dianteiro desafivelados. O alarme sonoro soa mais alto após alguns segundos.
Impressões ao dirigir
Ao entrar no 208, o que chama a atenção é o formato do volante, com base e topo retos. Inclusive, por ter apenas dois raios (e base e topo praticamente simétricos), às vezes é preciso olhar o volante para ter certeza de que ele parou na posição certa. Outra coisa que requer adaptação é o jeito de mexer a alavanca de câmbio pelo trilho sinuoso e coberto. A posição mais elevada dos instrumentos faz com que seja quase mandatório ajustar um pouco para cima o banco do motorista para poder enxergá-los, mas a posição de dirigir é muito boa, até por conta do ajuste em profundidade do volante, um recurso raro em sua faixa de preço.
A direção é bastante leve em baixa velocidade, um padrão dos atuais modelos da PSA, e a progressividade da assistência elétrica garante o peso necessário em velocidades mais altas.
Apesar do motor 1.6 estar no mercado há muito tempo, ele ainda consegue dar ao 208 um bom desempenho nas acelerações e retomadas. Confira os resultados dos nossos testes, feitos apenas com o motorista, com gasolina, em ambiente seguro, câmbio em modo Drive automático e com o ar-condicionado do veículo desligado:
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,7 segundos
Retomada de 40 a 80 km/h: 5,8 segundos
Retomada de 60 a 100 km/h: 7,2 segundos
Retomada de 80 a 120 km/h: 8,3 segundos
Em termos de performance, portanto, o 208 ainda satisfaz, mas em compensação o 1.6 cobra sua conta no consumo de combustível, mesmo com o câmbio automático nitidamente adotando o comportamento de escalar marchas mais altas no intuito de reduzir o consumo de combustível, chegando a engatar a sexta marcha a cerca de 60 km/h. Porém, esta transmissão às vezes é indecisa em relação a que marcha engatar, em outras vezes pula marchas (exemplo: ao acelerar fundo, ele passa da 2ª para a 4ª marcha, ou da 1ª para 3ª, mesmo nos modos Sport ou sequencial) e em alguns momentos as trocas carecem da suavidade esperada para um modelo automático.
O que é realmente surpreendente no novo 208 é o conjunto de suspensão, que absorve bem as irregularidades do piso, bem ao gosto do brasileiro, transmitindo ótimo nível de conforto aos ocupantes. Nas curvas em alta, os pneus cantam um pouco, mas suspensão e direção transmitem segurança para manter a velocidade ao contorná-la.
O isolamento acústico é bom, ajudado pela manta de isolamento junto ao capô, e o nível de vibrações na cabine é nitidamente baixo, graças ao novo coxim no cofre do motor.
Curiosidades de dirigir um carro camuflado
Quando flagrei pela primeira vez um carro de teste de montadora com a carroceria toda quadriculada (no caso, o Chevrolet Agile, no ano de 2009), nem imaginava que um dia estaria "do outro lado", dirigindo um carro camuflado - ok, é verdade que, como explicamos acima, a unidade que dirigimos não fazia parte das etapas do desenvolvimento do veículo. Curiosamente, não existiu padrão único de camuflagem para os carros da ação QR Car: algumas concessionárias camuflaram a parte inferior da grade e os LEDs dos para-choques; teve uma que deixou o símbolo da Peugeot à mostra. Em alguns carros, a camuflagem era um pouco mais escura, com os QR Codes brancos se sobressaindo. E teve até uma loja, a La Fontaine, que camuflou até onde não devia, cobrindo as luzes de seta e de ré das lanternas do seu exemplar.
Primeiramente, paramos o 208 em um estacionamento onde ocorria um encontro de carros antigos. Mas a reação dos presentes foi um balde de água fria: vários ali sequer tiveram interesse em saber que carro era aquele. Poucas pessoas tiveram curiosidade de parar para saber de alguma coisa sobre o QR Car da Peugeot, mas encontramos um rapaz que disse que já teve outros 208 e se aproximou para vê-lo. Como estávamos diante de um contrato de confidencialidade rígido, não pudemos abrir o carro para o moço, mas ele gostou do interior com as "teclas de piano" ao esticar o pescoço pela janela.
Ao circular pelas ruas de Teresina, porém, as coisas começaram a mudar de figura. Foi possível notar vários carros emparelhando, com os ocupantes apontando o celular para "nosso" carro. Próximo ao Encontro dos Rios, pessoas pediram para tirar fotos do 208 e um homem até fez pose para nossa lente, apontando o celular para o QR Code.
No dia seguinte, um casal estava tentando arriscar que carro era aquele, e o homem chutou "parece que é um Fiat", mas depois deram uma olhada pela janela e constataram se tratar de um Peugeot. Abastecemos ao final da matéria, e o frentista soltou um "esse aí vai vir bonito, hein?".
De fato, o novo Peugeot 208 aposta bastante no visual e na tecnologia para atrair clientes. Mas confessamos que o susto ao saber dos valores das versões do modelo foi grande. Estimávamos que esta versão custaria algo em torno de 75 mil reais, então dá pra imaginar a frustração ao saber que o Active Pack custa R$ 82.490...
Vem conferir a Galeria de Fotos do Novo Peugeot 208 (QR Car)!
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