A rede de concessionárias enfrenta situação muito difícil em
razão da pandemia do novo coronavírus. Continuam com portas fechadas para
vendas presenciais e as oficinas funcionam em ritmo bem lento: só atendem quem
tem problemas imprevistos. As revisões programadas foram postergadas sem
prejudicar os prazos de garantia por consenso de praticamente todas as marcas.
O mercado deve reagir apenas no último trimestre, sem
compensar, no entanto, a queda deste e do próximo. A Fiat projeta crescimento
de versões mais simples. Mas compradores de maior poder aquisitivo, ainda
ativos no mercado, elegem versões mais caras. É esperar para ver.
Em conversa com o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção
Jr, ele resumiu as dificuldades:
“O Brasil tem 7.300 concessionárias em 1.050 municípios e
emprega 315.000 pessoas, sendo 90% de porte pequeno ou médio. A maioria está no
pronto-socorro, em emergência, nem mesmo deu entrada no hospital. Estimo que em
até 20 dias, se não for permitido pelo menos reabrir as portas, 30% da rede
poderá não sobreviver. As exceções são poucas, como as que têm oficinas nas
cercanias de estradas para atender caminhões e ônibus.”
“Sei que vários fabricantes estão fomentando o comércio
eletrônico, os compradores podem completar todo o processo de compra
virtualmente e até receber o carro em casa mesmo sem estar ainda emplacado
agora pelo fechamento dos Detrans. Mas este canal representava apenas 5% das
vendas totais. Pode aumentar para 10% ou 15% por falta de opção de ir até um
ponto de venda para quem precisa muito de um veículo novo. Em cidades médias e
pequenas as compras via internet quase não têm representatividade.”
“Minha preocupação maior é com as vendas financiadas que já
estavam quase atingindo a normalidade em torno de 60% do total. Estamos
voltando aos tempos da última crise, quando só três de cada dez fichas
cadastrais eram aprovadas. Há também um grupo menor de compradores que compra à
vista, mas estes talvez esperem um momento mais favorável.”
O isolamento social tem levado inúmeros problemas ao setor automobilístico,
mas a retomada gradual das atividades traz um pequeno alento. Entre abril e o
fim de maio quase todos os fabricantes de veículos leves e pesados voltarão
lentamente a produzir em um turno.
Toyota e Honda anunciaram que só religarão as máquinas em
junho. Principal motivo é a proteção dos funcionários contra a pandemia
Covid-19. Porém, ambas têm uma posição muito cautelosa em relação a estoques com
um gerenciamento rigoroso nos pátios das concessionárias. A GM também mostra
cautela e preferiu não estabelecer uma data para retornar à ativa. A Ford ainda
avalia a data de retorno.
Todos os fabricantes que recomeçam adotam regras rígidas de
higiene e providências para evitar aglomerações desde o transporte em ônibus
fretados até os refeitórios. A indústria é formada por uma longa cadeia de
fornecedores e os pequenos deverão ser ajudados financeiramente na medida do
possível para voltar a produzir. Se faltar uma única peça, não tem carro
pronto.
A indústria automobilística preconiza aumento de liquidez em
forma de crédito bancário acessível e até adiamento de impostos. Pablo Di Si,
presidente da VW, estima em R$ 40 bilhões e Carlos Zarlenga, presidente da GM,
vai além, R$ 50 bilhões, para enfrentar o dificílimo trimestre abril-junho e
também o segundo semestre. Cortar os investimentos previstos em novos produtos
não será suficiente.
Audi e-tron
O primeiro carro 100% elétrico da Audi chega com algumas características
surpreendentes. É um SUV de grande porte semelhante estilisticamente ao Q8, mas
de linhas mais suaves e agradáveis. Na versão de topo trocou os espelhos
retrovisores por câmeras de alta definição. Trata-se, porém, de um opcional por
R$ 13.000. Exigem alguma adaptação por parte do motorista porque as duas telas nas
laterais de portas estão posicionadas numa linha de visão abaixo do nível
superior do volante, embora as imagens sejam muito boas. Noção de distância
assemelha-se aos espelhos convexos atuais.
Tração é nas quatro rodas e os dois motores elétricos têm
potências diferentes: no eixo dianteiro, 168 cv e no eixo traseiro, 188 cv, um
arranjo voltado ao desempenho. A potência combinada é de 356 cv e 57,1 kgfm,
mas há uma função boost que eleva os valores
para 402 cv e 66,7 kgfm, naturalmente consumindo mais energia da bateria.
Funções bem interessantes são das borboletas atrás do
volante, pois automóvel elétrico dispensa caixa de câmbio (Porsche Taycan é
exceção com duas marchas). O comando do lado esquerdo aumenta a frenagem
regenerativa sem precisar do pedal do freio em quase todas as situações. A do
lado direito tem função inversa, a de melhorar as retomadas de velocidade.
Autonomia, 436 km. Carga ultrarrápida, 30 min (0 a 80%); ultralenta, 40 h (0 a
100%).
Com 2,93 m de entre-eixos o espaço para pernas é amplo no
banco traseiro. Bancos dianteiros, perfeitos. Materiais de acabamento de alta
qualidade. Preço é alto: R$ 499.990 a 579.900.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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