Os efeitos do novo
coronavírus no mercado brasileiro de veículos serão perversos, mas ainda não dá
para dimensioná-los. Mesmo porque o trabalho remoto instaurado por muitas
empresas ameniza, em parte, a crise e pode ajudar na recuperação econômica.
Até agora o ano
estava indo muito bem. A média diária de vendas de veículos leves e pesados
atingiu 10.716 unidades de 1º de janeiro até segunda-feira, dia 16 (6,4% superior
a 2019). Neste dia, porém, a média recuou 8% para 9.861 unidades. A
comercialização de usados também refletiu a insegurança sobre os rumos da
economia e tinha caído cerca de 10%, segundo estimativas.
Problema do covid-19
é mundial e teme-se falta de autopeças vindas do exterior. A Fenabrave
ressalvou que os estoques nas concessionárias vão de 45 a 60 dias incluindo
motos, máquinas e implementos Então, daria para cobrir eventuais paradas das
linhas de montagem e, avalio, sem atingir de forma homogênea todas as marcas.
Cenário ruim, embora não desesperador, por se desconhecer o grau de retomada
após esperados três meses de prostração.
Outro fator de
incerteza – dólar no patamar de R$ 5 – pode atormentar as fabricantes de forma
diferente. Antes devo ressalvar, ao contrário do pensamento corriqueiro, que há
décadas o Brasil não exige índice mínimo de conteúdo de peças locais nos
produtos aqui fabricados. A exceção ocorreu no período do programa Inovar-Auto
(2012-2017), mas o motivo implícito foi segregar os modelos importados em época
de real supervalorizado.
É difícil calcular
hoje o conteúdo importado em razão das autopeças também conterem itens vindos
do exterior, principalmente na eletrônica de bordo. No geral estimo algo entre
40% (modelos recentes e alta incidência de eletrônicos) e 10% (aqueles há
tempos no mercado). Quanto se repassará para o preço dependerá do conteúdo
local do modelo e da estratégia de cada fabricante. Nessas circunstâncias o
impacto não será linear e nem integral.
A GM sofreu o primeiro
impacto da crise. Seu principal lançamento do ano, o novo SUV compacto Chevrolet
Tracker não teve apresentação presencial para concessionárias e imprensa (optou
por streaming de vídeo). No entanto,
anunciou preços tão competitivos quanto os dos Onix/Onix Plus, em 2019 (embora estes
já tenham até sido majorados).
O Tracker começa em R$
82.000 e chega a R$ 112.000. Motores, só tricilindros turboflex, desde o atual
1-L dos Onix (116 cv/16,8 kgfm) ao novo 1,2-L (132 cv/21,4 kgfm), como
antecipei no ano passado. Nos dois casos, potência e torque são inferiores ao
modelo que se despediu. Apesar de o novo SUV ser, em média, 160 kg mais leve
que o anterior, na relação peso-potência a versão de menor cilindrada fica em
posição inferior (10,6 kg/cv) e a mais potente quase iguala (9,3 kg/cv, agora;
antes 9,1 kg/cv). Isso será avaliado na próxima coluna.
Espaço interno
melhorou um pouco: o novo modelo é 1,5 cm maior tanto na largura (179 cm) quanto
na distância entre-eixos (257 cm). Apesar de mais baixo, espaço para cabeça foi
ampliado. Grande avanço foi no porta-malas que passou a 393 litros (antes, 306
litros) ou 28% superior ao acanhado volume anterior.
ALTA RODA
NO MOMENTO, não há notícias de atrasos em lançamentos. VW ainda não marcou data para o esperado Nivus (SUV compacto com teto que lembra cupês), mas produção está prevista para primeiro de junho. Já seu SUV médio argentino só em primeiro de janeiro de 2021. Picape Amarok (272 cv) deve chegar em maio, pois acaba de estrear na Argentina.
APRESENTAÇÕES presenciais,
porém, vem sendo canceladas, uma atrás da outra. No caso de produto
inteiramente novo, como picape Strada, em abril, haverá transmissão ao vivo via
internet. Fabricantes sabem que impacto é menor do que uma convenção. Contudo,
evitar reunir grande número de pessoas e viagens de avião atendem recomendações
do ministério da Saúde.
CAOA CHERY lançou o sedã anabolizado Arrizo
5, modelo 2021, com câmbio CVT de nove marchas (antes, sete) e aumento de 10%
no torque (19,4 para 21,4 kgfm). São nítidas as diferenças na arrancada inicial
e menos ruído em velocidades de estrada (a 120 km/h, apenas 1.900 rpm). Versão
mais cara tem teto solar e rodas de 17 pol. Preços subiram: R$ 74.590 a R$
83.590.
RENAULT apresentou
na Europa o veículo conceitual elétrico Morphoz, inovador em um ponto bem interessante.
Distância entre eixos pode ser ampliada em até 20 cm, passando de 2,73 m para
impressionantes 2,93 m, o que melhora sobremaneira o conforto em viagens. Não
há pormenores sobre viabilidade técnica, porém esteticamente a solução ficou boa.
SOLUÇÃO atraente está sendo proposta pela ZF. Trata-se do primeiro freio de estacionamento eletromecânico dianteiro, no lugar da aplicação universal nas rodas traseiras. Além de ampliar o espaço interno, em especial nos carros compactos, trata-se de solução mais econômica e segura. Ideia vem sendo oferecida a fabricantes de veículos e espera encontrar interessados.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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