Um projeto de lei (PL) tramitava de forma lenta desde 2017 no
Senado Federal, de autoria de Ciro Nogueira (PP-PI), mas passou pela Comissão
de Constituição e Justiça. Prevê, a partir de 2030, a proibição de fabricar
veículos com motores térmicos a gasolina e diesel, embora ressalve os movidos a
etanol. E vai mais longe ao decretar que em 2040 nenhum automóvel possa
circular com combustíveis de origem fóssil.
Independentemente da ideia estapafúrdia, rejeitável em
qualquer outra comissão do Senado, reflete a evidente desinformação sobre o
tema. Deve-se considerar, entretanto, que alguns países europeus embarcaram nessa
lenga-lenga falso-ambientalista. Mesmo lá, poucas nações de população muito
baixa e altíssima renda ainda podem se dar ao luxo de impor restrições e prazos
pois dispõem de muito dinheiro para tal. Os demais se arriscam a uma marcha à
ré próxima das datas autoimpostas de 2035 ou 2040.
Necessário saber que outras regiões do planeta preferiram não
estabelecer nenhum prazo para substituir motores térmicos por elétricos. Nem
mesmo a China, maior emissor de gás carbônico (CO2) do mundo, e
muito menos EUA e Japão. Todos com gigantescas frotas de veículos. Na
realidade, sem fortes subsídios diretos na comercialização poucos comprariam carros
elétricos, em grande escala, por razões bem conhecidas.
De novo, o exemplo da China. O principal fabricante mundial
de veículos e também de elétricos decidiu cortar parte dos subsídios, mas teve
de voltar atrás porque as vendas caíram de imediato. Nessa balada ciclotímica será
difícil estabelecer regras e prazos até para cumprir o Acordo do Clima
referendado em Paris pelo gigante asiático.
Boa parte do mundo parece desprezar os riscos de aumento e
não de diminuição de emissão dos gases de efeito estufa, principal deles o CO2.
Tudo em razão da matriz energética global de geração de eletricidade para
recarregar baterias ainda ser em torno de 65% dependente de fonte fóssil:
carvão, óleo combustível, óleo diesel e gás natural. Alternativas renováveis –
entre elas, sol e vento – avançam ainda com alguma dificuldade e o potencial
hidroelétrico é limitado.
Porém, no caso específico do Brasil, a conta fica ainda mais
difícil de fechar. O País pouco prejudica o planeta em termos de emissões de
gás carbônico. Segundo o consultor Plínio Nastari, em 2018, a China é o maior
emissor mundial de CO2 em termos absolutos. Mas ao se calcular o
valor per capita, o Canadá aparece em primeiro com 15,5 toneladas por habitante/ano.
EUA estão em segundo com 14,9 t e o Japão em terceiro com 8,7 t. Nosso país
está lá atrás, no bom sentido, com apenas 2 t graças às usinas hidrelétricas,
principalmente.
O Brasil ainda deve contabilizar o etanol – em uso isolado
ou em mistura de 27% à gasolina – que ao ser produzido reduz em até 80% a
emissão de CO2. Isso ocorre em razão do ciclo de vida desde a sua
produção (fotossíntese na plantação absorve CO2 e devolve oxigênio à
atmosfera) até o que sai pelo escapamento, incluído consumo de diesel tanto no
campo quanto no transporte por caminhões.
Em conclusão, o tal PL tem utilidade perto de zero para
ajudar a “salvar” a Terra.
ALTA RODA
ALTA de cotação
do dólar se refletirá em reajustes nos veículos fabricados no Brasil, ainda
este ano. Entretanto, o percentual de repasse deve variar conforme o modelo. Produtos
recentes, com vários componentes novos de segurança e de entretenimento a bordo,
quase todos importados, serão mais afetados. Estes perderão competitividade
frente aos outros.
EMBORA o Etios
tenha sido descontinuado na Índia, a Toyota não pretende tomar a mesma
iniciativa aqui. Aquele mercado, onde Maruti Suzuki dá as cartas e GM acabou de
abandonar, é bem diferente do brasileiro. Embora haja certa superposição dos
sedãs Etios e Yaris (mesmo entre-eixos, por exemplo), há diferença razoável de
preços para justificar a coexistência.
HB20 hatch tem um
ou outro pormenor de estilo discutível, mas traz um conjunto bastante harmônico.
Em especial motor turbo, 1-litro flex, de respostas rápidas e boa integração ao
câmbio automático de seis marchas com seleção manual no volante. Na versão de
topo, frenagem autônoma emergencial é o maior destaque. Espaço interno e
porta-malas, na média dos concorrentes.
AUDI e a empresa
de energia Engie investirão R$ 10 milhões para montar até 2022 uma rede de 200
estações de recarga rápida de baterias para veículos elétricos e híbridos.
Potência de cada uma é de 22 kW, a maior disponível no mercado brasileiro
atualmente, em locais públicos, com enfoque maior em zonas urbanas. Leva cerca
de três horas para recarregar de zero a 100%.
JAPONESA Mazda
acaba de entrar no restrito clube de marcas centenárias ativas. Fundada como Toyo
Cork Kogyo, já foi comandada pela Ford, mas hoje sem ligações. Fabrica 1,5 milhão
de unidades/ano e se mantém independente, não se sabe por quanto tempo. Existem
25 marcas com 100 anos ou mais no mundo. Inglesa Vauxhall, mais antiga, tem 163
anos.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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