Se este mundo afora anda meio complicado, na indústria
automobilística está complicado e meio. As consolidações de grupos de marcas
continuam a acontecer e reservam surpresas. O casamento dos Grupos PSA e FCA
está entre essas reviravoltas. A história remonta a 2008 quando a Fiat procurou
a Peugeot pela primeira vez. Os franceses rechaçaram. Com crise financeira
bancária nos EUA, em 2009, o Grupo Chrysler (dona da Jeep) não resistiu. Foi
estatizado pelo governo americano, mas a Fiat se voluntariou a assumir o
espólio a partir de investimentos mínimos.
Fiat e Chrysler se fundiram. FCA se consolidou graças,
principalmente, à marca Jeep. Depois foi a vez de a PSA entrar em dificuldades:
o governo francês, a chinesa Dongfeng e a família Peugeot ficaram cada uma com
12% das ações e o restante em Bolsa de Valores. Aí entra o português Carlos
Tavares que saiu da Renault para reinventar a PSA e ainda comprou da GM a alemã
Opel.
FCA e a aliança Renault Nissan chegaram a estudar a fusão
três meses atrás, sem chegar a bom termo. Tavares foi paciente até, finalmente,
se acertar com John Elkann do clã italiano. O primeiro será presidente executivo
e o segundo, presidente do Conselho da nova empresa, ainda sem nome. Talvez PFCA?
Afinal, parece não haver dúvida de quem vai mandar: PSA tem seis votos no
Conselho contra cinco da FCA. O governo francês não terá poder de veto na
sociedade.
O novo grupo será o terceiro maior do mundo em vendas de
veículos, atrás da VW e da Toyota. Porém a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi,
que não forma um grupo econômico, tem volume de produção que a coloca em
segundo lugar neste quesito, deslocando a empresa que surgiu da recente fusão
para a quarta posição.
Há muitas implicações deste atual cenário. Tavares e o
inglês Mike Manley, executivo-chefe da FCA, são engenheiros e têm afinidade por
se conhecerem há mais de 10 anos. Fiat abandonará os convencionais subcompactos
(haverá só versões elétricas) para investir em compactos. Ao aproveitar as arquiteturas
mais modernas da PSA terá ganho de escala para incluir novos compactos, SUVs,
crossovers e até médios. Problema será administrar tantas marcas. A VW
conseguiu...
A repercussão da fusão no Brasil será lenta pois devem montar estratégia complementar e de sinergia
nos futuros produtos. O quebra-cabeça para acomodar aqui produtos semelhantes na
mesma faixa de preço se tornará um desafio e tanto.
Nos EUA, onde a Fiat fracassou, a Peugeot quer se insinuar,
não é de agora. Neste caso o cenário parece mais benigno porque já se sabe o
que deu errado. Vender o minúsculo Fiat 500 para os americanos foi má ideia do
falecido executivo da FCA, Sergio Marchionne, que entretanto acertou ao
investir na Jeep para torná-la mundial. Há problemas na China. Todas as marcas
do novo grupo estão penando por lá, com vendas em queda.
Outra consequência: Renault e Nissan, com participações
acionárias cruzadas e desalinhadas, terão de se entender para formar um grupo verdadeiro
e coeso. Basta o governo francês deixar de atrapalhar.
Por fim a pergunta sem resposta. Próxima fusão?
ALTA RODA
AINDA em fase de
concepção, vem aí a Delegacia Virtual. Em um smartphone será possível registrar
Boletins de Ocorrência (BO) com ajuda de Inteligência Artificial, localização
por satélite e reconhecimento facial. Protótipo do produto foi apresentado esta
semana, em São Paulo, pelo Serpro na Futurecom, maior feira de transformação
digital da América Latina.
JEAN-PHILIPPE Imparato,
presidente mundial da marca Peugeot, esteve no Brasil, semana passada. Conversou
com jornalistas horas antes do anúncio da fusão do grupo francês com a FCA, mas
logo avisou que nada podia adiantar. Reconfirmou a picape média. Sobre os novos
208 e 2008, apenas olhou para cima. Há ainda um quarto modelo, possivelmente o 1008.
ENTRE os SUVs, um
dos mais interessantes sempre foi o Forester, da Subaru, marca especialista em
4x4. Nessa nova geração tudo está discretamente incrementado: dimensões
internas e externas, porta-malas e até o motor 2-litros/156 cv/20 kgfm. Muito
bom de guiar, não emociona tanto ao acelerar. Há um ótimo pacote de assistência
eletrônica e câmeras.
VOLKSWAGEN optou por versão única e completa, importada da Alemanha,
do híbrido plugável Golf GTE. Há cinco modos de operação do puramente elétrico
(até 50 km de alcance) ao híbrido com motor 1,4 L (até 900 km de alcance). Apesar
de certa complexidade no uso, o carro acelera muito bem (0 a 100 km/h, 7,6 s),
apesar dos 300 kg extras. Lote inicial: 100 unidades. R$ 199.990.
QUASE simultaneamente
chegou o crossover Chevrolet Bolt, 100% elétrico. Preço, com subsídio
voluntário do fabricante, é de R$ 175.000, bem competitivo frente a modelos do
mesmo tipo. Suas vantagens são o espaço interno, a regeneração durante
frenagens e acelerações. A fabricante não previu quanto pode vender, porém
nomeou 25 concessionárias em 12 cidades.
RESSALVA: Preços do
Suzuki Jimny Sierra: R$ 103.990 a 122.990.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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