O Auto REALIDADE está completando dez anos e tivemos a ideia de preparar uma matéria que evidenciasse o quando os automóveis evoluíram de dez anos para cá. Então colocamos lado a lado - e dirigimos! - dois exemplares do Honda Fit: um deles fabricado em 2010, e outro zerinho, já modelo 2020.
Para estas fotos, usamos uma unidade zero-quilômetro do modelo EX que também tinha a carroceria prata. A intenção desta matéria não é estabelecer um rigoroso comparativo entre o Fit 2010 e o 2020 - até porque a unidade do início da década é um modelo intermediário 1.4 LXL automático, enquanto o carro zero em que fizemos o test-drive é uma versão completa EXL. Aqui, vale mais destacar os aspectos que mudaram em um mesmo modelo de carro ao longo de 10 anos.
O Fit foi lançado no Brasil em 2003, e a segunda geração do monovolume da Honda, de 2008, ficou significativamente maior. Esse modelo teve a peculiaridade de o câmbio automático continuamente variável (CVT) ter sido trocado pelo automático com conversor de torque e 5 marchas, sob a alegação por parte da Honda de que o CVT não trabalharia bem com o motor Flex, que foi introduzido em 2007 pela marca. Naquela época era raro os carros com câmbio automático vendidos no Brasil terem mais de 4 marchas, inclusive no segmento de sedãs médios.
Já a geração atual do Fit foi lançada em 2014 e passou por uma reestilização de meio-ciclo de geração em 2017. Ele trouxe de volta o câmbio automático CVT e eliminou um dos detalhes curiosos que existiam na geração anterior, que era o bocal no para-lama dianteiro direito para abastecer o tanquinho de partida a frio, que injetava gasolina com o motor frio abastecido com álcool, em dias gelados e inexistentes aqui em Teresina. Assim, não era raro a gasolina envelhecer dentro do reservatório, ou componentes se ressecarem. Hoje, o motor 1.5 do Fit conta com o pré-aquecimento do combustível, dispensando a existência do tanquinho - que, contudo, ainda existe em um ou outro carro flex novo por aí.
Outro aspecto no qual os automóveis evoluíram muito de dez anos para cá foi a segurança. O Fit em 2010 estava acima da média no segmento na época, pois a versão LXL vinha de série com airbag duplo, freios a disco nas 4 rodas com ABS e apoios de cabeça e cintos de 3 pontos para todos os ocupantes. Hoje, o Fit EXL tem tudo isso (menos discos de freio na traseira) e ainda traz os airbags laterais e de cortina, além dos controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em subidas e fixações para cadeirinhas infantis. Vale lembrar que um dos órgãos que pressiona as montadoras a aumentar a segurança de seus carros é o Latin NCAP, que começou a realizar em 2010 crash-tests com variados veículos comercializados na América Latina. Inicialmente eram apenas colisões frontais, depois passaram a ser laterais, contra poste e ainda incluíram os testes de controle de estabilidade. A partir de 2014, airbags frontais e freios ABS passaram a ser exigidos em todos os automóveis nacionais. Para 2020, carros sem controle de estabilidade em todas as versões e frenagem automática de emergência perderão estrelas.
Interior do Fit LXL é muito semelhante ao do CX desta foto, mas a padronagem dos bancos é diferente e o LXL possui rádio de fábrica |
A conectividade também foi bastante aprimorada em 10 anos. O Fit LXL 2010 vinha com um rádio simples, com CD/MP3/WMA Player e entrada auxiliar. Nem a entrada USB vinha nele, e a única informação adicional que o pequeno visor trazia era o relógio. Na época, as telas touchscreen estavam restritas a carros de luxo, como o Ford Edge ou o Volkswagen Passat.
De uns tempos para cá, houve um aumento estrondoso na popularidade das centrais multimídia, que reúnem em uma única tela diferentes informações para o motorista. No caso do Fit EXL, há GPS, câmera de ré, espelhamento de aplicativos do celular (através do Android Auto e Apple CarPlay) e as informações sobre o som. O computador de bordo passou a ter também um layout mais informativo, em consonância com a necessidade de se obter cada vez mais informações sobre o carro.
Em 10 anos, os carros em geral também cresceram. O Fit atual é nada menos que 19,6 centímetros mais comprido do que o anterior, tem 3 centímetros a mais de distância entre eixos e o tanque de combustível passou de 42 para 45 litros. Porém, curiosamente o Fit anterior tinha porta-malas de 384 litros, e no modelo atual são 363 litros.
Além disso, o consumidor foi ficando mais exigente e passou a exigir equipamentos que antes só existiam em carros de segmentos superiores. O Fit hoje traz mimos como retrovisores que se rebatem eletricamente, apoio de braço dianteiro com porta-objeto embutido (antes era apenas o apoio de braço propriamente dito, fixado no banco do motorista), ar-condicionado com visor touchscreen, vidros com função um-toque (um item que quase nunca estava em automóveis de marca japonesa; o Fit anterior só tinha o vidro do motorista com essa função) e a iluminação externa com LEDs, mais bonitos e eficientes que as lâmpadas halogenas da geração anterior.
O Fit de 2010 é o atual carro de uso diário de meu pai: ele está com o Honda desde março de 2018. Antes, teve um Nissan March 1.0 S comprado zero em novembro de 2011. Aqui no Auto REALIDADE, nós fizemos a cobertura sobre o dia-a-dia do carro, até que ocorreu uma colisão séria que praticamente decretou a perda total do carro e nos fez abandonar as postagens sobre ele. Porém, o March chegou a ser reparado, e continuou a ser utilizado cotidianamente até chegar a cerca de 70 mil quilômetros, quando já era evidente o desgaste de componentes como alavanca de câmbio, embreagem e variados detalhes de acabamento (como a pintura e as películas dos vidros). Felizmente, encontramos o Fit seminovo (com cerca de 60 mil quilômetros rodados) por um preço consideravelmente abaixo da tabela de mercado. Hoje, está com mais de 77,5 mil quilômetros no hodômetro.
Como tenho um Volkswagen take up! (com câmbio manual), gosto de dirigir o Fit pelo conforto de usar apenas freio e acelerador. Mas o conjunto de suspensão do Honda comete a proeza de transmitir menos conforto aos ocupantes que o do up!, exigindo ainda um cuidado redobrado para não raspar a parte de baixo da carroceria em determinadas situações. Outro ponto negativo é o consumo de combustível que gira em torno de 7,5 km/l na cidade com gasolina (usando ar-condicionado praticamente todo o tempo). Fora isso, é um carro agradável, com visibilidade e aproveitamento de espaço interno excepcionais, boa posição de dirigir, lista de equipamentos satisfatória e até com uma certa dose de emoção ao se pisar mais fundo no acelerador, quando entra em ação o VTEC.
O Fit atual aprimorou o conjunto de suspensão para transmitir mais conforto aos ocupantes. Quem já dirigiu um Fit anterior percebe de cara a melhoria, embora o Honda ainda seja mais durinho que outros carros de proposta semelhante. O modelo atual tem o câmbio continuamente variável com a simulação de 7 marchas, ou seja, no uso prático dá a impressão psicológica de passar marchas - algo que não existia nos primeiros carros com câmbio CVT, incluindo aí a primeira geração do Fit, e era uma característica que era alvo de críticas. Hoje, existe até uma posição S do câmbio, para aumentar o regime de rotações do motor para as trocas de marcha.
Quem dirige um Fit de segunda geração vai se sentir à vontade no modelo de terceira geração, com praticamente todos os comandos na mesma posição, e inclusive vai notar que o ajuste de altura do banco, antes feito por roldana, agora conta com uma alavanca mais prática. A chave agora é do tipo canivete, então a haste metálica não incomoda mais no bolso. Mas se sente falta do porta-luvas duplo e do porta-copo para o passageiro diante da saída de ar direita no painel que existiam no modelo anterior.
Diante de tudo isso, é interessante perceber estas evoluções na linha do Honda Fit, e ainda mais poder constatar que, em todos os segmentos de automóveis, também houve várias transformações para melhor. Nós do Auto REALIDADE, que acompanhamos diariamente as novidades pelas quais os carros do Brasil e do mundo passam, só temos a torcer para que, daqui a mais dez anos, possamos anunciar aqui que os veículos de 2029 estarão ainda mais seguros, eficientes e atendendo melhor às demandas dos consumidores.
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