Celular sobre rodas [Coluna Fernando Calmon]



Se há um tema que provoca muitas dúvidas e, às vezes, discussões acaloradas é a condução autônoma. Dividida em cinco níveis, dos quais os três primeiros já apontam para uma tecnologia praticamente dominada e os dois últimos ainda por definir prazos, este recurso vai se incorporar ao dia a dia inexoravelmente. O problema é saber quando, de que forma e por quanto.

O atual Nível 3 de autonomia está disponível em, pelo menos, três modelos no exterior: Tesla 3, Cadillac CT6 e Audi A8. Vários outros fabricantes dispõem de tecnologia semelhante, mas relutam em oferecer: temem o mau uso do recurso. Na Europa não é possível, ainda, homologar um veículo desse tipo para rodar em estradas e ruas de livre trânsito. Já os EUA liberaram, mesmo depois de alguns acidentes.


O risco do Nível 3 é a possibilidade de burlar o sistema, que se desliga automaticamente dependendo de certos fatores entre eles velocidade, número de faixas de rolamento, sinalização horizontal e vertical e vias expressas. No Tesla, por exemplo, há uma zona cinzenta entre os Níveis 2 e 3. Basta, por exemplo, um leve encostar de mão ou perna no volante para o carro seguir em frente de forma autônoma.

Os EUA argumentam que muitas vidas foram poupadas em acidentes evitados, apesar de imperfeições, uso abusivo e mortes. O Nível 4, totalmente autônomo, se mantém em testes. Mas, quando alcançar homologação, entre 2020 e 2021, o preço será muito alto. Sem ninguém ao volante, ainda estará limitado a serviços em percursos restritos e dentro de perímetro de cerca eletrônica.

Algumas empresas, como a fabricante alemã de equipamentos ZF, afirmam que antes de 2030 a tecnologia não estará madura para o chamado robô-táxi de livre circulação. A Ford também argumenta existir um otimismo exagerado com os prazos. A Waymo, subsidiária do Google para automação veicular, segue em frente com os testes, porém visa ao uso comercial no transporte de pessoas e bens.

Interessante são as apostas em conectividade, via rede celular 5G, capazes de reduzir a frequência de acidentes por uma fração do custo de um veículo totalmente autônomo. Essa alternativa vai se expandir logo que a comunicação pelo ar, até 20 vezes mais rápida que a 4G atual, for sendo implantada ao redor do mundo. Conhecida pela sigla em inglês C-V2X (Veículo Conectado a Tudo via Celular), permitirá interações bastante eficientes a fim de antecipar situações de perigo que o próprio motorista ou o carro poderão evitar.

A empresa iniciante inovadora (startup) israelense Waycare é uma das especialistas nisso. Em vez de investir em caríssimos equipamentos para que o motorista esqueça o volante — se tiver dinheiro suficiente para adquirir um automóvel autônomo de Nível 4 — ela trabalha com os administradores de trânsito. Estes poderão analisar, em tempo real ou bem próximo a isso, as situações de risco e avisar aos motoristas no intuito de evitar colisões.

Quanto ao Nível 5, quando se eliminarão volante e pedais nos autônomos, é algo tão caro que ninguém, hoje, consegue calcular com o mínimo de exatidão o seu preço. Muito melhor investir no que está à mão: um telefone celular ultrarrápido sobre rodas.

ALTA RODA



Confirmado o investimento de R$ 220 milhões da PSA, em sua fábrica de Porto Real (RJ), para produção de modelos compactos e médios-compactos sob a nova arquitetura modular CMP. Argentina já garantiu a fabricação, em 2020, do novo Peugeot 208 e também o 2008. Fontes da coluna indicam que, no Brasil, começará pela nova geração do Citroën C3, em 2021.

Programa IncentivAuto, do governo paulista, aprovado pela Assembleia Legislativa, poderá ser o último ainda sob as regras que devem mudar com a reforma tributária nacional. Incentivos são moderados: 2,5% de isenção do ICMS para cada R$ 1 bilhão investido e mínimo de 400 novos empregos diretos. Pode ajudar nessa fase inicial de recuperação econômica do País.


Civic Touring só desaponta pelo preço alto, pois continua a impressionar no uso urbano e em estradas pela dirigibilidade de alto nível. Motor turbo (173 cv) garante bom desempenho sem consumo exagerado, embora o câmbio CVT imponha limites. Freio de autoimobilização eletromecânico (auto-hold) é extremamente útil no para e anda do trânsito.

Alternativas como gás (natural ou biogás) podem ajudar na diminuição de emissões em ônibus e caminhões, explicitadas na feira do setor, Fenatran, em São Paulo. Cummins, Scania e Iveco oferecem essa solução. Mercedes-Benz aposta no óleo vegetal (HVO), utilizável de imediato. VW desenvolve aplicações elétricas para entregas urbanas, mas preço muito elevado atrapalha.

Reciclagem de veículos no Brasil beneficiaria o meio ambiente e a própria indústria automobilística. Peças recicladas e reutilizadas, especialmente as de plástico, saem a um custo muito menor. Segundo Ariane Marques, química da BASF, evita-se a busca incessante por matérias-primas, um dos fatores que encarecem a produção de novos modelos.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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