A velocidade como o mundo automobilístico está mudando ficou
mais uma vez registrada durante o 27º Simpósio Internacional de Engenharia
Automotiva, organizado em São Paulo durante dois dias, semana passada, pela
Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. Uma síntese do momento, em
nível nacional e mundial, foi bem lembrada pelo consultor do Sindipeças, Gábor
Deák, em frase bem simples: “Estamos passando da era de km/h para
experiências/km”. No caso, uma referência às novas tecnologias que continuam a surgir
por todos os lados e impõem um ritmo quase alucinante tanto para as empresas
quanto para quem está atrás do volante.
É incomum um seminário técnico dar pistas sobre lançamentos
de modelos no mercado. Mas isso aconteceu quando a secretária de
Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patrícia Ellen, afirmou que o
governador João Dória iria em breve à Alemanha e ao Japão para anunciar
investimentos no Estado. Todos interpretaram como expansão do programa paulista
IncentivAuto. Embora ela não tenha nomeado as marcas, pareceu óbvio que se
trata da Volkswagen e da Toyota. Essa espécie de “spoiler” levou a duas
conclusões.
A VW deve confirmar o sucessor do Gol com a missão de
substituir, ao mesmo tempo, os atuais up! e Gol em 2021 ou, mais tardar, 2022.
Provavelmente trata-se de uma derivação menor que a atual arquitetura MQB,
antes considerada inviável economicamente para modelos pequenos. Ambos os
modelos, hoje produzidos em Taubaté (SP) fazem parte de um segmento que
responde por nada menos de 45% do mercado brasileiro de veículos de passageiros,
incluídos SUVs e crossovers, excluídas as picapes (uso misto).
Quanto à Toyota com certeza produzirá um SUV compacto no
Brasil. É uma lacuna a preencher, mas o projeto demora mais um pouco, algo para
2023. A marca japonesa não revela se usará sua arquitetura mais moderna, TNGA, que
estreia agora em setembro no novo Corolla (incluída versão híbrida flex,
primeira desse tipo no mundo) e também está no RAV4. É possível que o SUV, previsto
para Sorocaba (SP), tenha como base uma evolução do atual Yaris para conter custos
e garantir preço competitivo numa altura em que os “utilitários” deverão
responder por algo em torno de um terço do mercado brasileiro (hoje 22%).
Uma das palestras mais interessantes foi de Hélio Oyama, da
Qualcomm no Brasil. Ele focou na tecnologia CV2-X, sigla em inglês para
integração entre telefone celular, veículos e infraestrutura viária. É um
capítulo da mobilidade autônoma, mas com a grande vantagem de possibilitar
custos menores. A chegada da rede de telefonia 5G e sua rapidez de comunicação até
20 vezes superior à atual 4 G poderá reduzir bastante os acidentes. Isso
acontecerá porque em conjunto com radares, lidares e câmeras, ou mesmo só parte
deles, antecipará situações perigosas graças à comunicação instantânea.
A rede 5G terá implantação lenta no Brasil, mas não tanto
quanto a 4G, até hoje com enorme deficiência em estradas. E sua confiabilidade
impressiona. O ano tem cerca de 32 milhões de segundos e o sinal 5G cairá por
no máximo 32 s, ou algo como apenas 0,000001%!
ALTA RODA
MARCA chinesa
Geely (dona da Volvo e Lotus) prepara volta ao Brasil. Anteriormente atuou aqui
em parceria com o Grupo Gandini (Kia). Dessa vez, planos são mais ambiciosos e
estão sob sigilo. Em breve, porém, será anunciado acordo com o Grupo HPE
(Mitsubishi e Suzuki). Consultado pela Coluna, o HPE se limitou a informar: “nenhuma
declaração a fazer”.
FERDINAND PIËCH, 82, morreu neste domingo, na
Alemanha. Eleito Executivo do Século, em 1999, era neto de Ferdinand Porsche.
Foi responsável pela ampliação do Grupo VW, que tornou o maior fabricante
mundial de veículos. Engenheiro brilhante, criou a arquitetura veicular MQB
para 40 modelos. Projetou o icônico Porsche 917, dominador das corridas de
longa duração de 50 anos atrás.
VOLVO S60 tem credenciais para enfrentar concorrência
com sedãs médios alemães. Estilo é um dos pontos altos e o acabamento, de bom
nível. Além de quase 10 cm a mais de entre-eixos (2,87 m), oferece três níveis
de potência: 190, 254 e 407 cv, este para a versão híbrida 4x4. Porta-malas foi
sacrificado, mas ainda comporta 392 litros. RS 195.950 a 269.950.
RENOVAÇÃO total do
Toyota RAV4, importado do Japão, veio acompanhado de um eficiente conjunto híbrido.
Potência combinada de 222 cv mudou completamente desempenho e comportamento
geral deste SUV 4x4. Ficou mais espaçoso e o porta-malas cresceu para 580
litros. Acelerações são boas, bem como o silêncio a bordo. Sistema multimídia
desagrada.
AINDA não foi
desta vez que a liberação do trabalho aos domingos poderá facilitar a
comercialização de veículos. Apesar do alto nível de desemprego, Senado decidiu
retirar esse item da Medida Provisória da Liberdade Econômica, anteriormente aprovada
pela Câmara dos Deputados. Entretanto, a proposta voltará à análise parlamentar
por meio de projeto de lei.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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