Ousar ou esperar [Coluna Fernando Calmon]



Pela primeira vez, uma fábrica de veículos elétricos faz um lançamento ambicioso no Brasil. Não que as pioneiras BMW (230 unidades vendidas em cinco anos) e Renault (cerca de 20 veículos, em sete meses) tenham fraquejado tanto até aqui. A primeira investiu na abertura de um corredor de abastecimento na rodovia Rio-São Paulo e a segunda acaba de iniciar estratégia na ilha de Fernando de Noronha. Jaguar, com seu I-Pace, foi discreta. Já a Nissan lança a segunda geração do Leaf com empenho explícito e meta informal de vender umas 200 unidades, no primeiro ano cheio, em uma rede de sete concessionárias (em cinco Estados e Distrito Federal).


A empresa japonesa construiu um elétrico experimental em 1947. O primeiro de série, o Leaf, de 2010, vendeu acumuladamente 400.000 unidades. Mesmo pioneiro no mundo e o mais comercializado, é um volume bastante modesto. Na segunda geração, de 2017, ganhou pique em desempenho e autonomia. Não se trata, porém, de um automóvel, como o Tesla ou BMW i3, de chassi específico.


Ainda assim, empolga com a capacidade de acelerar, pois disponibiliza 90% de um impressionante torque de 32,6 kgfm em apenas 1 décimo de segundo. Aliás, todos os elétricos têm essa característica: desempenho de esportivo. Silêncio a bordo, então, nem se fala. Mas se prepare para ouvir ruídos de várias origens à medida que o carro envelhecer.


O Leaf tem três modos de condução: normal, econômico e com leve regeneração ao inverter função do motor para desacelerar e recarregar a bateria. Muito interessante é o sistema de alta regeneração, acionado por um botão. Fácil de acostumar no uso urbano (em estrada, menos útil), quase dispensa o pedal do freio e a bateria agradece. Há um ótimo pacote de assistência semiautônoma ao motorista.


Peca, contudo, pela falta de itens como ajuste de distância do volante, automatização dos vidros elétricos (só o do motorista desce a um toque, mas não sobe), espaço para cabeça atrás, bateria volumosa no meio do assoalho e estepe por acesso externo do bom porta-malas de 435 litros. Estilo agrada, mas algo além em ousadia seria desejável para o conceito do produto.


Apesar do aspecto novidade e sem emissões locais de poluentes, é difícil assegurar viabilidade. O preço de R$ 195.000, que já inclui cabos e carregador de parede, limita até os entusiastas. Claro, ajuda a eletricidade mais em conta que combustível líquido. Na média, o brasileiro roda 12.000 km/ano, sendo 45% em cidade. Economizaria, nos cálculos da Nissan, cerca de R$ 5.000/ano ou algo além, incluindo-se revisões baratas. Mas preço de revenda e substituição das baterias, mesmo que durem até 10 anos, são empecilhos difíceis de projetar, no momento.


Autonomia em cidade pode passar de 300 km, se usar o modo de alta regeneração. Como todo elétrico, porém, estrada e velocidade maior (e constante) prejudicam o alcance. Neste caso, algo entre 150 e 200 km são números prudentes entre pontos de recarga. Há três outras referências para ficar atento: em postos, 40 minutos de 20% a 80%; carregador residencial, 8 horas de 0 a 100%. Numa emergência, em tomada comum de 127 V (75% do total no Brasil) são 40 horas ou 20 horas em 220 V.


Portanto, há obstáculos – do preço cerca de duas vezes maior aos tempos de recarga e autonomia limitada – que, no caso do Brasil e suas dimensões continentais, indicam prudência. Mesmo no exterior levantam-se vozes, até na Europa, sobre migração lenta e aquém do esperado, salvo possíveis dois extremos do mercado: subcompactos e SUVs de maior tamanho e custo.

ALTA RODA

CÚPULA do Mercosul, semana passada em Buenos Aires, parece ter chegado a um consenso para, finalmente, acabar os regimes de intervenção e implantar livre comércio entre os dois sócios principais, Brasil e Argentina. Ainda não há data para retirada de todos os entraves. Mas há sentimento de urgência, após acordo do bloco com a União Europeia.


FCA inaugurou em Betim (MG) seu centro de testes de segurança. É terceira fabricante a executar aqui colisões frontal, lateral e posterior contra barreira fixa e poste para atender normas atuais e futuras. Agora, a fabricante está apta a executar todo o desenvolvimento, desde conceito inicial, desenho, protótipos e avaliações de campo até validação de segurança.


QUANDO a moda pega, difícil qualquer fabricante resistir. EcoSport FreeStyle adotou teto, grade e colunas pintadas em preto, além de apliques nesta cor nos faróis de neblina. Pena ter perdido luzes diurnas em LED, enquanto ganhava rack de teto reestilizado. Agradável, no dia a dia, é mesmo a combinação do tricilindro de 1,5 L e câmbio automático de 6 marchas.

SEGUNDO a Aptiv, uma plataforma de atuação ativa toma decisões 34.000 vezes mais rápido que um ser humano. Equipamentos como controle de velocidade de cruzeiro adaptativo, frenagem de emergência, assistente de tráfego, alerta de ponto cego e assistente de faixa de rodagem comandam ações concluídas em até meio segundo, algo como o piscar de olhos.


Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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