Governos, com certa frequência, mais prejudicam do que ajudam em assuntos envolvendo a indústria automobilística, por si só bastante complexa por sua extensa cadeia produtiva e os próprios riscos do negócio. Há exemplos agora na França – fusão FCA-Renault – e no Brasil – mudanças no Código de Trânsito.
O bem articulado plano de fusão dos grupos ítalo-americano e francês esbarrou em exigências nada racionais do governo francês, como previsto nessa Coluna. FCA simplesmente retirou sua oferta e deixou os políticos falando sozinhos, após exigências descabidas como manter a sede na França ou garantia absoluta de empregos. Nissan, por sua vez, defendeu maior influência sobre decisões dentro da aliança de duas décadas com a Renault.
A posição brusca da FCA não significa que tudo terminou. O governo da França baixou o tom. Admite diminuir de 15% para 7,5% sua participação (com poder de veto) na Renault e também acena para um papel maior da Nissan que se diz prejudicada por ser, ultimamente, maior que a Renault em produção e resultados. O imbróglio não está fácil de resolver. O negócio ainda pode sair, sem se tornar uma novela por meses.
Aqui, mudanças por projeto de lei do Código de Trânsito Brasileiro provocam muita polêmica. Quem decidirá é o Congresso, sem prazo. Ninguém desconhece a importância dos banquinhos infantis para segurança das crianças. O Governo Federal sugere trocar a multa por advertência escrita, porém os pontos continuariam a ser lançados no prontuário do motorista. Essa advertência, se bem redigida e com fotos de teste de colisão para maior dramaticidade, tem grande efeito educativo. No entanto, deveria valer, quando muito, apenas para a primeira infração. Mesmo a multa deveria vir acompanhada da advertência.
Hoje táxis, veículos escolares e carros de aplicativos registrados (considerados de aluguel) não são multados na ausência de dispositivos de retenção. Em outros países isso também levou a grandes discussões. A fiscalização enfrenta percalços por envolver a idade das crianças e até certidões de nascimento.
Quanto ao aumento de 20 para 40 pontos na apreensão da carteira, o meio-termo talvez fosse ideal: 30 pontos. Recentemente o tempo mínimo de suspensão foi aumentado de um mês para seis meses. Então não parece descabido elevar o limite de pontos, já que também o valor das multas sofreu forte correção. É pouco válido comparação entre países sem saber o critério utilizado de graduação de pontos. O sistema alemão parece racional ao estabelecer advertência por escrito, quando a pontuação do motorista está próxima ao limite.
Essa discussão estéril sobre “indústria da multa” parece ignorar que a arrecadação é tão elevada que já faz parte do orçamento de muitas prefeituras. Há quem defenda fiscalizar a fiscalização para evitar abusos, argumento risível.
Em um ponto, porém, o governo acertou: faróis acesos de dia só em rodovias de mão dupla, se aprovado pelos congressistas. Mesmo neste caso é um equívoco, com mais desvantagens do que vantagens. EUA têm a maior frota do mundo e lá nunca foi obrigatório, depois de vários estudos. O correto, como previsto agora, são luzes de uso diurno (DLR, em inglês) e um prazo de instalação nas fábricas.
Aumentar a validade da CNH de cinco para dez anos também é adequado.
ALTA RODA
ANFAVEA revisará para baixo sua previsão de exportações (em razão da forte queda de vendas na Argentina), o que também atingirá a produção em 2019. Fabricantes cortaram vagas ou deram férias, mas o crescimento do mercado interno continua firme: 12,5%. Isso ainda garantirá números de produção maiores em relação a 2018.
QUEM ainda duvidava do acerto do programa Rota 2030, melhor ficar mudo. Já se habilitaram 32 empresas entre fabricantes de veículos e de autopeças. Agrale, PSA e VW foram as primeiras, ainda em dezembro de 2018. FCA, GM e Renault mais recentemente. Todas investirão aqui em pesquisa e desenvolvimento. Nenhuma marca oriental ainda aderiu.
JETTA GLI com mesmo motor do Golf GTI, 230 cv/35,7 kgfm, foi lançado agora por R$ 144.490. O mexicano tem preço inferior ao hatch produzido no Paraná; surpreende por também ser fracionalmente mais rápido e veloz, apesar de maior massa. Trata-se de um sedã muito prazeroso de dirigir, ótimo porta-malas (510 litros) e bem equipado.
DEPOIS de pequenos ajustes de preço, o Honda WR-V tornou-se razoavelmente competitivo. Derivação aventureira mais extensa do Fit, destaca-se pela suspensão robusta e reações previsíveis mesmo com altura de rodagem maior. Estilo na parte traseira algo exagerado. Câmbio CVT precisa ser usado na posição “S” frequentemente para diminuir letargia de respostas.
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Engenharia Automotiva (sigla AEA) acaba de completar 35 anos. Por meio de seminários e premiações (este ano organizou a 13ª edição dedicada ao meio ambiente) colaborou para vários avanços tecnológicos do País. É mantida por 81 empresas, instituições governamentais e universidades, sempre em equilíbrio.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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