Exportar é fundamental [Coluna Fernando Calmon]


Apesar de todos os fatores de desestímulo, a indústria de veículos instalada no Brasil, incluindo veículos leves e pesados, tem programado investimentos de aproximadamente R$ 50 bilhões no período 2016-2024, segundo levantamento da Automotive Business. Isso, por si, não garante que todo esse capital será mesmo despendido. O mercado interno vem se recuperando mês a mês, porém as exportações vão cair este ano, um dado preocupante.


O impacto da queda de vendas à Argentina agravou o quadro. Basta lembrar que em 2005 fabricantes nacionais exportaram quase 900.000 unidades ou cerca de 40% da produção daquele ano. Em 2019 o País venderá ao exterior pouco mais de 500.000 veículos, algo em torno de apenas 16% da produção. Situação insustentável porque haverá necessidade de aumentar importações de componentes caros nos próximos anos, sem o contrabalanço de faturamento externo.

No Fórum Estadão Think, da semana passada, surgiu ideia de melhorar, em curto prazo, o volume de exportações em mais um milhão de unidades anuais. Seria por meio de aumento do percentual de reembolso do programa Reintegra, criado pelo Governo Federal para compensar impostos embutidos nos veículos vendidos ao exterior. Sim, o Brasil exporta impostos, algo surreal. Hoje o Reintegra é de apenas 0,1% e há proposta de aumentar para 10%.

O problema está no orçamento deficitário do governo. Entretanto, estudo preliminar da consultoria ATKearney estima 120.000 novos empregos para um milhão a mais de veículos. A geração indireta de impostos e encargos compensaria a aparente perda de receita fiscal. Nada fácil de convencer o Ministério da Economia. Porém, houve aceno do superintendente da Receita Federal, presente no evento, para estudar o assunto com foco apenas no volume adicional a exportar. Não resolve, porém, o reembolso do imposto estadual previsto em lei e não cumprido.

No mesmo dia do fórum, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva organizou o Simpósio de Eficiência Energética e Emissões. O mundo está às voltas com um dilema: a demanda de energia crescerá 30% até 2040 e só depois desta década o petróleo dará sinais de recuo. Até lá emissões de CO2 terão de ser reduzidas pelo Acordo Mundial do Clima. Se o cálculo for feito “do poço à roda” (da produção primária ao que sai pelo escapamento dos veículos) a conta fica ainda mais difícil de fechar.

O Brasil está bem nesse cenário graças aos biocombustíveis: etanol (principalmente) e biodiesel. A meta de emissões de 91 g/km de CO2 para veículos leves é rigorosa, mas deve ser atendida. Haverá aumento da produção de etanol para 49 bilhões de litros, quase o dobro do nível atual. E com o programa RenovaBio poderemos vender créditos de carbono para outros países, em especial europeus.

No mesmo seminário foi apresentada a próxima especificação da gasolina. Entre outras mudanças, finalmente se adotará a octanagem RON, de maior difusão no mundo, e manutenção de 27% de etanol. Dessa forma haverá maior transparência no processo de produção. Além disso, a referência RON é mais significativa para motores modernos, inclusive os que utilizam turbocompressores.

ALTA RODA


VOLKSWAGEN ainda não confirma, mas picape Tarok (antiToro) será produzida mesmo em General Pacheco, Argentina. Dividirá instalações com SUV Tarek (maior que T-Cross, menor que Tiguan). Ambos os projetos, no entanto, devem atrasar em razão da situação econômica do país vizinho. Início de produção do Tarek: 1º de janeiro de 2021. Picape fica para um ano depois.


SEGUNDA geração do Range Rover Evoque estreia na versão topo de linha: R$ 312.900. Sem mudanças radicais no estilo, tem entre-eixos 2,1 cm maior, mas externamente não aumentou. Dos recursos eletrônicos destaca-se "capô transparente": conjunto de câmeras forma imagem do solo e transfere para tela do console central. Útil em terrenos difíceis e vagas apertadas.


MATERIAIS de acabamento, equipamento e espaço interno são pontos fortes do SUV grande JAC T80 para sete passageiros. Há seis saídas de ar no painel, mas multimídia não aceita pareamento Android Auto/CarPlay. Suspensão e câmbio estão bem acertados, mas sem injeção direta motor turbo tem consumo relativamente alto. Falta regulagem de distância do volante.


CITROËN comemora centenário com edição especial Origins 100, de 550 unidades, distribuídas entre C3, Aircross, C4 Lounge e C4 Cactus. Evento em São Paulo deu chance de dar uma voltinha ao volante de um Citroën 11 B Normale, 1956. Carro de colecionador muito bem conservado, fácil de conduzir e características quase intactas de boa relação conforto-estabilidade.

JOINVILLE (SC) conseguiu melhorar o trânsito por meio de uma rotatória, especialmente construída, que teve origem na análise de dados armazenados em nuvem do aplicativo de rotas Waze. É possível estudar pontos críticos de congestionamentos e implantar obras dentro de custos razoáveis. Atualmente, 70 cidades brasileiras estão aptas a usar a ferramenta.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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