Na próxima semana a Fiat vai relembrar os 40 anos da
homologação do primeiro carro brasileiro 100% a etanol. Em julho de 1979 o
compacto 147, apresentado à então Secretaria de Tecnologia Industrial. Começou,
então, o período superior a 10 anos de participação ativa do combustível
renovável no mercado brasileiro. Hoje, o mundo está às voltas com mudanças nos
meios de propulsão veicular e o vilão da vez passa a ser o CO2, um dos
gases de efeito estufa.
Passadas quatro décadas, o protagonismo do etanol volta
graças ao conceito chamado em inglês “from well-to- wheel” que alguns leitores pedem para explicar melhor. Em
tradução livre, “do poço-à-roda”. Significa medir emissões de CO2 desde
a obtenção do combustível (em sua forma bruta), transporte e refino até a
combustão nos motores e escapamento do veículo. É o chamado ciclo de vida
fechado. O biocombustível da cana-de-açúcar consegue “capturar” de 70 a 80% do
CO2 por meio da fotossíntese no processo de crescimento da planta. Alcançará
até 100% de captura com etanol de segunda geração.
Esses aspectos e outros foram realçados na Ethanol Summit
2019, semana passada, a conferência bienal e internacional organizada em São
Paulo pela Única (União da Indústria de Cana-de-açúcar). Este ano o mais
importante foi assinatura, no evento, do programa Renovabio do Ministério de
Minas e Energia. Estimulará novos investimentos no setor por meio de compra de
créditos de carbono para autossustentar a produção de bioetanol, biodiesel e
até biometano.
Várias propostas estão em pauta: nova especificação do
etanol, preços mais competitivos e motores específicos. Em curto prazo, a mais
promissora está nos veículos híbridos flex. Toyota sairá na frente, já em
outubro próximo, quando lançará o Corolla nessa configuração, primeira do tipo
no mundo.
Países europeus vêm forçando solução puramente elétrica em
grande escala. Há razões estratégicas para isso ao depender menos do petróleo, mas
esquecendo de conseguir lítio de poucas fontes para fabricar baterias. Deverão
enfrentar, ainda, processos caros de geração de energia elétrica de fontes de
baixa emissão de CO2.
Para ter ideia da encrenca, em 2030, um típico carro
elétrico europeu poderá emitir 82 gramas de CO2/km, quando se avalia
pelo critério correto “do poço-à-roda”. Exigirá grande esforço financeiro para
recarregar baterias a partir de fontes “limpas” como vento, sol e termonuclear.
No mesmo ano, final da próxima década, com avanços do Rota
2030 um automóvel brasileiro híbrido a etanol que exigirá apenas uma bateria
pequena, não necessariamente de íons de lítio, mais barata e fácil de reciclar,
emitirá somente 14 g CO2/km. Um típico burocrata europeu, desses que
querem impingir uma solução a qualquer custo, pode fingir que não entendeu. Ele
acha que, um dia, não se sabe quando, toda a energia elétrica no continente não
dependerá mais do petróleo. Não importa o custo dessa aposta e outros problemas
por resolver.
O Brasil tem extensão territorial, terras férteis, água e
sol em abundância como nenhum outro país. Portanto, cada um faça suas escolhas.
O tempo demonstrará quem está certo.
ALTA RODA
EMBORA Renault
nunca tenha confirmado oficialmente, o mercado considerava como certo a
produção no Brasil do crossover-cupê Arkana em 2020. Houve estudo, de fato, mas
a marca francesa desistiu. O planejamento concluiu que seria inviável, entre
outros motivos pelo preço preço não competitivo. Arkana será produzido na
Rússia e na Coreia do Sul.
INFORMAÇÕES mais
recentes dão conta de que não foi só o governo francês a atrapalhar proposta de
fusão da FCA com a Renault. No Japão a ideia também descontentou o governo,
mesmo sem este ter nenhuma participação no grupo Nissan-Mitsubishi. FCA
anteriormente havia conversado com a Ford, sem sucesso, como acaba de admitir o
chefão Bill Ford.
PEUGEOT 2008 recebeu leve atualização frontal,
ganhou 1 grau no ângulo de entrada (passou a 23°) e acabamento interno
melhorado. Com motor 1,6 de aspiração natural e câmbio automático de seis
marchas, tem desempenho e consumo apenas regulares. Ótimos o teto solar
panorâmico e o volante ovalado de diâmetro reduzido que permite visualizar
melhor os instrumentos.
ASSOCIAÇÃO
Brasileira de Bebidas (Abrabe) se encarregou de lembrar que no último dia 19 a
chamada Lei Seca completou 11 anos e ajudou a reduzir em 14% o número de mortes
no trânsito. O percentual pode parecer baixo, mas segundo dados do Sindipeças a
frota de veículos leves e pesados (sem incluir motos) cresceu no período quase
60%. Resultado muito bom.
SEGURADORA Zurich
anunciou semana passada produtos específicos para veículos híbridos e
elétricos, incluindo opção de cobertura de cabos de carregamento e oficinas
especializadas. Esta semana Itaú Unibanco lançará financiamento a juros
reduzidos para essa categoria. Operações do tipo começaram com Jaguar i-Pace e
agora para todas as outras marcas nesses nichos.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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