Notícia era
esperada, mas causou agitação no mundo da indústria automobilística. No início da semana, a proposta da FCA de se
fundir com a Renault refletiu a atual e gravíssima pressão de custos do setor.
Embora a marca francesa deixasse transparecer uma posição mais passiva que
ativa, admitiu publicamente estudar a fusão.
Há algumas
implicações em aberto. Olhando com profundidade o que ocorre hoje na Europa, a
Renault está mais bem estabelecida na maioria dos mercados quanto aos
automóveis, mas não produz SUVs de raiz como a Jeep e nem uma gama de picapes, a
exemplo da RAM. FCA, por sua vez, apresenta situação financeira algo mais
delicada e se atrasou nos pesados investimentos exigidos em elétricos e
conectividade, além de depender da Waymo (Google) para veículos autônomos.
Por sua vez, a Renault tem participação do governo francês. Se este já foi
contra uma fusão com a Nissan/Mitsubishi sem que os franceses dessem as cartas,
o que diria da FCA? Aliás, nem mesmo se sabe o que acontecerá à aliança
franco-nipônica sem a mão de ferro do executivo Carlos Ghosn responsável pela
união, mais tempo que o esperado, de culturas tão diferentes. Uma integração
franco-italiana significaria, também, vicissitudes históricas a superar. No
Brasil, Fiat apresenta posição de mercado mais forte que a Renault, ao
contrário da Europa.
Como já
comentado aqui, a irreversível consolidação de grupos automobilísticos ainda
reservará surpresas adiante. Apesar dos desmentidos e do Brexit, PSA (Peugeot-Citroën-Opel)
reúne mais complementaridade com Jaguar Land Rover do que Renault-FCA. E a
Nissan, se desvinculada da Renault, de qual grupo se aproximaria? Por outro
lado, a hipotética megafusão Renault-Nissan-Mitsubishi-Fiat-Alfa Romeo-Maserati-Lancia-Jeep-Chrysler-Dodge-RAM
superaria eventuais óbices de órgãos de defesa da concorrência? Um só país que
fosse contra já atrapalharia...
Na mesma
segunda-feira do anúncio oficial do “noivado” Renault-FCA, o Congresso
Automotive Business Experience 2019 atraiu cerca de 2.000 participantes e nada
menos de 151 palestrantes. Entre os vários pontos em debate, a coluna destaca
alguns:
- Indústria aqui instalada ainda está longe da produtividade
do exterior, mas em oitos anos o tempo gasto nas linhas de produção caiu
25%, automação subiu de 50% para 70% e houve redução de até nove meses no
processo de desenvolvimento de um produto novo.
- Ambiente no campo da inovação ainda precisa melhorar
bastante no Brasil. Há poucos sinais neste sentido.
- No futuro, com aumento de várias opções de
compartilhamento e as fabricantes entrando profundamente no negócio de
serviços, a busca tradicional da liderança de vendas deve ser substituída pelo
maior número possível de quilômetros rodados. Os carros ficarão menos
tempo parados do que hoje.
- Em algum momento, o avanço de SUVs observado em muitos
mercados pode esbarrar em limitações de consumo de combustível, massa
adicional e aerodinâmica menos refinada. Tendem a adotar mais rapidamente hibridização
e eletrificação.
- Não há sinais de que veículos autônomos se tornem corriqueiros tão cedo. Os de Nível 4, onde volante e pedais podem ser até escamoteados para uso apenas eventual, utilizam equipamentos específicos que custam de 60 a 100 vezes mais que o atual Nível 2. Trazem reflexos insuportáveis ao preço final, salvo em aplicações comerciais intensivas, roteiros pré-estabelecidos e com infraestrutura compatível.
ALTA RODA
DENTRO do novo
ciclo de investimentos da FCA no Brasil, que incluirá motores turboflex e os
primeiros SUVs da marca Fiat, há outra iniciativa que chamou menos atenção, mas
igualmente importante. Será construído, em Betim (MG), um centro de segurança
veicular capaz de realizar testes de colisão. Até agora, só GM e VW dispõem
desse tipo de instalação.
TOYOTA oferece a quinta
geração do RAV4 apenas na versão híbrida (gasolina), a partir de 13 de junho. O
SUV utiliza a mesma arquitetura do sedã médio-grande Camry, o que garante
generoso espaço interno e amplo porta-malas (580 litros). Há três motores elétricos
(no total, 120 cv) e motor a combustão 2,5 L (178 cv) com potência combinada de
222 cv. R$ 165.990 a 179.990.
PORSCHE 718
Boxster GTS é um roadster (conversível de dois lugares) com qualidades ímpares
de dirigibilidade. Destacam-se motor central traseiro (4-cilindros opostos dois
a dois, turbo de geometria variável, 365 cv) e suspensões ajustáveis do conforto
à firmeza esportiva ao giro de um botão no volante. Freios potentes, direção
muito precisa e acabamento primoroso.
HERE e Mitsubishi
Electric (separada da fabricante japonesa) anunciaram novo avanço na
conectividade entre veículos. Combina sensores capazes de detectar de um carro
avariado a buracos na pista ao compartilhamento em tempo real, em “nuvem”, de
forma automática. Outros usuários da via teriam informações com antecipação a
fim de evitar transtornos e acidentes.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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