A proposta de aumento de 20 para 40 pontos em multas que
levem à suspensão temporária da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), enviada
pelo Governo Federal ao Congresso, precisa ser mais bem discutida. Até quando
se compara com outros países, é necessário estudar a sistemática que cada um
adota. Não existe uma regra geral ou mais aplicada. No Brasil, há algumas peculiaridades,
entre elas uma fiscalização eletrônica rigorosa, muitas vezes em forma de
armadilha, pois faz alguns anos que caiu a obrigatoriedade de sinalizar sua
existência, ao contrário de vários países.
Entre as distorções está o próprio processo de atribuição de
pontos, que mistura faltas administrativas e infrações de trânsito. Um exemplo
é o rodízio veicular da cidade de São Paulo, onde não há indicações das ruas e
dos finais de placas afetados. Outro problema é o aumento recente do período
mínimo de suspensão da CNH de um para seis meses. Essa mudança foi feita sem
alterar os 20 pontos para suspender a CNH e isso precisaria ser repensado.
Fica sem sentido uma suspensão de seis meses por
transgressões menores. O sistema anterior estava bem balanceado, quanto mais
que as multas estão sujeitas, desde 2016, a sofrer correção de valores pela
inflação, em clara oposição ao processo geral de desindexação da economia.
O valor maior até já diminuiu o número de infrações e arrecadação
das prefeituras. Estas não podem utilizar esse dinheiro fora do previsto pelo
Código de Trânsito Brasileiro – educação e ações de segurança como sinalização
–, mas se tornou letra-morta. Que, ao menos, se obrigue então a tapar buracos e
melhorar as condições das vias.
O critério utilizado na Itália parece o mais justo. Lá a
pontuação apresenta o viés educativo de aumentar a margem para suspensão da
carteira em razão do número de anos em que o motorista não recebe nenhuma multa.
Nesse caso, seria aceitável aumentar o limite para até 30 pontos, por exemplo, se
o motorista ficasse três ou quatro anos sem cometer infrações. Aqui cada
pontuação prescreve depois de 12 meses, independentemente da gravidade: andar
na contramão ou estacionar em local proibido.
As chamadas lombadas eletrônicas, apesar de muitas vezes
impingirem limites completamente abaixo da realidade, pelo menos estão à vista
de todos, em totens. As aberrações aparecem quando um determinado radar multa
20 ou 30 vezes mais que a média dos demais, como acontece com alguma frequência
e sem estudos que embasem tal rigor.
Países com maior número de carros por habitante que o Brasil
apresentam trânsito mais seguro. Basta ver o número de mortos e feridos na
Europa ou EUA em relação à frota registrada. A conscientização começa nas
escolas, passa por um processo de habilitação bastante rigoroso e fiscalização
justa, sem pegadinhas.
Apesar disso, há alguma distorção, mesmo no exterior.
Motoristas profissionais na França, por exemplo, podem dirigir sem cinto de segurança.
Basta entrar em um táxi em Paris ou outra cidade. Se perguntados, eles confirmam,
alegam o cinto incomodar, mas lembram com algum cinismo que motoristas de
aplicativos são obrigados a usar.
ALTA RODA
TOYOTA acaba de confirmar
que produzirá a nova geração do Corolla também na versão híbrida (pela primeira
vez no mundo com motor flex), em Indaiatuba (SP). Lançamento previsto para
setembro próximo e comercialização simultânea da versão convencional que estreia,
igualmente novos, motor de 2 litros (maior potência e torque) e câmbio CVT de
melhor resposta.
NOVO Onix sedã
(produção, setembro; entregas, outubro) terá mesmo um novo motor turbo de 1
litro e três cilindros. Porte é quase o mesmo do Cobalt. Um mês depois virá o hatch
que, por ser menor, oferecerá versão com motor de aspiração natural. Nome Onix,
nascido no Brasil, agora se torna global. Antes, só EcoSport tinha saído daqui
para o mundo.
MOTOR 1,6 L
aspirado, apesar de entregar 51 cv a menos que a versão turbo THP, deixa o
Citroën C4 Cactus perfeitamente aceitável em termos de desempenho. O “segredo”
é o ajuste fino do câmbio automático Aisin de seis marchas e a possibilidade de
acionar o modo “S” para respostas imediatas ao acelerador. Ajudam também 46 kg
a menos e 4 cv a mais que o C3 Exclusive.
CARROS autônomos
continuam em desenvolvimento, mas o presidente mundial da Ford, Jim Hackett,
admitiu: “A tecnologia vai demorar mais para amadurecer do que o esperado”. Isso
dentro de um programa de investimento de US$ 5 bilhões. Ele ainda tem planos
de, em 2021, rodar uma frota de teste, mas dentro de limitações. “Tudo é muito
complexo”, ressalvou.
SEGUNDO estudo da
Bright Consulting, o estímulo de 1 ponto percentual no IPI para fabricantes que
superarem a meta obrigatória de consumo de combustível em 5,7%, significa cerca
de R$ 400 em um modelo com preço público de R$ 50.000. Para 10,8% de economia,
ganham 2 pontos percentuais de IPI, em torno de R$ 800,00. Nada fácil: tecnologias
envolvidas são caras.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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