De uns tempos para cá formou-se uma onda de opiniões
pessimistas sobre o esvaziamento inexorável dos salões de automóveis. De fato,
alguns fabricantes reviram suas participações por diferentes motivos, desde a
falta de novidades para o público específico do país em que se realiza a
exposição ou até corte de despesas em meio aos pesados investimentos
necessários em eletrificação, carros autônomos, conectividade e
compartilhamento de veículos. Tudo isso e de forma simultânea vem exaurindo
financeiramente as empresas. O público, no entanto, não tem deixado de
comparecer a ponto de abalar seriamente os eventos.
A exposição de Detroit, por exemplo, tenta se reinventar
mudando do inverno para o verão, a partir de 2020. O Salão de Genebra continua
anual, mas em 2019 sofreu baixas (Ford,
Hyundai, Infiniti, Jaguar, Land Rover, Mini, Opel e Volvo estão fora). Apresentou,
porém, muito mais novidades do que em outras edições. Esta segue até o próximo
dia 17.
Fiat completa 120
anos de fundação e o Grupo FCA tem participação marcante. Do novo SUV conceito
conceitual (mas quase pronto) Alfa Romeo Tonale ao Centoventi focado em
discutir novas ideias para o futuro Panda. Mike Manley, CEO da FCA, cumpriu o
prometido de apresentar versões híbridas plugáveis do Renegade e Compass,
voltou a advertir sobre o fim de subsídios das fabricantes aos elétricos e admitiu
novas fusões não estarem descartadas (com a PSA Peugeot Citroën traria muitas
sinergias). A própria PSA se aproximou bastante da GM, depois que esta lhe
vendeu a Opel.
Impressionou, em
especial, o número de carros esporte novos. Desde o inacreditavelmente caro e
único Bugatti La Voiture Noire por R$ 47 milhões, em conversão direta sem
impostos (claro, alguém encomendou antes), ao relativamente discreto Ferrari
Tributo. A lista inclui os ingleses Aston Martin Vanquish Vision e AMB-RB 03, o
sueco Koenigsegg Jesko (adepto de um motor a etanol de 1.600 cv), o elétrico italiano
Pininfarina Battista (1.900 cv dão para o gasto?) e o dinamarquês Zenvo TSR-S.
Até o bisneto de Ferdinand Porsche, Anton Piëch, se insinuou com o Piëch Mark
Zero que tanto poderá ser elétrico puro, híbrido ou movido por motor
convencional, ou seja, para onde soprarem os ventos.
História mais
curiosa são dois modelos que procuram reviver a marca Hispano Suiza: um se
chama Carmen e outro Maguari HS1 GTC. Duas
empresas acham-se donas da famosa marca espanhola, fundada em 1904. Produziu
carros e motores de avião até sucumbir em 1968. Como vão resolver o imbróglio
ninguém sabe.
Entre automóveis convencionais os franceses se destacaram com os novos Peugeot
208 (previsto para ser fabricado aqui) e o Renault Clio. Muito interessante a
perua-cupê (shooting brake, em inglês) Mercedes-Benz CLA que só tem mercado garantido
na Alemanha. O Audi Q4 e-tron mostra o rápido avanço da marca alemã em sua
linha puramente elétrica.
Por fim, o site do
programa BBC TopGear elencou carros e nomes extravagantes que estão em Genebra.
Para citar alguns: PAL-V Flying Car, Golden Sahara II, Engler F.F. Superquad, GFG
Style Kangaroo, Puritalia Berlinetta, Eadon Green Zanturi e Fornasari GT 311
Gigi.
ALTA RODA
BOM sinal para as
vendas da indústria em fevereiro. Melhor termômetro é a média de vendas diárias
– 9.932 unidades de veículos leves e pesados ou quase 10% superior a janeiro.
Esse indicador tende a neutralizar os efeitos sazonais de cada mês ou época do
ano. Mas é preciso esse patamar subir para além de 11.000/dia nos próximos
meses a fim de garantir um ótimo 2019.
EXPORTAÇÕES continuam
em queda livre este ano: 42% sobre 2018. Brasil e México precisam resolver impasse
de renovação do acordo bilateral ainda em março. Mexicanos querem livre
comércio, sem alterar seu índice de conteúdo local (70% das peças são
americanas). Brasil discorda, pois não tem como concorrer com escala de
produção de peças dos EUA.
SEDÃ médio-compacto
Jetta, importado do México, ganhou fôlego nas vendas graças à estreia da versão
de entrada. Motor turboflex (150 cv) e câmbio automático (pontos altos do modelo)
não mudaram. Rodas de liga leve de 16 pol. tornaram o rodar até mais agradável.
Alguns itens de conforto e conveniência saíram. Câmera de ré e faróis de
neblina fazem falta.
APESAR de a China
ser o mercado de elétricos que mais cresce no mundo, a promissora marca de SUVs
Nio enfrenta dificuldades e cortou planos de construir fábrica própria (hoje
utiliza a da JAC). Já nos EUA a empresa federal de Correios, USPS, investe em
furgões elétricos, tipo de veículo que mais se adapta no para e anda de
entregas. Cummins é a fornecedora.
LATIN NCAP divulgou outro teste de colisão de
um modelo que não é mais produzido. Trata-se do Volkswagen Suran (era fabricado
na Argentina) ou SpaceFox, seu nome no Brasil. A entidade inclusive “rebatizou”
o SpaceFox de Fox, neste caso ainda em produção, na tentativa de disfarçar o
erro. Antes isso havia acontecido com o mexicano Chevrolet Aveo, em 2017.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Comentários
Postar um comentário
Na seção de comentários do Auto REALIDADE você está livre para escrever o que você achou da matéria.
Caso você queira fazer perguntas maiores, incluir fotos ou tirar dúvidas, envie e-mail para blogautorealidade@hotmail.com
Sua opinião é muito importante para o Auto REALIDADE! Estamos a disposição no Facebook (http://www.facebook.com/AutoREALIDADE), no Instagram (http://www.instagram.com/autorealidade e no Twitter (@AutoREALIDADE).