Começo de ano dos mais movimentados, tanto no Brasil quanto no
exterior. Entre as notícias que chamaram atenção, um comunicado interno da GM
interpretado como possibilidade da empresa se retirar do País. Não há
sustentação nos fatos. Depois de anunciar, em 2018, 20 novos produtos, de 2019
a 2022, além de 10 “séries especiais”, fica
claro que este risco é remotíssimo.
Frases de um comunicado interno na sede de São Caetano do
Sul (SP), vazado para a Imprensa, referindo-se à presidente mundial da
companhia, Mary Barra, ter anunciado que não vai “investir onde perde dinheiro”
e que poderia lançar mão de “opções”, é muito vago. Nada de novo, pois investir
e perder dinheiro continuamente é para quem pratica dumping (impensável) e descontinuar uma operação pequena na
Colômbia, por exemplo, se enquadraria na afirmativa.
Estratégia de comunicação da empresa certamente não foi a
melhor e o silêncio, depois, em nada ajuda. O ano passado, apesar do crescimento
de 14,6% do mercado, foi ruim em resultados para quase todos os fabricantes pela
desvalorização cambial, greve de caminhoneiros e grandes descontos em vendas
diretas.
A própria GM, no entanto, conseguiu avanços nos últimos anos
na América do Sul. Agora, em 11 de janeiro, relatou a investidores nos EUA ter
reduzido em 40% o ponto de equilíbrio do seu balanço na região. Financeiramente
resolve pouco, mas vai na direção correta.
Antes, Ford e VW anunciaram no segundo dia do Salão de
Detroit, semana passada, que vão colaborar no desenvolvimento de picapes, vans
comerciais, além de carros autônomos e elétricos. Trata-se de uma aliança, mas
sem capital acionário envolvido. Confirmaram que em 2022 a nova Amarok terá a
mesma base da futura Ranger.
Essa é só metade da história. Se a Ford tornou-se a maior
fabricante de picapes do mundo, a VW tem essa posição em automóveis e nas
vendas mundiais de veículos. A marca americana há pouco anunciou drástico enxugamento
na Europa, resultado de prejuízos acumulados e do Reino Unido se retirar da
União Europeia até dezembro de 2020. Então a contrapartida óbvia seria a
fabricante alemã produzir automóveis e crossovers para a Ford, em nível mundial.
Prematuro prever sinais de fusão ou algo parecido, porém a
aproximação entre as duas marcas será muito maior do que o estabelecido nesse
momento. Operações da Autolatina no Brasil, criada em 1987 e desfeita entre 1994
e 1996, mostram que as duas empresas sabem, perfeitamente, o certo e o errado.
O Salão de Detroit mostrou entre as atrações o Shelby GT 500
(Mustang modificado com mais de 700 cv), o novo SUV Ford Explorer e o retorno
do Toyota Supra (base mecânica e chassi do BMW Z4), um cupê que estava fora de
produção há 17 anos. Para o Brasil surgiu o novo Toyota RAV4 e o presidente da
FCA, Mike Manley, confirmou a exportação dos EUA da picape média RAM 1500, mas
não falou sobre produção aqui. Carro-conceito Nissan IMs antecipou a visão de
um sedã grande com um motor elétrico em cada eixo.
Exposição de Detroit sofreu outro esvaziamento (a partir de 2020
será em junho, não mais em janeiro) em razão da feira de produtos eletrônicos,
em Las Vegas, uma semana antes. O evento com mais de 4.000 empresas foi
“invadido” por fabricantes de automóveis. Este ano havia nove grupos, inclusive
uma nova marca chinesa, a Byton, com um sedã e um crossover elétricos de estilo
audacioso. Exibiam uma tela multimídia de nada menos que 48 pol. de largura, ou
seja, de uma porta até a outra.
Lá ocorreu a apresentação mundial da nova geração do Mercedes-Benz
CLA. A marca alemã não esteve em Detroit. A Ford demonstrou a tecnologia CV2-X para
interação entre veículos, infraestrutura viária e pedestres, por meio da rede
de dados, para evitar acidentes. O sistema funcionou bem na atual rede 4G, mas
a empresa só vai disponibilizá-lo em 2022 quando a 5G estiver mais difundida.
ALTA RODA
DESENHO da aliança
Renault-Nissan permanece indefinido até se decidir quem vai mandar, de fato, na
futura companhia holding. Fontes do exterior afirmam que estaria esgotado o
modelo de participação acionária cruzada, existente há 20 anos. Ainda preso no
Japão, renúncia confirmada de Carlos Ghosn ao posto máximo na diretoria da
Renault, abriria alternativas.
NOVO MERCEDES-BENZ
Classe A 250 Vision demonstra como um hatch moderno deve ser. Atualização de
linhas, melhor aerodinâmica (Cx 0,25), motor 2-litros turbo, 224 cv (antes, 211
cv) com respostas vigorosas e porta-malas de 370 litros (29 litros
mais).Experiência de interação por comando de voz (MBUX) funciona bem e é
grande destaque do modelo. R$ 194.900.
RESSALVA:
cronograma de transferência de produção entre fábricas da Honda, de Sumaré
(atual) para Itirapina (nova), mostra WR-V em agosto próximo e HR-V no início
de 2020, segundo fonte da Coluna. Sedãs City e Civic migrariam apenas no final
de 2020 e começo de 2021. A marca japonesa confirma que o Fit começará nas
instalações novas agora em fevereiro.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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