As vendas de veículos no mercado brasileiro foram maiores do
que todas as previsões feitas ao longo de 2018. Os dados revelados pelo Renavam
(Registro Nacional de Veículos Automotores), logo no primeiro dia útil do ano,
indicam isso. No entanto, os percentuais de crescimento de um ano contra o
outro são mal explicados.
Isso acontece porque veículos comerciais pesados muitas
vezes ficam fora das estatísticas. Assim, podem ser divulgados três números que
acabam por causar certa confusão. Em 2018 sobre 2017, o comércio de automóveis
e veículos comerciais leves (picapes e furgões) cresceu 13,7%, de 2,17 milhões
para 2,47 milhões de unidades; veículos pesados (caminhões e ônibus), de 67 mil
para 96 mil unidades (mais 42%). Assim, no total, venderam-se 2.566.235
unidades, crescimento de 14,6% sobre 2017.
O ano passado foi impactado por três eventos perturbadores de
fluxo normal de vendas: greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo de Futebol e as
incertezas de eleições gerais, além do grande número de feriados. Fenabrave fez
quatro previsões de vendas e a Anfavea, três. Nenhuma das entidades acertou, embora
a Anfavea (em outubro último), tenha antevisto 13,7%. Em janeiro de 2018, essa
coluna previu 14,1% e, assim, chegou perto.
Ainda estamos longe do recorde de 2012 (3,802 milhões de
unidades). Mas tudo indica que o mercado continuará a se recuperar este ano,
principalmente em razão de reformas econômicas do novo Governo Federal. Uma boa
notícia, no final do governo anterior, foi a redução do seguro obrigatório de
responsabilidade civil para simbólicos R$ 12,00, no caso de automóveis, a
partir de 2019. A Seguradora Líder até sugeriu um aumento das indenizações, em
vez da redução do preço do seguro, porém trata-se de iniciativa tardia. Houve
abusos e descontroles desde sua criação em 2007.
Há outros aspectos positivos a considerar. A base comparativa
continua baixa, após uma redução em torno de 50% no auge da depressão, e a
frota circulante precisa de renovação. Um indicativo do aumento da procura sustentável
por carros novos é a estagnação na comercialização de veículos usados. Segundo
a Fenauto, a federação nacional das associações de comerciantes independentes,
houve aumento de apenas 0,4% em 2018 sobre 2017 no volume de vendas de carros
usados. Nos anos anteriores recentes era regra um crescimento em torno de dois
dígitos.
Qual, então, seria uma boa previsão para o crescimento do
mercado de veículos novos em 2019? Segundo Sérgio Vale, da MB Associados, que
assessora a Fenabrave (federação nacional das associações de concessionárias),
“no momento ficamos com 11%, porém se iniciativas econômicas importantes forem
implantadas pode se alcançar mais de 13%.”
Anfavea, por sua vez, antevê que as vendas totais devem crescer
11,4% sobre 2018, atingindo 2,86 milhões de unidades. Expansão da produção seria
de 9% para 3,14 milhões de unidades, enquanto as exportações cairiam tanto em
volume (590 mil unidades ou 6,2% menos) quanto em valores (US$ 13,9 bilhões ou 3,9%
menos).
Esta coluna é mais otimista. Em ano difícil de prever, sem
saber a profundidade das reformas, ainda assim aposta em 13,8%.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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