De pernas para o ar [Coluna Fernando Calmon]


Se o mundo automobilístico tem passado por fortes turbulências, acontecimentos recentes no exterior colocaram mais coisas de pernas para o ar. Há um primeiro episódio, em abril último, quando a Ford desistiu de produzir sedãs nos EUA para se concentrar em SUVs e picapes. Pouco adiante, em junho, Sergio Marchionne, CEO da FCA falecido um mês depois, admitiu encolher drasticamente a presença da marca Fiat em toda a Europa.



Agora a GM, além de decretar o fim de vários modelos Chevrolet (incluindo o híbrido Volt), Cadillac e Buick, anunciou o fechamento de duas fábricas nos EUA e uma no Canadá, além de duas outras não especificadas no resto do mundo. O grupo tem 32 fábricas do Uzbequistão ao Equador, passando por Egito e Vietnã. Mais doloroso foi o corte anunciado de mais de 10.000 empregos na América do Norte como indicativo de sua forte guinada em direção aos veículos elétricos. A empresa estima em cerca de 15 anos o fim dos motores a combustão interna (MCI) em automóveis.


A Volkswagen anunciou, agora, que em 2026 lançará sua última geração de MCI, sem marcar o encerramento total da produção. Ciclos de evolução de motores são em geral de dez anos e dos veículos, de sete anos. Então, ainda terá tempo de, eventualmente, rever planos. Mesmo porque o CEO Herbert Diess admitiu, em setembro, que investimentos para desenvolver os elétricos serão maiores que os estimados.

Um estudo publicado pela revista suíça Revue Automobile mostrou o custo de eliminar cada tonelada de CO2 (gás precursor de efeito estufa e mudanças climáticas). Em motor convencional é de 400 francos (R$ 1.600); em híbridos, 1.100 francos (R$ 4.400) e em elétricos de 3.000 a 4.300 francos (até R$ 17.000). Ou seja, cerca de 10 vezes mais caro.

Isso explica, em parte, os recentes distúrbios violentos na França. O estopim foi o acréscimo de apenas seis centavos de euro no diesel (R$ 0,26) e três centavos na gasolina (R$ 0,13) para “desestimular” combustíveis fósseis: na Europa são os mais caros do mundo (R$ 6,50, o litro). Obviamente houve outros motivos para a revolta, mas a desistência do aumento por parte do governo francês indica que será difícil equacionar subsídios tão altos, em curto espaço de tempo.

Tem pouco sentido só proprietários de veículos pagarem a conta. Na Alemanha e nos EUA ela é dividida entre todos os contribuintes de impostos. Sem subvenção (governos já enfrentam problemas fiscais), poucos se animarão a comprar um automóvel elétrico. Nenhum governo terá fôlego para bancar isso, em prazos tão otimistas.

Agora mesmo, GM, Tesla e Nissan apelam ao governo americano para renovar, em parte, subsídios de até US$ 7.500 (quase R$ 30.000) por meio de compensação no acerto anual do imposto de renda dos compradores. Isso é válido apenas para os primeiros 200.000 clientes de elétricos ou híbridos de cada marca.


Para completar todos esses fatos confusos, a Volvo participou de forma inusitada do recente Salão do Automóvel de Los Angeles (EUA), encerrado domingo passado. Seu estande não tinha nenhum carro exposto: apenas sofás e peças de decoração. Pura jogada de marketing, mas houve também interpretações pouco abonadoras à marca sueca.

ALTA RODA


DECIDIDO, segundo fontes da coluna. FCA, embora desconverse, importará motor turbo da Itália para utilizar no Jeep Renegade no primeiro semestre de 2019. Trata-se do Firefly, de 1,3 L e sistema MultiAir de comando de válvulas, inicialmente na versão de 150 cv e depois de 180 cv. Apenas quando atingir 50.000 unidades/ano deverá ser produzido aqui.

ANFAVEA confirma: 2018 terá resultado superior à sua segunda previsão para vendas de veículos leves e pesados. “Preferimos ser surpreendidos para mais do que para menos”, expressou Antônio Megale, presidente da entidade. Até novembro, no acumulado do ano, o crescimento foi de 15% sobre 2017. Quase 2,6 milhões de unidades serão emplacadas em 2018.


CONVERSÍVEIS atraem muito poucos compradores no Brasil, mas a MINI voltou a oferecê-los. Merece aplausos. São três motores (136, 192 e 231 cv) e duas opções automáticas (7 e 8 marchas) de R$ 146.990 a 196.990. Versão JCW, a mais rápida e veloz, traz acerto duro de suspensão, inevitavelmente desconfortável, mas dentro de sua proposta. Ideal para boas estradas.

ESTA semana foi publicada resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que estabelece novas normas de emissões para veículos leves, padrão L7. Passará a vigorar em modelos novos a partir de 2022 e para toda a linha comercializada no País, em 2023. Ponto altamente positivo é a convergência de prazos com as metas de economia de combustível.

RESTAURANTE e oficina de automóvel importado, no mesmo endereço na capital paulista, é combinação inusitada. Chamam-se, respectivamente, 911 e Flacht. Nem precisa explicitar que se trata de sofisticada iniciativa para os fãs do icônico carro esporte da Porsche, sejam modelos mais novos ou mais antigos. Tecnologia de inspiração alemã, mas a comida, bem brasileira.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e  de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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