A maneira de comprar automóveis vem mudando rapidamente e no
Brasil as iniciativas podem surpreender. O cenário começou a se modificar na
década passada e se aprofundou nessa década à medida que os telefones celulares
inteligentes ou smartphones evoluíram e o acesso às redes de dados ficou mais
fácil e rápido.
No seminário de Marketing Automotivo organizado em São Paulo pela Automotive Business os exemplos dessa reviravolta foram vários. Segundo o Google Insights, 90% daqueles que adquirem seu primeiro carro utilizam o telefone para pesquisar. O interessado pode gastar até 10 horas ao longo de três meses para completar o processo.
Na média de todos os compradores a evolução foi marcante.
Nos anos 2000, 90% do tempo de pesquisa, escolha e negociação era dentro da
concessionária. Esse tempo encolheu para 35% nos anos 2010. Antes o interessado
percorria quatro lojas e agora a média é inferior a duas.
O uso crescente de smartphones animou a Renault a desenvolver
totalmente no Brasil uma estratégia de venda para o seu modelo mais acessível,
o Kwid. Afinal existem no País 120 milhões de pessoas conectadas. Segundo
Caíque Ferreira, diretor de Comunicação da empresa, “pouco mais de 20% de todas
as unidades comercializadas desde o início deste ano foram por meio da
plataforma que batizamos de K-Commerce, ou seja, totalmente online. O
consumidor só foi à concessionária para retirar o carro”.
O percentual pode parecer pequeno, mas não é. Afinal, se
trata de um veículo totalmente novo e de preço mais em conta. Poderia levar todos
os interessados a percorrer os caminhos tradicionais: questionar diretamente o
vendedor, ver e tocar no carro ou participar de um teste de avaliação. Um
quinto dos compradores dispensou esse ritual e confiou no processo por trás de
uma tela, na maioria das vezes pequena.
João Ciaco, diretor de Marketing e Comunicação da FCA, foi
ainda mais assertivo: “Os consumidores estão sem paciência para processos
longos e burocráticos. E consideram
difícil praticamente tudo na compra de um carro. É aí que a onipresença
exponencial do digital pode facilitar todo o processo.” Em sua opinião, a
ascensão do smartphone já mudou completamente a forma como o consumidor compra
seu automóvel.
Ele deu, como
exemplo, uma informação do Instagram Insights. De acordo com uma pesquisa dessa
rede social, os usuários mais fanáticos chegam a percorrer 90 metros por dia de
rolagem de tela (scroll) no seu celular. Portanto, fica mais fácil captar um
cliente no ambiente ao qual já está acostumado.
Quando uma nova
tecnologia é adotada pelas pessoas, elas mudam de comportamento. Compreender o
comportamento é vital para desenvolver estratégias. Para Ciaco, quem não
acordar para essa realidade estará fora do mercado.
ALTA RODA
MAIS uma
antecipação da Coluna. Novos Onix e Prisma, líderes de venda, começam a ser
produzidos na fábrica de Gravataí (RS) no último trimestre do próximo ano. Atuais
versões Joy dos dois modelos continuam em linha até 2022, quando se exigirá controle
de estabilidade. Com preços competitivos, produção de ambos se concentrará em
São Caetano do Sul (SP).
FORD anunciou a
fornecedores a interrupção de produção dos Focus hatch e sedã na Argentina, em maio
de 2019. Apesar de especulações sobre a fábrica de lá, o chamado segmento C
(médio-compacto) desidrata rapidamente. No Brasil, no primeiro semestre Focus
sedã teve apenas 3,6% de participação; entre os hatches, Cruze, Focus e Golf
vendem juntos só 1.000/mês.
LINDA JACKSON, diretora mundial da Citroën,
estima que o novo C4 Cactus deve responder por 50% das vendas da marca francesa
no Brasil já em 2019. Em visita ao País, ela confirmou ampliação da
internacionalização para depender menos do mercado europeu. China puxará o
ritmo e América do Sul deve representar 10% de participação mundial em 2023.
APOSTA em híbrido
plugável da Volvo se materializa no SUV médio XC60 T8. Motor a combustão (gasolina)
traciona as rodas dianteiras e o elétrico, as traseiras. Desempenho
impressiona: potência combinada de 407 cv. Autonomia puramente elétrica é de 40
km, mas consumo médio em cidade atinge 19 km/litro (20 km/l, estrada), padrão
Inmetro. R$ 299.950, incluído incentivo fiscal.
MITSUBISHI Eclipse
Cross é SUV de estilo audacioso: traços de cupê e parte traseira algo estranha.
Interior bem elaborado. Há dois tetos solares. Entre vários itens de segurança,
destaque para prevenção de aceleração involuntária. Motor 1,5-litro, turbo, 165
cv e câmbio CVT (simula oito marchas) asseguram boas acelerações. Versões 4x2
(R$ 149.990) e 4x4 (R$ 155.990).
SEDÃ Kia Stinger GT
estreia no Brasil com características de esportividade muito interessantes para
um sedã-cupê de quatro portas. Motor V-6 biturbo de 3,3 L, 370 cv, torque 52,2
kgfm a partir de apenas 1.300 rpm, câmbio automático de oito marchas, freios
Brembo e tração 4x4 são especificações inusitadas para a marca sul-coreana. Por
competitivos R$ 399.990.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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