Agosto não costuma ser mês de desgosto em termos de vendas
de veículos, entre outras razões por ter maior número de dias úteis. Julho e
dezembro são os outros historicamente bons. Mas o comportamento do mercado
superou o esperado. No acumulado dos oito primeiros meses, em relação ao mesmo
período de 2017, o crescimento chegou a quase 15%. Especificamente no segmento
de automóveis e comerciais leves, que representam 94% do total, o salto foi de
14,1%. O resultado geral, incluídos caminhões e ônibus, foi o melhor desde
janeiro de 2015.
Os próximos meses, no entanto, terão de ser comparados com 2017,
quando houve forte recuperação sobre o ano desastroso de 2016. É possível,
portanto, que o crescimento anual do mercado não alcance 14%, porém poderá
chegar bem perto disso. Em um ano marcado pela longa greve de 11 dias no
transporte rodoviário e as incertezas do jogo político das eleições, que
cortaram as expectativas de crescimento econômico, pode-se antever que a
indústria automobilística, sozinha, será responsável por cerca de metade da elevação
do PIB em 2018 estimada em 1,5%.
As atenções já se voltam para o próximo ano. Sem saber quem
de fato vai vencer a corrida presidencial, o perfil do novo Congresso e os
rumos da economia brasileira, é difícil estimar como as vendas de veículos se
comportarão. Na semana passada, Automotive Business organizou o Workshop
Planejamento Automotivo 2019, em São Paulo (SP). Embora um novo crescimento
porcentual de dois dígitos no mercado de veículos pareça praticamente certo,
poucos ainda verbalizam essa previsão.
No entanto, Flavio Del Soldato, do Sindipeças espera que em
2023 a produção da indústria automobilística (mercados interno e externo)
atingirá 3,7 milhões de veículos, ou seja, o mesmo volume de 2013. Como esta
coluna já havia comentado, o quarto ciclo de depressão em mais de meio século
do setor se encerraria em uma década. O que se espera depois é um processo de aceleração,
em ritmo autossustentável, em torno de 5% ao ano.
Em curto prazo, produtos demandados pelos compradores continuarão
a sofrer mutações. Pablo Di Si, presidente da Volkswagen, estima que 27% das
vendas, já em 2020, serão de SUVs contra 22% atualmente. Embora ele não tenha
comentado, nesse percentual estão incluídos os “aventureiros”, segmento também
conhecido como pseudoSUV. Di Si limitou-se a confirmar que terá cinco destes
modelos até 2020/2021. Esperam-se, na ordem: os nacionais T-Cross e T-Track
(nome em estudo), o argentino Tarek e dois americanos que seriam a nova geração
do Atlas e seu derivado Cross Sport de perfil mais baixo.
Outro palestrante, Regis Nieto, da consultoria BCG, afirmou
que as grandes mudanças em curso no exterior também se aplicam aqui com as
devidas adaptações. Segundo ele, não se deve esperar que todas as decisões
venham somente das matrizes. O consumidor demandará novos serviços de
mobilidade e quem oferecer as soluções certas obterá grandes resultados.
Talvez Nieto esteja certo. Mas com tantos desafios
simultâneos e dependentes do País entrar nos eixos, passar da teoria à prática
não será nada fácil.
ALTA RODA
MEDIÇÕES de
consumo e emissões em laboratório devem ser referenciadas no uso em ruas e estradas,
a partir deste mês na União Europeia. Processo homologatório longo, porém
necessário. Antigo padrão NEDC, de 1991, agora é WLTP. Para se ter ideia, um
carro elétrico com 560 km de autonomia (NEDC), registra 420 km no WLTP e apenas
385 km no EPA, método usado nos EUA e no Brasil.
FORMA de dirigir
ainda é o melhor aliado para economizar combustível. Muitas vezes mudanças de
hábitos trazem resultados surpreendentes. Renault diz que mesmo em modelos econômicos,
como o Kwid, é possível obter redução de até 20% no consumo. Pode ser checado em
relatórios na central multimídia por meio dos programas Eco Scoring e Eco
Coaching.
KA SEDÃ melhorou bastante em termos de
dirigibilidade graças a reforços estruturais e suspensão revista. Recebe agora
o motor de 1,5 L, três-cilindros e 136 cv, o melhor do mercado entre os de
aspiração natural. Forma um conjunto eficiente com câmbio automático de seis
marchas. Outro acerto: duas entradas USB (iluminadas) de alta intensidade (2,5
A) e nicho para celular. Regulagem elétrica dos espelhos é incômoda.
CAOA CHERY confirmou cronograma para três
produtos novos. O sedã Arrizo 5, a ser produzido em Jacareí (SP), estará à
venda no final de outubro com dimensões semelhantes às do VW Virtus. Dois novos
SUVs serão fabricados em Anápolis (GO), dividindo a mesma arquitetura. Tiggo 4
chega às lojas em dezembro e o Tiggo 7, em janeiro de 2019.
BORGWARNER acredita
que sistemas de 48 V permitirão grandes avanços em hibridização e motores a
combustão bem mais econômicos. Empresa trabalha com projeções da consultoria
IHS, menos otimistas que os governos. Em 2028, 35% a 40% de veículos leves
novos, no mundo, seriam híbridos e apenas 6%, elétricos. Assim, deve-se pensar
mais e delirar menos.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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