Mobilidade é o acesso às oportunidades e inclui três grandes
parâmetros: tempo, distância e dinheiro. A definição precisa foi um dos
destaques da apresentação que a FCA preparou para o dia de abertura do 27º
Congresso SAE Brasil, semana passada em São Paulo (SP). Para a entidade de
engenheiros especialistas no tema soou como música. Essa é uma forma muito
objetiva de se tratar um assunto que domina cabeças pensantes em todo o mundo,
incluindo governos, universidades, indústria automobilística e gigantescos
conglomerados de TI (Tecnologia da Informação). No total, ao longo de três
dias, foram apresentados 116 trabalhos técnicos de profissionais do setor e
acadêmicos.
Um dos maiores problemas das cidades brasileiras é que elas
crescem de forma espraiada e sem planejamento. Ao contrário do senso comum, é
mais fácil administrar os deslocamentos em cidades de alta densidade
populacional. Londres tem 12.300 habitantes/km², Paris nada menos de 21.000 e São
Paulo, 7.300, apesar de seus 11 milhões de habitantes apenas no município (20
milhões na área metropolitana). Aquela concentração permite diluir os altíssimos
custos de construção de metrô para citar apenas o mais eficiente dos meios de
transporte urbano.
O painel dos engenheiros-chefes, destaque do segundo dia,
mostrou ao observador mais atento que as alternativas elétricas a bateria podem
alcançar alguma viabilidade em países de alto poder aquisitivo, com governos
bancando subsídios (não eternos) e prazos otimistas. Há também o caso
particular da China, onde o nível de poluição nas grandes cidades é assustador,
além de a frota circulante crescer sem parar. Lá, ordens têm que ser cumpridas
de cima para baixo sem muita discussão. Algo como é isso ou isso mesmo.
No caso do Brasil, o consenso entre os palestrantes apontou
a utilização do etanol como solução mais adequada do ponto de vista de custos
do que as opções ainda muito caras de eletrificação pura. As dimensões
continentais do País são outro obstáculo para se construir infraestrutura de
recarga. Híbridos com motores flex são uma opção mais barata, entregam
substancial economia de combustíveis e baixíssimos níveis de CO2. Outros
países não têm acesso ao clima, extensão territorial e área agricultável para
produzir etanol de cana.
Na exposição simultânea ao Congresso SAE as novidades cobriam leque amplo de interesse. A Bosch apresentou um sistema de jato de água integrado ao braço do limpador de para-brisa que permite limpeza uniforme, sem dispersão mesmo em velocidades altas. Já usado no passado, agora ficou mais eficiente. Permite aquecimento da água em climas frios, embora exija projeto específico por não ser adaptável a veículo existente.
Também estava lá protótipo de uma roda flexível desenvolvida em conjunto entre a brasileira Maxion e a francesa Michelin para enfrentar buracos e absorver impactos, garantindo maior conforto de rodagem. Ainda não há prazo de estreia, nem estimativa de preço. Outra empresa nacional, a Sabó, demonstrou o sistema de impressão digital para prototipagem alinhado às melhores práticas mundiais.
ALTA RODA
MERCADO de
veículos novos (248.623 unidades) surpreendeu em agosto a ponto de a Anfavea
admitir revisão para cima, no próximo mês, de sua previsão do início do ano de
crescimento de 11,9% sobre 2017. Estoques totais em agosto subiram para 34 dias,
contra 30 em julho. Além de se manter dentro de limites normais, este mês para
compensar terá menos dias úteis de produção.
NEM TUDO são flores. Forte queda de
exportações para a Argentina afetará o nível de produção em 2018. Outros
destinos no exterior dificilmente poderão compensar a crise no país vizinho,
apesar de forte aumento de participação dos veículos brasileiros no Chile,
mercado totalmente aberto ao mundo. Esse cenário poderá arrefecer o alto ritmo
das linhas de montagem em 2019.
VALORIZAÇÃO do
dólar – de R$ 1,67, em 2011 a R$ 4,15, quase 150% – tem sido forte obstáculo
para os carros importados. Abeifa, associação do setor, estimava vendas de cerca
de 40.000 unidades em 2018. Mas o balanço até agosto último indica que será
difícil alcançar tal volume. Ainda assim crescimento de 32% sobre igual período
de 2017 está acima dos 15% da média do mercado.
BRAZIL CLASSICS SHOW, mais importante exposição de antigomobilismo do País, em
Araxá (MG), este ano teve o apoio da Renault que comemora 120 anos de fundação
e 20 anos da fábrica brasileira. Sempre aguardado Melhor do Show, nesta 23ª
edição, coube ao Packard Roadster 1931 (8-em linha, 6.309 cm³ e 120 hp), de
José Luiz Gandini, importador oficial Kia Motors.
MICHELIN importou
para demonstrações em algumas faculdades do País um simulador de capotagem. O
público-alvo principal são motoristas mais jovens para que possam avaliar a
sensação de um acidente dos mais graves. Faz parte de seu programa Best Driver
e um esforço da companhia em prol da segurança viária na Semana Nacional do
Trânsito (18 a 25 deste mês).
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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