Um dos assuntos mais controversos do mês passado foi a revelação de que o Grupo Volkswagen havia comercializado nos Estados Unidos cerca de 482 000 veículos que não estavam em conformidade com os limites de emissões em vigor, valendo-se de um software inserido no módulo de gerenciamento eletrônico do motor para detectar condições-padrão de teste em dinamômetro de rolo e alterar alguns parâmetros para restringir as emissões apenas nessas circunstâncias e assim obter a aprovação. Já em operação normal, emitiam de 5 até 40 vezes mais óxidos de nitrogênio que o valor máximo permitido de acordo com testes independentes executados por uma ONG em parceria com a Universidade de West Virginia.
Abrangendo os anos-modelo de 2009 a 2015, os Volkswagen Golf/Rabbit, Jetta/Sportwagen, Beetle e Passat, e os Audi A3 e A4, em versões equipadas com o motor EA189 2.0TDI Clean Diesel, estão no centro da discórdia. Quando eram identificadas condições de temperatura, pressão ambiente, posição do volante e tempo de funcionamento do motor que denotavam um teste padrão EPA, a proporção ar/combustível era ajustada para ficar mais "rica" e o EGR redirecionava uma maior quantidade de gases de escapamento para a admissão, o que acabava por sacrificar desempenho e economia de combustível mas garantia que os NOx permanecessem de acordo com o máximo permitido pelas legislações americanas. No caso do Passat, que entre os anos-modelo 2014 e 2015 também conta com o sistema SCR, este era programado para funcionar apenas durante a partida até que o software interpretasse condições normais de uso. O valor das multas que a Volkswagen terá de pagar pode chegar a absurdos 18 bilhões de dólares, considerando US$ 37 500,00 sobre cada automóvel comercializado com o motor irregular.
Sem querer bancar o advogado do diabo, no entanto, deve-se considerar outros aspectos mais sombrios por trás da repercussão que o caso teve. Por mais que a Volkswagen tenha infringido deliberadamente as regulamentações americanas, muita politicagem com intenções questionáveis vem sendo levada a cabo, e o que poderia se resumir a uma tomada da Volkswagen como boi de piranha tornou-se uma tentativa de desacreditar o Diesel de um modo geral como uma alternativa economicamente viável para conciliar segurança energética e sustentabilidade. Ou seria mero acaso que a irregularidade tenha sido descoberta num momento de euforia em torno da exploração do gás de xisto nos Estados Unidos, para a qual a EPA faz vista grossa mesmo com o uso de explosivos e solventes que contaminam os lençóis freáticos subterrâneos no processo de fratura das rochas para liberação do gás?
Também há de se considerar o impacto econômico e ambiental que uma "requalificação" dos veículos envolvidos, afinal com o mapeamento de baixas emissões o consumo de combustível é mais elevado que em condições reais de uso. Será que os falsos ecologistas da EPA não se dão conta do efeito-dominó acarretado por uma maior demanda por óleo diesel ou são apenas traidores dispostos a entregar o país deles de bandeja para os sheiks do petróleo? A exploração e o refino já tem um alto consumo de energia que obviamente sofreria um acréscimo, e o transporte do petróleo do Oriente Médio (ou da África e da Venezuela) também está longe de ser "limpo". Assim, as supostas vantagens de um controle de emissões mais rígido ficariam sem efeito.
Até mesmo a ONU, que se tornou um quintal da Liga Árabe, andou demonstrando interesse em enrijecer as normas de emissões da União Européia e adotar um padrão de testes de homologação que inclua condições reais de uso, enquanto os países-membros da OPEP estão geralmente defasados no tocante à legislação ambiental. De boas intenções o inferno está cheio, e o "Dieselgate" serve de pretexto para reavaliar alguns rumos políticos e separar o joio do trigo.
Comentários
International Agency for Research on Cancer, que faz parte da ONU, avaliou de 1988 até 2012 o efeito das emissões dos veículos diesel e provou que é cancerígeno. As regras rígidas nas emissões de óxido de nitrogênio é uma forma de tentar reduzir a ocorrência de câncer de pulmão e bexiga. A lei brasileira que obriga o uso de catalisador e arla32 não é para proteger o meio ambiente como se diz por ai. É para reduzir os custos do SUS com tratamento caro e problemático.
Aqui tem o press release de 2012 com as conclusões dos estudos de longo prazo da IARC
http://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2012/pdfs/pr213_E.pdf
Violar as normas de emissão de poluentes é muito mais do que ameaçar bichinhos, passarinhos e outras coisas fofas da natureza. Emitir poluentes é uma ação contra a vida do ser humano. Eu acredito que falta a mídia nacional tratar sobre esse assunto de forma ampla. Tem muito caminhoneiro colocando água no tanque de ARLA32 e removendo o catalisador porque acreditam que é só para proteger floresta e insetos, coisa de ecochato. Eles não tem noção do risco a saúde humana. Principalmente os pequenos veículos de entrega nas grandes cidades. Esses são os grandes vilões.
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