Óculos inteligentes à procura de clientes


Até agora a ideia dos óculos Google, que usam microcâmera, recursos de realidade virtual e interação com telefone inteligente, não vingou. Tanto que a empresa decidiu reavaliar o projeto e estuda uma segunda geração. Existe também preocupação com a intimidade das pessoas que podem ser filmadas sem autorização.


Mas o conceito mostra aplicação potencial para motoristas, pois o carro é um ambiente mais privativo. Pelo menos assim pensa a MINI, marca da BMW, que apresentou um protótipo no recente Salão de Xangai. Ele se assemelha aos antigos óculos usados por pilotos nos primórdios da aviação de cabine aberta. Ainda não há previsão de lançamento deste acessório de visão aumentada. Se produzido em grande escala, teria preço estimado de um telefone inteligente topo de linha.


Foram citadas sete funções agregadas, a começar pela possibilidade de programar o destino antes mesmo de entrar no veículo e transferir a navegação, inclusive imagens dos pontos de partida e destino. Informações sobre velocidade e seus limites na via são projetadas acima do perímetro do volante, sem ocultar os veículos à frente. Realidade aumentada cria setas virtuais de auxílio à navegação, pontos de interesse ao longo da rota e até espaços livres para estacionar e assim manter o motorista focado no tráfego.


Pequeno ícone aparece no caso de mensagem ou torpedo e pode ser ouvida nas hastes dos óculos, se autorizada por meio de um botão no volante. Visão de raios-X através de portas e colunas dianteiras por meio de microcâmeras instaladas externamente é reproduzida de tal modo a revelar objetos e áreas externas encobertas. Outras microcâmeras nos espelhos permitem monitorar a distância até a guia para evitar raspar as rodas e pneus em manobras de estacionamento.


Entre possibilidades imaginadas está projetar no alto do para-brisa, no lugar onde fica a faixa degradê, textos para quando se está parado em congestionamentos. Poderia incluir até a história da marca do carro. Um escâner de raios infravermelhos ajudaria a localizar no escuro botões e comandos no teto do carro sem necessidade de ligar a iluminação interna, por vezes incômoda.


Ainda há alguns problemas a resolver. É preciso equacionar a exata posição dos óculos para ter as imagens identificadas perfeitamente com o mundo real, pois movimentos da cabeça, mesmo os menores, podem formar borrões para um lado ou outro e de cima para baixo. Exige, portanto, configuração prévia e calibração, antes de pendurá-los nas orelhas.

Embora não seja uma tecnologia madura para a vida prática dos automobilistas, a Sony e a Microsoft também desenvolvem acessórios com expedientes de realidade aumentada que podem ser embutidos em óculos.

Na verdade este conjunto de equipamentos chamados de “vestíveis”, a exemplo dos relógios de pulso inteligentes, ainda precisam passar pelo crivo de aceitação por parte dos consumidores. Não se tem certeza se cairão nas graças de todos, a um preço razoável, ou se as baterias logo se esgotarão como já acontece com os telefones celulares com muitos recursos.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).




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