Embora o entusiasmo revelado por alguns fabricantes sobre a possibilidade de, a partir de 2020, ter início a era dos carros de direção autônoma, em que o motorista só vai dirigir se for seu desejo, ainda há vários obstáculos técnicos, de legislação e até de comportamento a superar. Antes disso, há necessidade de regulamentar e implantar uma nova tecnologia essencial conhecida como V2V (sigla inglesa para veículo a veículo,) que permitirá uma verdadeira e extensa comunicação entre automóveis e destes com a via.
O Departamento de Transportes (DOT, em inglês) e a Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA, em inglês), ambos dos EUA, acabam de se unir para propor uma legislação específica que entrará em vigor em 2016. Sem uma série de protocolos, regulação do espectro de ondas magnéticas, confiabilidade, privacidade, custos e, principalmente, segurança nada poderá avançar. Sem isso não existirá o veículo autônomo.
Aspectos importantes de como evitar colisões e/ou atropelamentos estão mais próximos de alcançar em larga escala os carros comuns desde já. Tecnologia V2V tem potencial de se fundir aos vários recursos hoje já existentes – desde controle adaptativo de velocidade de cruzeiro até o alerta de mudança de faixa – e proporcionar um grau de proteção quase absoluto envolvendo todos os carros em circulação. Por isso, o potencial de chegar a praticamente zero em acidentes de trânsito há muito deixou de significar peça de ficção científica, apesar do longo tempo de desenvolvimento ainda necessário.
Haverá etapas a superar. Segundo o DOT e a NHTSA, apenas o Assistente de Conversão à Esquerda (ACE) e o Assistente de Movimentação em Cruzamentos (AMC) poderiam evitar quase 600.000 acidentes e poupar 1.100 vidas naquele país, anualmente. ACE adverte o motorista que não avaliou bem distância e velocidade de um veículo em sentido contrário e o AMC avisa que existe alta possibilidade de colisão com um ou mais veículos independentemente de semáforo.
A partir do momento que todo o parque circulante dispuser da tecnologia V2V, em vez de uma simples luz piscando no quadro de instrumentos ou sinal sonoro, o sistema poderá inibir o avanço do carro com potencial de causar acidente. Informações trocadas entre veículos se limitarão a dados básicos de segurança, sem identificação que ameace a privacidade dos envolvidos.
Na Europa trabalha-se em projetos semelhantes entre eles o RACE, acrônimo em inglês para Ambiente Computacional Automotivo Robusto e Confiável para o Futuro Eletrônico dos Carros. Hoje, um automóvel comum pode conter até 70 sistemas de controle, incluídos os de segurança, sem contar milhares de subfunções, tudo interagindo. Intenção do RACE é criar uma única arquitetura computacional centralizada e padronizada.
Enfoque se aproxima dos sistemas sem fio e de outras tecnologias existentes nos aviões. Permite designar rápido e facilmente novas funções, além de disponibilizar atualizações à semelhança dos telefones inteligentes. Trata-se de ferramenta de conectividade essencial para carros autônomos e segurança do tráfego.
Futuro sem acidentes será muito bem vindo.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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