Nessas últimas semanas as pouquíssimas fronteiras automobilísticas que, teoricamente, ainda existiam para separar mercados e mesmo marcas foram fortemente abaladas. E isso aconteceu dos dois lados do norte do Oceano Atlântico. Os protagonistas foram Ford e Mercedes-Benz e os carros o novo Mustang (vendas começam agora nos EUA) e o completamente repensado Mercedes-AMG GT (disponível na Europa no primeiro trimestre de 2015). Ambos estarão no Salão do Automóvel de São Paulo e serão comercializados aqui dentro de até um ano e meio.
Começando pelo Mustang que ganhou passaporte para ser vendido em qualquer parte do mundo por rede própria do fabricante. Antes o modelo responsável há 50 anos pela criação da classe de carros americanos “musculosos” ficava restrito às fronteiras nacionais ou importações por clientes individuais. Quando se apresentou à imprensa em dezembro de 2013, o conceito de fato tinha evoluído, sem rompimento drástico com os traços originais de 1964. E para incrementar o potencial de vendas, na Europa em especial, oferece um motor turbo de quatro cilindros 2,3 L/310 cv.
Ao guiar o carro, semana passada em Los Angeles (EUA), o primeiro contato foi justamente com este motor. É ruidoso, como esperado, mas o desempenho está coerente com a proposta de gastar menos combustível. O comportamento dinâmico evoluiu bastante graças à suspensão traseira independente (pela primeira vez) e a direção eletroassistida que surpreende pela precisão de resposta. Há ainda um motor V-6/3,7 l/304 cv. Manteve a tradição de 2+2 lugares, ou seja, atrás só espaço para crianças.
Mustang, no entanto, é sinônimo de V-8 e, claro, a versão para o Brasil terá câmbio automático de seis marchas. Cerca de 100 kg a mais de peso ficam evidentes já ao volante, mas o ronco provocante do motor e sua elasticidade fidelizam fãs. De um 5-litros aspirado obter 441 cv demonstra superioridade sobre rivais como o Camaro (6,2 L/406 cv), além de se poder escolher entre três modos de desempenho/dirigibilidade. Se importado hoje, estaria na faixa de R$ 240 mil.
A Mercedes-Benz também pulou fronteiras com o AMG-GT até ao retirar o nome Benz de seu novo superesporte. Se a referência de prestígio e sucesso é o Porsche 911 por que não se inspirar nas suas linhas traseiras, por exemplo? O carro é, de fato, superlativo, mas ainda sem preço definido. Estima-se que a versão GTS – motor V-8 biturbo/4L/510 cv – custaria 10% menos que os US$ 150 mil do 911 Turbo nos EUA.
Não se trata de substituição do descontinuado SLS AMG, que era ainda mais caro, mas o Mercedes AMG-GT se destaca por soluções técnicas refinadas e nada usuais no portfólio da marca. Tudo é novo, a começar pelo chassi em alumínio, tampa do porta-malas em aço e teto em compósito de fibra de carbono. Motor dianteiro entre-eixos e transeixo (câmbio e diferencial juntos) traseiro levaram a uma distribuição de peso de 47% na frente e 53% atrás. A fábrica garante que será referência em dirigibilidade entre os melhores carros esporte, mas por ora houve apenas apresentação estática. O carro tem interior aconchegante, ergonomia excelente, além de quatro saídas de ar centrais e mais duas nas extremidades. Porta-malas é bem amplo para um 2-lugares: 350 litros.
RODA VIVA
DEMOROU só nove meses para VW confirmar acordo com sindicato de metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) e repor 900 empregos que se foram com a Kombi. Novo Jetta será produzido no segundo trimestre de 2015, em operações um pouco além de montar kits importados e motor/câmbio nacionais. Baseado no Golf 6, não precisava ficar no Paraná, de onde sairá Golf 7.
CHEVROLET S10 entrou na era do motor flex e injeção direta etanol/gasolina. Embora por razão de preço mais baixo o anterior 2,4-L/147 cv (etanol) de injeção indireta permaneça, a nova unidade ganhou bastante em potência específica. Agora são ótimos 206 cv/27,3 kgfm (etanol) para 2,5 L. Preços: R$ 86.400 a R$ 103.700 (4x4). Mais em conta que versões Diesel.
FALTA pouco para Jaguar Land Rover confirmar produtos da sua nova fábrica de Itatiaia (RJ). Escolha natural é o sucessor do Freelander, Discovery Sport, que estreia essa semana no Salão do Automóvel de Paris. Nos planos também o Jaguar XE, novo rival do Série 3 e do Classe C. Falta decisão sobre o Evoque, Land Rover mais vendido no País.
PRESSIONADA por cota de apenas 3.000 veículos importados por ano, Volvo e sua proprietária chinesa Geely estudam ter fábrica no Brasil. Ambas negam, mas talvez não haja alternativa para concorrer em um mercado que, apesar de queda recente, estará entre os quatro ou cinco maiores do mundo no fim desta década.
CÂMBIO automatizado de uma embreagem, pelo preço mais baixo, tende a se firmar. No VW up! já representa em torno de 20% das versões em que a opção é oferecida. No pesado trânsito urbano, com pequena adaptação no modo de dirigir, o up! automatizado passa marchas sem grandes incômodos. Mas não tem conforto de automático, claro.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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