Por muito tempo ainda as grandes cidades do mundo terão de conviver com os problemas de emissões de sua frota circulante. Os parâmetros são difíceis de estabelecer entre o viável, técnica e economicamente, e as exigências de ambientalistas. Esses sempre querem metas exageradas, como se nenhum progresso tecnológico tivesse sido feito em décadas de contínua evolução que resultou em nítida melhora da qualidade do ar.
Há exemplos claros, como Los Angeles, nos EUA, e mesmo São Paulo, que avançou em relação a 20 ou 30 anos, apesar do grande aumento de veículos. Em Paris, recentemente, um embate menos técnico do que político levou ao rodízio emergencial 50% da frota, porém suspenso antes de afetar os 50% restantes, no segundo dia. Referências da OMS (Organização Mundial de Saúde) são, obviamente, rígidas e aceitas em países de alto poder aquisitivo e populações de idade avançada. Médicos cumprem o papel de minimizar riscos; não precisam fazer contas.
Seminário de Emissões 2014, organizado em São Paulo pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), debateu este tema. Discutiu-se harmonização de regras antipoluição (Nota Verde) e de eficiência energética (redução de consumo) do programa Inovar-Auto. Ao homologar há que se verificar se a versão do modelo cabeça de família em termos de emissões é a mesma que apresenta o menor consumo. Uma sugestão seria dispensar modelos eficientes de nova certificação complexa e onerosa.
Por outro lado, se notou alguma resistência em aumentar custos com adoção de sistema a bordo do veículo para recuperação de vapores no abastecimento em postos. Menor reatividade do etanol na atmosfera, utilizado em larga escala no Brasil (sozinho ou adicionado à gasolina), já ajuda. Este controle, no entanto, beneficia frentistas expostos a concentrações de vapores de hidrocarbonetos cancerígenos como o benzeno.
Especial atenção terá de se dar aos motores com injeção direta de gasolina. Sua capacidade de diminuir consumo (consequentemente emissão de CO2) e aumentar potência/torque vem acompanhada de maior liberação de material particulado. Ou seja, ao seu custo elevado deverá se somar um filtro similar, porém mais simples e barato, aos utilizados em motores a diesel. Apenas o etanol é livre de particulados em sua combustão.
A interrupção da inspeção veicular ambiental no município de São Paulo também chamou atenção. Será restabelecida nos próximos meses com periodicidade anual só para veículos com mais de 10 anos de uso. Até três anos estão dispensados (a exemplo do resto do mundo); entre 4 e 10 anos, inspeção bienal, como no exterior. Motores diesel continuarão com inspeção anual na capital paulista.
Programas experimentais apontaram que 10% mais emissores emitem o mesmo que os 90% menos poluentes. O resultado ambiental seria extraordinário, se a grande evasão não fosse justamente daquele grupo menor pesquisado. Carros com placas de outros municípios, que circulem mais de 120 dias por ano em São Paulo, deverão também passar por inspeção. Uma falha no programa está na ausência de medições com motor em carga, quando rolos mecânicos simulam o mundo real. Motocicletas também teriam que ser inspecionadas todos os anos em função do uso intensivo.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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