Desde a chegada do primeiro automóvel importado chinês, em 2008, o Changhe M100 (rebatizado de Effa M100 pelo importador), o mercado brasileiro foi razoavelmente receptivo, mas as coisas mudaram com o tempo. A falta de tradição se compensava com preços bastante competitivos e modelos sempre completos, com todos os equipamentos mais desejados pelo consumidor. Como os carros são importados do outro lado do mundo, fica difícil mesmo montar uma oferta diversificada de versões.
As dificuldades começaram em razão do novo regime automobilístico Inovar-Auto, que impôs regras protecionistas e induziu importadores a se transformarem em produtores locais. Bom frisar que outros países, a começar pela China, também praticam protecionismo, às vezes de forma disfarçada. Mas, antes mesmo do novo regime, que demorou muito a ser regulamentado, as duas marcas chinesas mais conhecidas, JAC e Chery, já tinham sinalizado a intenção de construir fábricas no Brasil.
Até dezembro do ano passado, a JAC acumulava desde 2011 cerca de 61.000 unidades vendidas. A Chery, que chegou dois anos antes, somava 48.000. São volumes bem abaixo do planejado, motivado pelo encarecimento da importação, acirramento da concorrência e certa seletividade dos compradores brasileiros, agravada pelo mercado em queda, quando se tende a tomar decisões conservadoras com menos ímpeto de experimentar. Isso não impediu que mais marcas chinesas continuassem a se instalar como importadoras, a exemplo da Geely este ano e da Zotye, em breve.
A Chery acaba de inaugurar sua fábrica para até 150.000 veículos/ano em Jacareí (SP), mas a produção só começa no fim do ano. Isso permitiu uma reação firme das vendas nos últimos meses (mais 10.000 unidades até agosto) porque quem compra se sente mais seguro em relação ao comprometimento da marca com o País. No total será investido R$ 1,2 bilhão, que abrange uma unidade de motores e um centro de desenvolvimento técnico e de estilo na mesma cidade.
Os planos incluem exportar para a América Latina, missão cada vez mais difícil para quem enfrenta o assombroso custo Brasil. A nova fábrica pode contar com mão de obra qualificada de imediato, pois a unidade da GM, na vizinha São José dos Campos, dispensou trabalhadores. No entanto, a região está sob jurisdição do mais radical sindicato de metalúrgicos do País. Como isso não existe na China, há o desafio adicional de contratar hábeis negociadores trabalhistas tupiniquins.
Apesar do atraso na construção – que agora atinge a JAC em Camaçari (BA) –, a Chery sai na frente para ampliar sua rede de concessionárias. Também focou no núcleo do mercado, onde as coisas realmente acontecem. Começa com o compacto Celer (hatch e sedã), seguido pelo subcompacto a ser reformulado QQ (maio de 2015) e o sucessor do SUV compacto Tiggo no começo de 2016. Todos já foram precificados com antecedência de modo que se mantêm na faixa atual de R$ 32.000, R$ 24.000 e R$ 52.000, respectivamente.
Chery e JAC almejam conquistar, cada uma, 3% do mercado brasileiro de veículos leves até 2018. Além de precisar “combinar” antes com os adversários, parece meta ambiciosa demais no cenário atual com 60 marcas se engalfinhando para conquistar clientes.
RODA VIVA
INÍCIO agora de produção do Golf no México permitirá aumento gradual da oferta do modelo aqui, em especial se a partir de março de 2015 se ampliarem cotas de importação. Hoje a VW pratica subsídio ao trazer o modelo da Alemanha com todos os impostos. Produção no Paraná começa no terceiro trimestre de 2015 com especificações da versão mexicana.
MARCADO para outubro próximo a produção do sedã compacto Versa, na fábrica da Nissan em Resende (RJ). Receberá atualizações importantes para deixá-lo em melhor condições de competir do que a versão anterior. Coincidência – ou não – Livina e Grand Livina, já em cadência bem lenta, param, no mesmo mês, de ser fabricados.
DECISÃO correta do importador de oferecer apenas a versão Sport do Suzuki Swift. Esse hatch seria mais um na “multidão”, sem o motor de 1,6L/142 cv que permite esticar marchas na região de 7.000 rpm. A Sport R – deve ser a mais vendida apesar do preço quase fora de giro de R$ 81.990 – tem bancos bons, muito equilíbrio em curvas e freios potentes.
KIA produzirá no México, no primeiro semestre de 2016, o Soul, o Sportage e o compacto Forte. São fortes (perdão do trocadilho) candidatos a exportação ao Brasil, quando se retomar o acordo de livre comércio entre os países. Nos últimos tempos os mexicanos atraíram fábricas da Audi, Mazda, BMW, Honda e Mercedes-Benz por sua competitividade.
PODE acabar a farra de fabricantes europeus pousarem de recordistas em consumo de combustível. Novos regulamentos exigirão que o atual ciclo de testes, brando demais, seja comprovado em ruas e estradas. Provavelmente, se adotarão fatores de correção, como ocorre nos EUA e também no Brasil, onde os ciclos teóricos já eram severos e ainda foram corrigidos.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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