Otimismo discreto, após cinco anos de queda contínua nas vendas do mercado europeu, marca o Salão do Automóvel de Genebra. Os fabricantes apostaram nessa recuperação, que demorou a cruzar o Atlântico, pois os EUA já vinham em ritmo de forte reação ao desastre financeiro de 2008. Prova disso foi a apresentação de mais de 20 carros-conceito.
Até o próximo dia 16, será possível ver que a conectividade nos automóveis, além de irreversível, caminha a um ritmo mais rápido que o esperado. A rivalidade entre gigantes nos telefones inteligentes e tabletes passa agora para o interior dos veículos. Apple, Google e Microsoft se convenceram de que as telas nos painéis e consoles são a melhor extensão para aplicativos dos quais as pessoas não querem se separar em horas no trânsito ou viagens. Para o Car Play a Apple já fechou 15 parcerias, mas o Google está na cola.
SUVs e crossovers compactos puxam a lista de novidades entre os conceituais da mostra suíça. Destaque para o Volkswagen T-ROC. Apesar de ter apenas duas portas e teto removível, pouco críveis de se tornarem reais, indica o novo estilo diferenciado da marca no Tiguan, Taigun (a ser fabricado no Brasil) e no próximo derivado do Polo. Hyundai Intrado, ainda mais audacioso, também fornece pistas sobre o inédito SUV compacto brasileiro e o sucessor do ix35.
Ainda nesse segmento o Citroën C4 Cactus, na versão definitiva, chega ao mercado europeu no segundo semestre e ficou bem próximo ao conceito apresentado em outros salões. Sua arquitetura igual à do Peugeot 2008, que terá produção brasileira no final do ano, abre a mesma possibilidade aqui.
Subcompactos econômicos formam outro segmento em alta. Novo Renault Twingo, de motor traseiro e soluções práticas, chamou atenção pelo perfil semelhante ao do Fiat 500. Não terá vida fácil para enfrentar seu futuro sócio de projeto, o smart, além do renovado trio dos irmanados Toyota Aygo, Peugeot 108 e Citroën C1.
Muitos olhos sobre o Jeep Renegade, embora partilhe o que não se vê com o Punto e o monovolume 500 L, além da produção na Itália. Conforme essa coluna antecipou, será o primeiro produto da nova fábrica do grupo ítalo-americano em Goiana (PE), mas haverá ainda uma derivação Fiat com toque brasileiro.
Terceira geração do Audi TT apresenta mudanças sutis. O conceitual TTS, porém, inquieta quem pensava que os 360 cv dos Mercedes Classe A AMG, sacados de apenas 2 litros de cilindrada, era o máximo em termos de potência específica. Não é: fora algum recuo na versão final, a Audi, candidamente, anunciou 420 cv para os mesmos 2 litros!
BMW lançou seu primeiro produto de tração dianteira, Série 2 Active Tourer, monovolume que parece hatch de teto alto. Mas perseguiu a distribuição de 50% do peso em cada eixo, ideal para a dirigibilidade e tradição em todos os seus carros de tração traseira. Como isso é muito difícil quando o trem de força está sobre as rodas dianteiras, teve de se contentar com 50,5% na frente e 49,5% atrás...
A Ferrari, que já adotara pela primeira vez tração nas quatro rodas no modelo FF, agora se rende ao turbocompressor e à redução de cilindrada, no California T. Diminuiu consumo e emissões com o V-8 de 3,9 litros/560 cv.
Lançamentos de supercarros em Genebra continuam, apesar de a Suíça ser o único país onde se proíbem corridas por lei desde o mega-acidente das 24 Horas de Le Mans, na França, em 1955. Novo Lamborghini Huracán, de 610 cv, abusa um pouco menos dos vincos. E o Koenigsegg One:1 rompeu todos os parâmetros: 1.341 cv, além da incrível e inédita relação de 1 kg para 1 cv.
RODA VIVA
DESDE que o sedã compacto anabolizado Peugeot 301 surgiu no Salão de Paris de 2012, especula-se que poderia ser fabricado nas instalações de Porto Real (RJ). Fontes da coluna lembram, porém, que sua produção é cara e não daria para enfrentar o preço de concorrentes do naipe de Logan, Cobalt e Grand Siena.
SEGUNDO estudos da consultoria Ernest&Young, nada menos que 104 milhões de veículos previstos para começar a circular no ano de 2025 terão a bordo recursos de conectividade em diferentes níveis de sofisticação. Isso representaria 88% dos veículos a serem vendidos naquele ano, nos mercados de todo o mundo. Esperamos que, no Brasil, bem antes.
DESENVOLTURA do motor de 3 cilindros/1 litro/82 cv, boa posição ao guiar, recursos úteis (entre eles destravamento elétrico da tampa do porta-malas, que inclui prática divisória) e acabamento superior à média entre modelos pequenos demonstram que o VW up! será ator de peso. Seu preço condiz com o oferecido alto nível de segurança e robustez construtiva.
RELATÓRIO divulgado nos EUA aponta que os custos totais ao longo da vida útil dos carros puramente elétricos são mais altos que os modelos convencionais ou híbridos de desempenho e tamanho similares. Cálculos apontaram que, nos parâmetros de uso lá, os elétricos deixam uma conta final maior de US$ 16.000 a US$ 19.000 (R$ 37.000 a R$ 44.000).
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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