Pesquisas demográficas apontam que a população mundial crescerá dos sete bilhões de habitantes atuais para nove bilhões até 2050, dos quais 70% vão se espremer em enormes conglomerados urbanos. Dessa forma, a mobilidade deverá ser totalmente reformulada. Os próprios fabricantes de veículos deverão repensar a si próprios e até atuar como provedores diretos de serviços de mobilidade para enfrentar o futuro. Uma conferência sobre o tema, organizada recentemente em Londres pela consultoria Frost & Sullivan, concluiu que carros se parecerão mais com robôs, na realidade das megacidades. “Motoristas aos poucos transferirão os controles para sistemas de direção autônoma a bordo. Haverá administração de tráfego de alta precisão, veículos em comboio, uso mais eficiente das infraestruturas e possibilidade zero de acidentes. Uso de energia, emissões, produtividade e tempos de deslocamentos confiáveis serão muito melhores”, segundo Richard Parry-Jones, executivo do Conselho Automobilístico da Grã-Bretanha.
Para ele ocorrerá mudança gradual de combustíveis fósseis para eletricidade, enquanto o progresso das baterias será lento. Motor de combustão interna ainda terá longa vida, mas poderá mudar de função e atuar como um extensor de autonomia altamente eficiente para veículos elétricos.
Alguns conferencistas preveem que a necessidade de possuir um automóvel será bem menor. Cidadãos urbanos poderão confiar em uma combinação de transporte público, bicicletas e mesmo andar a pé. Existirá forte ampliação dos esquemas de compartilhamento de veículos, hoje ainda tímidos, mas que serão particularmente apreciados em dias de intempéries e muito frio ou calor. Para integrar todas essas possibilidades se usarão os celulares inteligentes.
“Telefones inteligentes terão papel chave na mobilidade futura. Eles protagonizarão uma revolução na cadeia de mobilidade”, afirmou Robert Heinrich, da Daimler. Além de facilitar o compartilhamento de carros e bicicletas, ajudarão usuários a encontrar vagas para estacionar e acessar outros meios de transporte. BMW, Ford, Nissan, Renault e Volkswagen também estão apostando nas diferentes opções para deslocamentos em cidades. Na realidade, serão bastante tênues – talvez até desapareçam – as linhas de separação entre transporte público e privado.
Especialistas esperam forte diminuição de interesse pela propriedade de um automóvel. O número de pessoas que aceitariam diferentes esquemas de compartilhamento pode crescer dos atuais dois milhões para 26 milhões, já em 2020. Esse total envolveria uma frota estimada de 500.000 carros. Pesquisas apontam que algo em torno de 30 atividades profissionais seriam exercidas por pessoas que não desejariam continuar donas de um veículo, mas vão querer acesso a um, quando necessitarem.
Nada fácil será para os fabricantes e a sua rede de comercialização e manutenção reformularem o plano de negócios. Problema principal está na constatação de que cada carro compartilhado custará a perda de 10 outros para clientes individuais. Com essa diminuição de escala de produção, é preciso saber de onde surgirá dinheiro para investir em todas as pesquisas de segurança, emissões e novas tecnologias, em uma imensa cadeia de valores envolvida.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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