Nunca se falou tanto sobre engenharia nacional, desenvolvimento e pesquisa em território brasileiro depois que o governo lançou o novo regime para a indústria automobilística batizado Inovar-Auto. Entre 2013 e 2017, são cinco anos corridos para um esforço concentrado em vários objetivos, entre eles eficiência energética, aumento de conteúdo local em autopeças e, especialmente, atrair novos fabricantes, inclusive de veículos premium.
No entanto, a complexidade do programa é de tal ordem que depois de quase um ano de seu anúncio oficial ainda permanecem dúvidas e incertezas. Agora mesmo, foi adiado desta semana para setembro uma parte importante e complicada sobre rastreamento do índice de nacionalização de autopeças enviadas à indústria. Seu viés intervencionista, a lentidão e eventual conflito com regras internacionais de comércio tornam difícil saber se, mesmo bem sucedido, terá valido a pena.
Esse adiamento repercutiu no XXI Simea 2013, simpósio organizado em São Paulo, semana passada, pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). Sob o tema “Inovação e competitividade no novo regime automotivo” foi o mais completo e de maior importância, desde a fundação da entidade em 1984.
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Mauro Lemos, chegou a antecipar os planos da Audi de produzir em São José dos Pinhais (SP). Mas a marca alemã vai esperar até ver a regulamentação final do setor de autopeças e sua integração contábil aos impostos e isenções.
Um ponto positivo foi a confirmação do grande centro de testes (inclusive de colisão contra barreira), consumo e emissões, além de um completo campo de provas, que o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) promete construir em dois anos, em Duque de Caxias (RJ). Por trás desse investimento de peso continua o sonho governamental de surgir uma marca genuinamente brasileira de automóveis, o que no cenário atual parece bem difícil. Em São Bernardo do Campo (SP) há planos de outro grande laboratório para homologações. Nos bastidores do Simea houve quem ponderasse excesso de projetos na área de testes; outros acham que existirá mercado para tudo que vier. Isso mesmo com novos investimentos da Ford e da Fiat para se equiparar a Chevrolet e Volkswagen, ambas capazes de projetar carros no Brasil.
Notou-se crescente nível técnico entre 60 trabalhos e palestras, nos dois dias do evento. Para citar alguns: otimização de sistema de retenção veicular para impacto frontal; avaliação da integridade de ocupantes de picapes em capotagem; dispositivo inovador de assistência para arrancada em rampa; tecnologia de sensoriamento em sistema eletrônico de comando em câmbios automatizados.
Atributos e benefícios da nova gasolina de baixo teor de enxofre (S50), que começa em janeiro de 2014, foram destacados. Simultaneamente, toda a gasolina vendida será aditivada para se alinhar às especificações internacionais, embora a Petrobrás indique dificuldades dessa operação na própria refinaria. Sugere que as distribuidoras o façam, mas a agência reguladora mantém a exigência, o que pode adiar a aditivação por alguns meses.
RODA VIVA
TOYOTA providenciou modificações internas cosméticas na linha Etios 2014, que chega em setembro. Empresa já decidiu: fará intervenções maiores no próximo ano, inclusive novo painel. Por enquanto, melhorou visibilidade dos instrumentos.
INÍCIO de produção do Logan reestilizado sofreu pequeno atraso: ficou para outubro. Hatch Sandero, também reformulado, passou do primeiro para o final do segundo trimestre de 2014.
TERCEIRA geração do Outlander estreia arquitetura toda nova e vários recursos eletrônicos: controle de velocidade adaptativo, frenagem total automática anticolisão abaixo de 30 km/h e sensores de abertura/fechamento da tampa traseira, entre outros. Motor V6/240 cv é algo mais ruidoso do que o desejável, mas economiza 5% de gasolina. Continua o 2-litros/160 cv (2/3 das vendas). De R$ 102.990 a R$ 139.990.
NOVO Fiesta sedã, na versão de topo Titanium, não é tão bom em espaço interno, mas impressiona pela segurança passiva (sete airbags) e ativa (controle de trajetória). Motor de 130 cv (etanol), sem ajuda de gasolina na partida, casa melhor com câmbio automatizado de 6 marchas. Mudanças de marcha seguem padrão americano (troca mais lenta) e não europeu.
PEUGEOT 408 dispõe de caixa automática de câmbio, 6 marchas (da japonesa Aisin), à altura do motor de 1,6 L turbo de 165 cv, e agora também no motor 4-cilindros/2 L/151 cv. Ganhou 1,4 s de 0 a 100 km/h e 0,6 s de 80 a 120 km/h, além de 5% no consumo médio com ajuda de pneus verdes. Mudanças na suspensão também melhoraram dirigibilidade e comportamento em curvas.
CÓDIGO de trânsito prevê multa para pedestres infratores e nunca houve forma de cobrança, alegam. Porém, prefeitura do Rio resolveu multar transeuntes que jogam lixo no chão. Ou seja, vida vale menos que lixo. Realmente, falência do sistema.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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