Segundo a empresa de consultoria de tecnologia ABI Research, de Nova York (EUA), dentro de quatro anos mais de 60% da frota mundial de veículos terá conexão com a internet para navegar por satélite (GPS) ou trafegar dados. Na Europa e EUA o percentual pode chegar a 80%. Inclui até instalação de caixas pretas, semelhantes às de aviões, que ajudarão a esclarecer acidentes de trânsito. Desde já se discutem implicações sobre privacidade e mau uso dos dados armazenados ou captados de forma ilegal.
Embora possa parecer estimativa otimista, sem dúvida a tendência é essa. No caso do Brasil, o crescimento acelerado do uso de telefones inteligentes abre espaço para a internet a bordo de veículos. Rede celular de quarta geração, que estreia agora com velocidade de conexão 10 vezes maior que a melhor atual, será fundamental para expansão de serviços remotos. Terá abrangência e confiabilidade até 2017? Ninguém garante.
Algumas aplicações estão em campo, como Volvo on Call que aciona socorro de forma automática em caso de acidentes por meio de internet e telefonia celular. Outra utilização muito prática e de integração imediata ao dia a dia dos motoristas é o Teleservices, da BMW. Trata-se de avisos de manutenção programada ou corretiva via interação pela internet entre automóvel, fábrica e concessionária.
No Brasil o serviço começou, no fim de 2010, para alguns modelos da marca alemã com tela multimídia e bloco de comunicação (Combox). Em breve toda a linha estará assim equipada. O Teleservices é opcional e segue um roteiro.
– Veículo apresenta manutenção em atraso, item com desgaste ou problema iminente. Rede CAN-Bus interna detecta as falhas e automaticamente cria chamada de reparo, por meio da conexão Bluetooth e internet, de qualquer celular a bordo.
– Chamada chega à BMW, na Alemanha.
– Fábrica verifica componentes necessários e avisa, por meio da rede de dados ISPA, a concessionária brasileira vinculada ao veículo.
– Concessionária, após separar peças aplicáveis ao carro, entra em contato com o cliente por telefone ou SMS.
– Se o cliente aceitar o orçamento, basta agendar dia e hora para manutenção.
Esse esquema é previamente acertado com o dono do carro, que concorda em pagar pelo custo da chamada de dados móveis, mais barata que ligação telefônica. Em pouco tempo a Combox terá chip próprio de celular e funcionará mesmo sem telefone a bordo.
A fábrica eliminará carimbos e anotações em manual de manutenção. Tudo será feito de forma eletrônica e inviolável: por meio de rede Wi-Fi o automóvel, logo ao chegar à recepção da oficina, transmite às telas dos consultores técnicos os serviços a executar.
No fundo, a internet pode até mudar o modelo de negócio das concessionárias. Ao criar vínculo remoto entre carro e fabricante, ficará mais fácil atrair clientes para manutenção na rede autorizada, mesmo após o término da garantia. Por enquanto, se adapta melhor às marcas premium, mas o esquema tende a ser adotado por todos os fabricantes em médio prazo.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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