Embora nos grandes centros urbanos dos países centrais o crescimento da frota seja quase exclusivamente vegetativo, ainda continua a aumentar. Como espaço para ampliação das vias está esgotado, algo precisa acontecer para manter o fluxo de veículos no futuro dentro de parâmetros razoáveis. Até entre os emergentes o problema de circulação vai se agravar ao longo do tempo.
Se não se torna possível alargar ou abrir novas ruas e avenidas, o jeito é diminuir o tamanho dos veículos. Carros estreitos apresentam limites. Há planos da Volkswagen, mas até agora não existe um citadino de produção seriada, de dois lugares, em que o passageiro viaje atrás do motorista, reduzindo de forma drástica a largura. Outra forma é encurtar o comprimento. Mas também aí os ganhos são limitados.
A única dimensão em que os automóveis podem crescer, sem ocupar espaço viário, é para cima. Assim, mais pessoas se acomodariam a bordo, sem agravar tanto os problemas de trânsito. Elevar o teto aumenta área frontal e piora a aerodinâmica, porém não é problema em baixas velocidades dos deslocamentos urbanos.
Agora surge um carro-conceito da visionária empresa suíça Rinspeed. O fundador e principal executivo, Frank Rinderknecht, consegue todos os anos, no Salão de Genebra, apresentar algo novo. Sempre criativo, às vezes propõe coisas que beiram o delírio, mas dessa vez decidiu não exagerar.
Na próxima edição do salão, de 7 a 17 de março, Frank apresentará o microMAX que, para ele, revolucionaria a locomoção de curta distância, capaz de juntar os meios de transporte pessoal e público. “Recursos modernos de compartilhamento de veículos são baseados na internet e em telefones inteligentes, em tempo real. Para ir ao trabalho ou às compras pode consultar quem está disposto a oferecer ou aceitar uma carona. O microMAX oferece flexibilidade única em razão dos bancos que permitem motoristas e passageiros sentar eretos sem causar incômodos em curtas distâncias”, explica.
O carro tem apenas 3,6 metros de comprimento (9 cm menos que um Mille, por exemplo) e espaço amplo para motorista, três passageiros e um carrinho de bebê ou de compras. Com 2,2 metros de altura, permite instalar bancos em que as pessoas viajam quase em pé, sem perder muito conforto, e protegidas por cintos de segurança de três pontos. A sensação é de estar em uma sala de casa, pois inclui máquina de café, minibar refrigerado e sistema completo de conectividade e entretenimento.
O executivo espera que o seu veículo não sirva apenas como táxi, mas também possa atrair pessoas engajadas na ideia do transporte solidário e preocupadas em diminuir os congestionamentos e as emissões de CO2. Ele também imagina que um modelo desse tipo deva utilizar apenas propulsão elétrica. Nada comentou como conseguiria homologar o microMAX sem bolsas de ar e itens de segurança passiva.
Viajar em posição quase em pé ou semissentada surgiu na companhia aérea irlandesa de baixo custo Ryanair. A proposta era diminuir ainda mais as tarifas em voos curtos, ao transportar mais passageiros no mesmo espaço. Até os cintos de três pontos eram semelhantes. A ideia, porém, não prosperou.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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